Memento lues, delenda lues!' A profilaxia e o tratamento da sífilis na Revista de Medicina nos anos 1920

AutorPriscila Bermudes Peixoto - Leonardo Dallacqua de Carvalho
CargoMestranda em História Universidade Estadual de São Paulo, Franca/SP, Brasil. Bolsista FAPESP - Doutorando em História das Ciências e da Saúde - Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
Páginas391-412
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer m, desde que atribua a
autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n40p391
“Memento lues, delenda lues!” A prolaxia e o tratamento da
sílis na Revista de Medicina nos anos 1920
“Memento lues, delenda lues!” Prophylaxis and treatment of
syphilis in the Revista de Medicina in the 1920s
Priscila Bermudes Peixoto*
Leonardo Dallacqua de Carvalho**
RESUMO: O objetivo deste trabalho consiste em analisar as abordagens
sobre a sílis encontradas na Revista de Medicina, com ênfase em reetir
sobre o modo como esta enfermidade era pensada no contexto dos anos 1920,
momento em que a corrente higienista possuía considerável adesão entre os
médicos brasileiros. Entendida como um fator de degeneração, a sílis era
mencionada como consequência de um comportamento impróprio e imoral.
Nesse sentido, objetivamos analisar as discussões em torno de seus tratamentos
e medidas proláticas.
Palavras-chave: Sílis, Medicina, Higienismo, Revista de Medicina.
ABSTRACT: The aim of this paper is to analyze the approaches to syphilis
found in the Revista de Medicina, with an emphasis on reecting on how this
disease was thought of in the context of the 1920s, period when the hygienist
doctrine had considerable membership among Brazilian doctors. Understood
as a factor of degeneration, syphilis was mentioned as a consequence of an
improper and immoral behavior. Thus, we aimed to analyze the discussions
around their treatments and preventive measures.
Keywords: Syphilis, Medicine, Hygienism, Revista de Medicina.
* Mestranda em História Universidade Estadual de São Paulo, Franca/SP, Brasil. Bolsista FAPESP.
E-mail: priscilabermudes1@gmail.com
** Doutorando em História das Ciências e da Saúde - Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro/RJ, Brasil. E-mail: leo.historiaocruz@gmail.com
Artigo
392
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 40, p. 391 - 412, dez. 2018.
Introducão
“Memento lues” é a phrase que deve sempre sôar aos
ouvidos do clinico; “delenda lues” é a tarefa momentosa
do medico e do higienista.1
Com estas palavras o catedrático da Faculdade de Medicina de São
Paulo, Celestino Bourroul apregoava um discurso recorrente nas primeiras
décadas do século XX no Brasil, a grande preocupação com a sílis, vista
como mal social e considerada como fruto de comportamento imoral. Para os
médicos higienistas não bastava curar aqueles acometidos por tal enfermidade,
era preciso investir em medidas proláticas, que acabavam, por sua vez,
envolvendo mecanismos de controle social. Como armava Bourroul era
preciso “lembrar-se” da sílis constantemente, sendo uma doença perigosa
que acarretava, supostamente, tantos outros males, os médicos não poderiam
vacilar em relação à mesma. Era primordialmente necessário também “destruí-
la”. Dado isso, pretende-se neste texto analisar a compreensão da sílis,
sobretudo na década de 1920, por meio dos artigos publicados na Revista de
Medicina, trazendo uma abordagem dos modos de prevenção e de tratamento
dessa doença.2
Sílis, higienismo e medicina em São Paulo no início do século XX:
Na segunda metade do século XX a historiograa passou por um
processo de abertura a novos campos e objetos, diversicando suas fontes
e metodologias, nota-se também uma maior preocupação com os aspectos
sociais e modos de sentir. A história das mentalidades, por exemplo, ia
ganhando um peso cada vez maior, assim como abordagens sobre o corpo, a
família, as relações entre os sexos, etc. Nesse sentido, possibilitou-se também
a historiograa reetir sobre as doenças, logo, estas deixaram de ser objeto
exclusivo da medicina e puderam ser problematizadas pela História3, para
análise desta temática muitas vezes se faz necessário estabelecer uma relação
com a História das Ciências ou a História das Ideias4. Por este motivo, ao
pensarmos a trajetória da sílis nos anos 1920 é necessário termos em vista
as correntes cientícas em voga neste período, uma vez que a amplitude da
sílis ganhou diversos enfoques no século XX, sendo inclusive, abordada por
Ludwik Fleck na teorização dos estilos e coletivos de pensamento.5
Conforme procuraremos demonstrar neste artigo, o higienismo possuía
um discurso particular em torno da sílis, encarada como doença própria de
um comportamento desregrado e imoral, que comprometia, supostamente com
base na crença de sua hereditariedade, não só o próprio enfermo como também
toda sua descendência. Logo, este trabalho se propõe a sondar os discursos

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT