Lenda do advogado Cinderello

AutorLuciana do Rocio Mallon
CargoEscritora
Páginas246-247
ALÉM DO DIREITO
246 REVISTA BONIJURIS I ANO 31 I EDIÇÃO 658 I JUN/JUL 2019
mandou aqueles movimentos
de levantar perna até a altura
do pescoço, alongar múscu-
los, dar pequenos piques. Os
alemães de Santa Catarina
ou Rio Grande do Sul, não
sei bem – pareciam mais prag-
máticos, sem técnico nem
aquecimento coordenado.
Então, entraram em cam-
pos dois árbitros: um homem
e uma mulher, o que não deve
ser confundido com o velho
filme do mesmo nome. A se-
nhoria, ou seja, a moça, foi
vistoriar o equipamento dos
catarinenses, enquanto o, di-
gamos, senhorio analisava os
apetrechos do time do Paraná.
“Levante o pé, mostre as
travas, tire a aliança, não pode
jogar de agasalho”, essas coi-
sas. Lá no meio, todo pimpão,
um dos meus amigos magis-
trados, já afinando a pontaria
em alguns chutes para a área.
O árbitro aproximou-se dele e
lhe pediu que levantasse o pé.
Foi quando ocorreu o insólito.
“Abaixe as meias”, ouvi ordenar.
Nosso togado atleta ficou
sem jeito, mas cumpriu a or-
dem. “O senhor está excluído”,
determinou o juiz.
Houve um princípio de
discussão antes que o magis-
trado se encaminhasse para
fora do campo. Veio na minha
direção, mãos abertas para
o céu, como em súplica. Foi
quando entendi.
À guisa de caneleiras, por
haver esquecido a bolsa com
seus pertences futebolísticos
em Curitiba, o distinto atleta
estava tentando levar o árbi-
tro no bico: usava dois peda-
ços de papelão nas canelas,
cortados da caixa que envol-
via o par de tênis, comprado
naquela mesma manhã em
Ciudad del Este.
Não resisti à piada:
– É a primeira vez que vejo
árbitro expulsar magistrado.
Ele retrucou:
– Tremenda falta de respeito.
O resultado da partida, se
bem me lembro, terminou
com a vitória dos paulistas,
mas isso é só um detalhe. n
Luciana do Rocio Mallon escritora
LENDA DO ADVOGADO CINDERELLO
NO FINAL DO século 19, ha-
via uma moça chamada Ana
que procurava seu primeiro
emprego. Batendo de porta
em porta no comércio, ela
conseguiu um serviço de gar-
çonete num restaurante. En-
tão, chegou o dia 11 de agosto,
dia do Advogado, época em
que os estudantes de direito e
advogados podiam comer de
graça nos estabelecimentos.
A data recebeu até o apelido
de Dia da Pendura.
O problema é que o pa-
trão de Ana não avisou à
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Rev-Bonijuris_658.indb 246 24/05/2019 11:03:55

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