A Libertação

AutorFrancesco Carnelutti
Ocupação do AutorAdvogado e jurista italiano
Páginas109-117

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Finalmente, para o preso chega o dia da libertação. E, então, o processo verdadeiramente terminou.

É dizer: o dia da libertação pode seguramente chegar; mas a condição de que se entenda a verdadeira libertação da prisão, que é nossa finitude, e não quero tampouco dizer de nosso egoísmo, já que basta dizer do nosso eu; a porta está sempre aberta para se evadir e não são necessários grandes esforços a tal objeto; basta sentir o peso de nossa solidão e com ela a necessidade do outro que está próximo, quando se sente a necessidade do outro, termina-se por sentir a necessidade de Deus. Muitos concebem a Deus como

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infinitamente distante e imaginam que para alcançá-lo é necessário um interminável caminho; mas não recordam a resposta que Ele deu a Blas Pascal: posto que me buscas, já me encontrou. Deus está sempre próximo do homem; o infinito está ao redor do finito; não é necessário mais que o reconhecer, o que provavelmente, no cárcere, é mais fácil que fora. Uma vez reconhecido, o cárcere se converte em uma fortaleza. Neste sentido, verdadeiramente, a libertação está ao alcance da mão de todo condenado. Não existem nem regras nem guardiões que lhe possam privar de se libertar. Mas não é disto de que agora quero falar. A ocasião virá dentro de pouco.

Porque se, pelo contrário, a libertação se entende no sentido físico, em lugar de espiritual, seu dia também pode chegar. O pensamento corre agora ao ergástulo, reclusão que dura por toda a vida: ao ergastulado a porta do cárcere não se abre a não ser para passar seu cadáver. Isto que dizer que para ele o processo não tem fim. E posto que a penitenciária é, ou deveria ser, um sanatório para recuperar as almas enfermas, a condenação ao ergástulo é a declaração de que a alma do homem está perdida para sempre. O tom lúgubre destas palavras inspira um sentido de horror; mas não

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para aquele a quem estão dirigidas, senão para aquele que as pronunciou. A Corte de cassação italiana, em sessões conjuntas, que é a mais alta expressão da justiça humana em nosso país, não só negou, há poucos meses, o inumano do ergástulo quanto à seriedade de quem tem sustentado esse caráter inumano. Paciência. Não há que se levantar nem se inquietar contra este juízo. Também a cassação é um juiz, e como todos os juízes, pode equivocar-se. Infelizmente, os juízes erram tanto mais facilmente quanto mais seguros estão de não errar. Enquanto o magistério da Igreja, se com o processo de beatificação...

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