Lutas e formas de organização feminina em áfrica: considerações sobre guiné-bissau, moçambique e cabo verde

AutorTatiana Raquel Reis Silva
CargoGraduada em História
Páginas969-985
Artigo recebido em: 15/03/2018 Aprovado em: 16/05/2018
LUTAS E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO
FEMININA EM ÁFRICA: considerações sobre
Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde
Tatiana Raquel Reis Silva1
Resumo
A análise das desigualdades sistêmicas não só entre mulheres e homens, mas
entre as próprias mulheres, tem possibilitado importantes questionamentos
sobre o processo de organização feminina em contextos bem diferenciados da-
queles que marcaram as produções ocidentais. Em África as mobilizações pela
emancipação feminina tiveram lugar nos movimentos de independência; frente
às imposições colonialistas as mulheres buscaram lutar pelas organizações au-
tônomas e os sistemas de autogoverno que controlavam. Essa ativa participação
resultou na criação de ligas feministas dentro dos movimentos de libertação,
cujo objetivo era genderizar as lutas e chamar a atenção para as relações sociais
e de poder ali existentes. Nesse s entido, o presente texto toma como foco de
abordagem o processo de luta e as formas de organização femininas nos países
africanos de fala o cial portuguesa, especialmente, Guiné Bissau, Moçambique
e Cabo Verde, a  m de analisar as estratégias de empoderamento e emancipação
por elas instituídas.
Palavras-chave: Organizações, Mulheres, África.
1 Graduada em História, Doutora em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA), Professora do Departamento de História e Geogra a (DHG) da
Universidade Estadual do Maranhão (UFMA) e vinculada ao Programa de Pós-gradução
em História, Ensino e Narrativas (PPGHEN) da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA), Coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre África e o Sul Global (NEAFRICA).
E- mail:
tatianaraquel.reis@gmail.com
/ Endereço: da Universidade Estadual do
Maranhão - UEMA: Rua da Estrela, nº 329, Centro. São Luís/ MA.
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Tatiana Raquel Reis Silva
STRUGGLES AND FORMS OF FEMALE ORGANIZATION IN
AFRICA: considerations on the Guinean, Mozambican and Cape
Verdean
Abstract
e analysis of systemic inequalities between women and men, but among wo-
men themselves, has made possible important questions about the process of
women's organization in di erent contexts. In Africa the mobilizations for
the feminine emancipation emerged in the independence movements, the colo-
nial impositions demanded that women  ght for the autonomous organizations
and the systems of self-government.  is active participation resulted in the
creation of feminist leagues within the liberation movements and called atten-
tion to the power relations. In this sense, the present text focuses on the process
of struggle and the forms of women's organization in countries of por-
tuguese colonization, especially, Guinea Bissau, Mozambique and Cape Verde.
Key words: Organization, women, Africa.
1 INTRODUÇÃO
Nos países, onde pouquíssimas mulheres, e mesmo p oucos
homens, haviam experimentado a Declaração dos Direitos Huma-
nos, sentiu-se a necessidade de chamar a atenção para realidades de
lutas vividas em contextos diferentes daqueles experimentados no
ocidente. Nos anos de 1980, teóricas dos chamados países em desen-
volvimento, assim como as mulheres negras e indígenas, imigrantes
no Ocidente, começaram a impulsionar questionamentos dentro do
movimento feminista. Os pontos levantados para o debate diziam
respeito às políticas da diferença, não apenas entre as mulheres e
homens, mas entre as mulheres de diferentes raças/etnias, religiões,
classe social, origem, orientação sexual e geração.
Naquela conjuntura o movimento de mulheres passou a ga-
nhar força em vários países africanos. Já nos anos de 1990, é possível
observar o crescimento de trabalhos cujos principais temas versa-
vam sobre colonialismo, masc ulinidades, casamentos e relações de
parentesco, associação de mulheres e lutas nacionalistas, recon gu-
ração dos papéis de gênero, dentre outros. É, sobretudo no contexto
de luta pela independência política, de constituição da identidade
nacional e modernização social, que os movimentos pela emanci-
pação feminina emergem. De acordo com Isabel Casimiro (2004, p.
49), os debates em torno do feminismo e do movimento de mulheres
em África estão situados a partir de quatro frentes:

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