MARCOS, Alfredo. Filosofía de la naturaleza humana. Tradução por

AutorJavier Ignacio Vernal
Páginas369-396
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2013v10n1p369
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
FILOSOFIA DA NATUREZA HUMANA1 2
FILOSOFÍA DE LA NATURALEZA HUMANA
PHILOSOPHY OF HUMAN NATURE
TEXTO DE ALFREDO MARCOS
APRESENTAÇÃO
Apresentamos a seguir a tradução de um texto originalmente publicado em
espanhol por Alfredo Marcos, docente de Filosofia da Ciência na Universidad de
Valladolid. O texto aborda o ressurgimento contemporâneo da discussão sobre a
natureza humana, suas possíveis causas, e a importância de tal conceito para
avaliar a intervenção técnica atual sobre o ser humano. O autor propõe que a busca
por um conceito de natureza humana adequado a nossas capacidades técnicas
atuais deveria começar pelas tradições kantiana e aristotélica.
Agradecemos muito ao autor pela permissão para publicar esta tradução.
Javier Ignacio Vernal
FILOSOFIA DA NATUREZA HUMANA
MARCOS, Alfredo. Filosofía de la naturaleza humana. Eikasia. Revista de
Filosofía, Oviedo, ano VI, n. 35, p. 181-208, Nov. 2010.
Hoje em dia, o dever primeiro e talvez único do filósofo é defender o
homem contra si mesmo: defender ao homem contra essa
1 A tradução do texto para a língua portuguesa é de Javier Ignacio Vernal, doutor em Bioquímica pela
Universidad de Buenos Aires, UBA, Argentina, graduado em Ciências Biológicas pela Universidad de
Buenos Aires, UBA, Argentina, graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina,
UFSC, professor visitante do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, SC,
Brasil. E-mail: jivernal@gmail.com
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.10, n.1, p. 369-396, Jan./Jul. 2013
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extraordinária tentação em direção à inumanidade a que tantos seres
humanos têm cedido quase sem se dar conta disso (Gabriel Marcel)
1 INTRODUÇÃO
O conceito de natureza humana conta com uma longa e polêmica tradição
filosófica. Alguns pensadores têm negado diretamente que tal coisa exista. Mais
ainda, poderíamos dizer que esta negação tem sido a moda intelectual dominante
durante boa parte do século passado. No entanto, recentemente tem aparecido uma
corrente de recuperação e revitalização da reflexão filosófica sobre a natureza
humana. Essa recuperação se deve a dois fatores. Por um lado, têm crescido
nossas possibilidades de intervenção técnica sobre o próprio ser humano, o que tem
gerado um debate sobre a conveniência e limites de tal intervenção. E no centro
desse debate está o conceito de natureza humana. Por outro lado, a recuperação
desse conceito veio junto de uma tendência mais geral em direção à naturalização
da filosofia. Teríamos assim uma espécie de “concepção naturalista da natureza
humana” (MOSTERÍN, 2006, 23), apesar da aparente redundância.
Assim, o estudo da natureza humana teria passado do campo da antropologia
filosófica ao da filosofia da natureza. Ou talvez, em outras palavras, a antropologia
filosófica agora teria que ser enxergada como uma região da filosofia da natureza.
Essas teses são tão problemáticas quanto o próprio projeto geral de naturalização
da filosofia.
Os dois vetores assinalados, isto é, a capacidade de intervenção técnica e a
naturalização, estão relacionados entre si. Uma vez que o ser humano passa a ser
parte da natureza, pode-se pensar que passa também à disposição da intervenção
técnica, como já o estão outras zonas do natural. Em certa maneira, essa
artificialização do ser humano tem estado presente desde tempos imemoriais. Mas
na atualidade pode resultar muito mais profunda e talvez irreversível dado o
desenvolvimento e a convergência de várias tecnologias muito potentes.
Eis aqui o território do presente texto: tentarei deixar ao menos manifestado o
debate sobre a natureza humana, assim como a polêmica acerca da conveniência e
limites da intervenção técnica sobre a natureza humana.
Abordarei essas questões mediante um breve repasso das posições que
negam a existência da própria natureza humana (parte 2). A seguir me focarei na
ideia de naturalização e disponibilidade técnica (apartado 3). Apresentarei duas

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