Justiça Cognitiva e Educação Política

AutorJoão da Cruz Gonçalves Neto
CargoUniversidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil
Páginas189-209
Justiça Cognitiva e Educação Política
Cognitive Justice and Political Education1
João da Cruz Gonçalves Neto
Universidade Federal de Goiás, Goiânia – GO, Brasil
Resumo: Este trabalho é a apresentação sin-
tética de uma experiência de pensamento: a
tentativa de extrair da obra de John Rawls um
método de reflexão pública, feita em torno de
três problemas centrais: 1) a constituição de um
inventário normativo exemplar da atualidade
e não apenas a indicação de conceitos teorica-
mente amadurecidos pela tradição acadêmica;
2) a constituição de um inventário do conhe-
cimento político, de sua forma e estrutura, de
natureza autônoma; 3) a constituição de uma
hipótese sobre a mudança social a partir dos
pressupostos da Teoria da justiça, da noção de
justiça cognitiva e da educação política.
Palavras-chave: Reflexão Pública. John Rawls.
Epistemologia Política. Justiça Cognitiva. Edu-
cação Política.
Abstract: This paper presents syntheticaly an
experience of thought: the attempt to construct
a method of public´s reflexion based on the
works of John Rawls. Such try is done around
three central problemas: 1) the constitution of
the actuality´s caracteristics, from common
perception; 2) the constitution of the politic´s
knowledge – its form and estructure, of autono-
mous nature; 3) the constitution of a hypothesis
on social change from the Theory of Justice,
from the notion of the cognitive justice and po-
litical education.
Keywords: Public Reflexion. John Rawls. Po-
litical Epistemology. Cognitive Justice. Experi-
ence of Thought.
1 Este trabalho constitui aprimoramento de excerto de tese de doutoramento não
publicada, nesta oportunidade patrocinada pelo Edital FAPEG Universal n. 07/2014,
e pelo projeto DER2013-47662-C2-2-R, nanciado pelo MINECO y FEDER, Espanha
(Este trabajo fue realizado tambien en el marco del proyecto DER2013-47662-C2-2-R
nanciado por el MINECO y FEDER).
Doi: http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2015v36n70p189
Recebido em: 21/08/2013
Revisado em: 28/04/2015
Aprovado em: 30/05/2015
190 Seqüência (Florianópolis), n. 70, p. 189-209, jun. 2015
Justiça Cognitiva e Educação Política
A história é fecunda e aberta a possibilidades
tanto quanto pode ser o futuro idealizado.
1 Introdução
Em nossa tese de doutoramento (GONÇALVES NETO, 2006), pro-
curou-se extrair da obra de John Rawls um aspecto que não se encontra
substantivamente indicado, mas decisivamente implicado por sua Te or i a :
da sua forma e desenvolvimento é possível extrair um conjunto de princí-
pios e de procedimentos, pela maneira como se situa na tradição acadêmi-
ca, pelos pressupostos que ele assume, pela maneira como persegue seus
fins, que se constitui como um discurso orientado indiretamente para o
fundamento de qualquer ação e reflexão públicas, e não só para critérios
de distribuição de bens, como um método que se apropria da dinâmica
própria do pensamento público e o converte em sabedoria política. A esse
discurso do método político, ou teoria normativa do conhecimento políti-
co, ou ainda sabedoria política, é que se pensa constituir um instrumento
de crítica social por excelência, mesmo que não desenvolvido em todas as
suas possibilidades, mesmo que seja apenas um método formal. Mas de
que forma essa estrutura argumentativa dirigida a fundamentar critérios
de distribuição de bens pode consistir numa crítica? Pretende-se desen-
volver a extração do método da obra de Rawls em torno de três problemas
centrais: 1) a constituição de um inventário normativo exemplar da atua-
lidade, e não apenas a indicação de conceitos teoricamente amadurecidos
pela tradição acadêmica; 2) a constituição de um inventário do conheci-
mento político, de sua forma e estrutura, de natureza autônoma; 3) a cons-
tituição de uma hipótese sobre a mudança social a partir dos pressupostos
da Teoria da Justiça. Apresentar uma descrição sintética do que foi ali
defendido é o objetivo deste texto.
Algumas palavras acerca da metodologia utilizada neste texto são
necessárias. Um artigo acadêmico ou científico deve seguir várias re-
gras formais para que avalize seu autor como um interlocutor qualifi-
cado entre seus pares. Essas regras, para as ciências humanas, já estão
bem assentadas na prática acadêmica nacional e balizam a quantidade

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT