A Linguagem Gerencial Analisada à Luz da Teoria dos Atos de Fala de J. L. Austin: estudo do pensamento de Peter Drucker

AutorDorival De Stefani - Ariston Azevêdo
CargoProfessor visitante da Universidade Positivo. Curitiba, PR. Brasil - Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS. Brasil
Páginas173-190
Artigo recebido em: 4/8/2013
Aceito em: 19/2/2014
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
A LINGUAGEM GERENCIAL ANALISADA À LUZ DA TEORIA DOS
ATOS DE FALA DE J. L. AUSTIN: ESTUDO DO PENSAMENTO DE
PETER DRUCKER
The Managerial Language Analyzed in the Light of the J. L.
Austin’s Theory of Speech Acts: a study of the Peter Drucker’s
thought
Dorival De Stefani
Professor visitante da Universidade Positivo. Curitiba, PR. Brasil. E-mail: dorivaldestefani@gmail.com
Ariston Azevêdo
Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS. Brasil. E-mail: ariston.azevedo@ufrgs.br
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n40p173
Resumo
Neste texto analisa-se a dimensão linguística da ação
administrativa em sua vertente gerencial à luz da
Teoria dos Atos de Fala de John Austin. Tal análise
toma como objeto a obra de um autor clássico da
literatura administrativa sobre o assunto, Peter Drucker,
selecionando, do conjunto de seus escritos, livros que
contribuíram significativamente para o desenvolvimento
da teoria e da prática gerencial. Dessas obras, procurou-
se identificar formas simbólicas caracterizadoras da
prática linguística do gerente. Conclui-se que Drucker
confina e dirige a linguagem e a comunicação do
administrador para a esfera dos objetivos da empresa,
com o fim de obter aquiescência nos empregados.
Palavras-chave: Pensamento Administrativo.
Gerência. Atos de Fala. Peter Drucker. J. L. Austin.
Abstract
In this paper we analyzed the linguistic dimension
of the administrative action in his managerial axis in
the light of John L. Austin’s Theory of Speech Acts.
As an object of analysis we chose the thought of an
author of the management’s classical literature on the
subject, Peter Drucker, that from the set of his texts, we
chose the books that have contributed significantly to
the development of theory and managerial practice.
From them we seek to identify symbolic forms that
characterize the manager’s linguistic practice. We
concluded that Drucker confines and directs the use of
language as well as the administrator’s communication
to the company goals’ sphere, in order to obtain the
compliancy from the employees.
Keywords: Administrative Thought. Management.
Speech Acts. Peter Drucker. J. L. Austin.
1 INTRODUÇÃO
“Fazendo coisas com palavras”
John L. Austin
Não são recentes as reflexões que se voltam
para a figura do administrador com o objetivo de
abordar seu modus operandi, melhor dizendo, a ação
administrativa. É bem verdade que, em sua maioria, a
sistematização dessas reflexões data do final do século
XIX e início do século XX, no seio de um contexto
social singular na história da humanidade, contexto
em que tanto o processo de industrialização quanto o
sistema de mercado ganhavam tons imperativos, ética
e comportamentalmente, individual e coletivamente,
tendo como matriz organizacional aquela de natureza
formal e de caráter econômico.1 Foi esse tipo de orga-
nização que ditou, para os primeiros administrativistas,
as necessidades de design que deveriam ser atendidas,
determinando, assim, o referencial temporal e espacial
sob os quais tecnologia e pessoas teriam que operar.
Decorrem dessas exigências tipos específicos de ação
administrativa e, consequentemente, padrões psico-
lógicos de trabalhadores e administradores2 que lhes
correspondem.
Considerando a história recente do pensamento
administrativo, ou seja, a partir do início do século
XX, é possível dizer que os discursos administrativos,
ao enfocarem a figura do administrador e sua ação,
fazem-no, por um lado, a partir de uma perspectiva
que privilegia a organização como a totalidade social
referente e, por outro lado, a partir de um escopo social
mais amplo, escopo que se define por meio de um cam-
po de interações organizacionais, configurando, assim,
tal conjunto de interações como sendo a totalidade
referente.3 Essa distinção entre os diferentes níveis de
abstração do pensamento administrativo aponta menos
para a unificação discursiva do que para a pluralidade
de discursos, melhor dizendo para a pluralidade de
correntes discursivas de mesma natureza.
Perspectivado a partir do plano organizacional
de análise, o administrador, segundo os discursos que
convergem para a corrente discursiva aqui designada
de gerencialista da administração4, quase sempre é visto
operando dentro de um quadro composto pela tríade
tarefas – pessoas – estrutura, onde lhe cabe a atribuição
de procurar o arranjo ótimo desses elementos, dadas
as condições sob as quais tal arranjo deve ser posto a
operar. Destacam-se, nessa vertente analítica, estudos
que seguem a linha tayloriana, como os do próprio
Taylor (1970), mas também os de Fayol (1916) e
Church (1922). Tal vertente sofreu forte revigoramen-
to com os estudos das funções administrativas feitos
desde meados do século passado, com destaque para
Newman (1951), Koontz e O’Donnell (1974), Drucker
(1964; 1975; 1977) e Jucius e Schendler (1960), e
que, nos dias atuais, sustenta os trabalhos de Stoner
& Freeman (1985), Bateman e Snell (1998) e Montana
e Charnov (1998). Segundo a corrente gerencialista,
a administração é gerência; o administrador é, em es-
sência, um gerente (ou executivo, conforme defendeu
Peter Drucker em seu clássico livro O gerente eficaz), e
sua prática, gerencialista; o conflito organização versus
indivíduo parece não existir, ou está a priori resolvido
em favor da organização.
Ainda dentro do mesmo nível abstrativo, mas sob
outra corrente discursiva, no caso, a vertente lideracio-
nista da administração5, a ação do administrador é vista
como sendo exercida não mais em meio a elementos
mecanomórficos, como na corrente anterior, mas em
um contexto social dinâmico e centrado na psicologia
individual e nas relações sociais internas ao espaço
organizacional, o que proporcionou destacar elementos
como a cultura, os valores e os sentimentos humanos,
estando estes a acondicionar, portanto, o ambiente
primário onde a ação administrativa desenrola-se.
Inegavelmente, a vertente lideracionista tornou-se
mais aparente desde os estudos de Mayo (1933),
Tead (1935) e Barnard (1938), aprofundando-se em
meados do século XX com os trabalhos dos comporta-
mentalistas Tannenbaum, Wescher e Massarik (1961),
Likert (1961) e Schein (1982), e consolidando-se, na
literatura atual, por meio de textos como os de Bennis
e Nanus (1988), Kets de Vries (1997) e Kotter (2000).
Denominada também como corrente humanista do
pensamento administrativo, esta vertente sustenta ser
a liderança uma atividade distinta, por vezes de modo
radical, da gerência, dado que objetiva “[...] a criação
de uma comunidade humana que se mantém unida
através do trabalho em nome de uma causa comum”
(BENNIS, 1996, p. 12). Embora o conflito organização
versus indivíduo exista, o mesmo é concebido como
possível de ser superado, por meio da integração de
interesses, já que a relação líder–liderado é suposta-
mente estabelecida de acordo com uma concepção
simétrica de poder.
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