Manifesto das mulheres camponesas à IIª Conferência Mundial da Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural (FAO)

AutorCadernos do Ceas
Páginas97-99
DOCUMENTO
MANIFESTO DAS MULHERES CAMPONESAS
À IIª CONFERÊNCIA MUNDIAL DA REFORMA AGRÁRIA
E DESENVOLVIMENTO RURAL (FAO)
Somos Mulheres Camponesas, filhas desta terra brasileira, que 500 anos
vem sendo regada com suor, sangue e muito trabalho de tantas gerações de
mulheres e homens de diferentes etnias. Mesmo com todas as lutas de
resistência dos povos indígenas, negros e brancos pobres, nosso país continua
sendo um território para extração de riquezas que alimentam os lucros de
grandes grupos capitalistas. O Brasil está longe de ser uma nação livre e
soberana. Neste 8 de março, durante a realização desta IIª Conferência
Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, inspiradas pela
história de mulheres do mundo inteiro que morreram na luta pela vida, nos
manifestamos contra todas as formas de violência e exploração que sofremos
no Brasil, como parte do povo pobre, como camponesas e como mulheres. E,
sobretudo, reafirmamos o compromisso com a luta por uma sociedade
socialista, sem desigualdades de classe, gênero e etnia.
Para os capitalistas, a terra, as águas, as sementes, o ar, as matas são
recursos que devem ser explorados conforme seus interesses econômicos.
Para nós, camponesas e camponeses, estes elementos da natureza são a
base da vida, são riquezas que não têm preço, por isso não podem ser
mercantilizadas. Em nome do desenvolvimento, do progresso e da
modernidade, o capitalismo avança sobre o mundo desrespeitando limites, leis,
colocando em risco a vida de todos os seres vivos, inclusive da humanidade.
As empresas capitalistas, com a conivência da maioria dos governos,
transformaram a agricultura num negócio, no agronegócio, e se apoderaram de
nossas riquezas naturais, de nosso território, utilizando-os como mercadorias
descartáveis, e converteu nossa população em “mão-de-obra barata” para ser
explorada, além de utilizar o trabalho escravo em várias regiões do Brasil.
Marchamos rumo à Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e
Desenvolvimento Rural (CIRADR) porque:
1. Somos contra o domínio autoritário de empresas multinacionais e as
políticas dos bancos e instituições internacionais especialmente a
Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial (BIRD), o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) – assumidas pela maioria dos governos do mundo, que transformam
nossos países em servos do processo de acumulação de capital e globalizam
cada vez mais a pobreza, principalmente entre mulheres e crianças;
2. Exigimos Reformas Agrárias Integrais, que sirvam de base para a
construção da soberania alimentar dos países. A produção agrícola deve ser
orientada pelas necessidades e pelos hábitos culturais de cada povo, não
pelas metas de lucro de meia dúzia de grupos multinacionais;
3.. Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto,

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