Laudo - seu enquadramento na estrutura de um discurso

AutorJosé Fiker
Ocupação do AutorDoutor em Semiótica e Linguística Geral (com enfâse em Laudos Periciais) pela USP
Páginas49-53

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Todo discurso, quer seja religioso, político, científico ou de outra natureza, tem uma estrutura que é seguida, ainda que intuitivamente, pelo orador, desde a época de Aristóteles. Resumidamente pode ser dito que ela lhe confere um princípio, um meio e um fim, com o objetivo de estruturá-lo e evitar repetições desnecessárias daquilo que já foi dito, bem como concatenar suas partes no sentido de que seja mais objetivo, aumentando sua capacidade de persuasão e tornando-o menos cansativo e mais atraente ao receptor da mensagem.

São partes principais do discurso:

Exórdio: apresentação do tema ou da tese a ser desenvolvida. Deve ser breve, incisivo, provocar uma mudança de comportamento no receptor, de forma a tirá-lo de uma posição de passivi-dade e predispô-lo a ouvir ou ler o discurso.

Narração: narrativa dos fatos que vão motivar o aparecimento da tese apresentada. Eles devem ser apresentados de forma a justificar uma ação que será exercida no sentido de dar resposta a esses fatos que clamam por uma solução ou por uma conclusão.

Confirmação: exposição da tese para solucionar os problemas apresentados, ou concluir baseado nela.

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Peroração: encerramento do discurso à face das conclusões apresentadas, colocando um final mediante uma frase de fecho, conclamando o receptor a aceitar a tese exposta.

Isso pode ser melhor compreendido mediante um exemplo fictício prático. Imaginando que se queira dirigir uma campanha de emergência contra a fome e a miséria, tem-se:

Exórdio: Apresentação da tese.

“Enquanto aqui estamos confortavelmente sentados, com a nossa atenção voltada para os nossos problemas, cresce nas ruas o número de crianças carentes que morrerão prematuramente de fome ou que se transformarão em delinquentes e marginais à sociedade.”

Narração: Fatos que comprovam a tese.

“1. As estatísticas demonstram que uma parte da inteligência do indivíduo é congênita e que a outra se desenvolve a partir das condições sociais às quais ele está submetido: alimentação, ambiente, formação escolar, profilaxia contra doenças etc.

  1. Seria repetitivo dizer que a criminalidade, fornecedora de tanta subs-tância para a imprensa, cresce na razão direta do aumento da miséria.

  2. O desequilíbrio econômico da sociedade torna cada vez mais assustador o quadro. Poucos de nós podemos jactar-nos de nunca termos sido molestados pela ação criminosa de algum delinquente, direta ou indiretamente, e ninguém esconde a preocupação de que um dia será alvo...

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