Lutas sociais e Serviço Social: sobre sementes e frutos

AutorMauro Luis Iasi
CargoProfessor Adjunto da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ)
Páginas147-149
EDITO RIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 147-149, jul./dez. 2013
147
Lutas sociais e Servo Social: sobre sementes e frutos
Mas é nelas (bocas e mãos,
sonhos, greves e denúncias)
que te vejo pulsando,
mundo novo,
ainda que em estado de soluços
e esperança.
Ferreira Gullar
As ruas explodem no Brasil em rebeldia e indignação surpreendendo àqueles que acreditavam na paz das
aparências, desconsiderando as contradições que germinavam sob o manto ideológico do transformismo e da cooptação.
Os protestos que se alastram marcarão uma nova fase da conjuntura brasileira, mas, certamente, trazem
um fenômeno muito conhecido para aqueles que estudam nossa sociedade na perspectiva das lutas sociais e
não se renderam à sedução pós-moderna da fragmentação e do elogio à aleatoriedade.
As diferentes manifestações particulares das contradições da ordem capitalista que se expressam na
exploração do trabalho, na opressão que marca as relações entre homens e mulheres, no racismo, na destrui-
ção ambiental, na homofobia, nas condições de moradia, na ocupação do espaço urbano e tantas outras, ao
contrário de negar a força estruturante da sociedade do capital comprova sua plena generalização.
Nunca como hoje foi tão necessária a categoria de totalidade, no entanto não nos basta sua mera
afirmação contra as pretensões de um pensamento voltado ao particularismo do acontecimento preso à
pseudoconcreticidade dos fenômenos. A totalidade é sempre um universal vazio se não compreendida como
movimento que o leva até o universal concreto por meio das particularidades que o compõe.
A luta de classes que brota das contradições fundamentais da ordem do capital se expressa em uma
diversidade de formas para as quais nem sempre é tão simples estabelecer os nexos com o todo. Como já disse
Lukács, não é o filósofo que coloca estas contradições no mundo, portanto, não pode lançar um olhar arrogante
sobre as pequenas lutas do mundo e as desprezar.
Em se tratando do Serviço Social, o nexo que liga as diversas formas particulares das contradições de
nossa época histórica e as determinações mais gerais que se encontram em sua base, torna-se algo de essencial.
Não apenas pelo fato de que assim se materializa o objeto central de nossas reflexões, a chamada “questão
social”, mas porque queremos compreendê-la na dinâmica da luta de classes e na perspectiva da emancipação.
Os movimentos e lutas sociais encontram-se exatamente na tensão que marca os limites e possibilidades
desta emancipação. Todas nossas lutas tem que obrigatoriamente se dar no interior de uma determinada ordem,
seja na forma das relações sociais de produção dominantes, seja nas formas políticas e jurídicas que são suas
expressões, assim como no interior de uma certa forma de consciência social que lhes corresponde. Mesmo
aqueles que lutam revolucionariamente contra o estabelecido querendo buscar os caminhos radicais de sua supe-
ração não tem outro meio que não construir o futuro com os materiais que encontramos em nosso presente.
Para o Serviço Social que afirma seu compromisso ético-político no horizonte da emancipação humana
esta é uma questão das mais importantes: como atuar nas lutas no interior da ordem que se limita, e, por vezes,
está mesmo aquém da mera emancipação política, sem perder a meta da emancipação humana?
Assim, para nós, mais do que marcar a diferença substancial entre uma luta social nos limites da ordem
existente e aquelas que apontam para a sua superação, nos interessa o movimento real que leva de uma a
outra. A mediação fundamental deste movimento se encontra no cotidiano. É nele que vivemos as relações que
materializam a ordem da mercadoria e do capital, nascendo em uma determinada forma de família, educando

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