O Juiz na Visão dos Advogados

AutorLuiz Guilherme Marques
Páginas77-94
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O JUIZ nA VISãO DOS ADVOGADOS
1.1. Piero Calamandrei (2000)
Crítico rigoroso dos juízes em várias situações, mas, em
outras, extremamente compreensivo, faz observações impor-
tantes para nossa reflexão:
A irascibilidade é um defeito grave. Assim indaga ele:
O que é pior para o bom andamento da justiça: um advogado verboso ou
um magistrado irascível? (p. 43)
A capacidade de sorrir é primordial para gerar confiança
naqueles que nos procuram, muitas vezes como sua última es-
perança:
Para nos entendermos como pessoas sensatas, é preciso estarmos dispos-
tos a sorrir também: com um sorriso poupamo-nos tantos discursos inú-
teis! (p. 45)
A soberba é um defeito que somente alguns têm ou é ge-
ral? A afirmação é uma acusação séria:
Grave defeito num juiz é a soberba: mas talvez seja uma doença profis-
sional. (p. 61)
A intuição é um dom maravilhoso, que encurta o caminho
para a decisão e aponta o rumo certo, convencendo as duas
partes litigantes:
78 Luiz Guilherme Marques
Juiz ótimo é aquele em que prevalece, sobre a cauta cerebralidade, a pron-
ta intuição humana. O senso de justiça pelo qual, sabidos os fatos, logo se
sente quem está com a razão. (p. 181)
Se avançarmos demais na reflexão seremos um PAUL MAG-
NAUD ou ficaremos sem condição de julgar? Tout comprendre,
c’est tout pardonner (?) CALAMANDREI nos coloca num beco sem
saída?
Debaixo da ponte da justiça passam todas as dores, todas as misérias,
todas as aberrações, todas as opiniões políticas, todos os interesses so-
ciais. E seria bom que o juiz fosse capaz de reviver em si, para compreen-
dê-los, cada um desses sentimentos: experimentar a prostração de quem
rouba para matar a fome ou o tormento de quem mata por ciúme; ser
sucessivamente (e, algumas vezes, ao mesmo tempo) inquilino e locador,
meeiro e proprietário de terras, operário em greve e industrial. Justiça é
compreensão, isto é, abarcar e conciliar os interesses opostos: a socieda-
de de hoje e as esperanças de amanhã, as razões de quem a defende e as
de quem a acusa. Mas se o juiz compreendesse tudo, talvez não pudesse
mais julgar: tout comprendre, c’est tout pardonner. Talvez, para que
possa alcançar os limitados objetivos que nossa sociedade lhe atribui, a
justiça necessite, para funcionar, de horizontes não demasiado vastos
e de um certo espírito conservador, que pode parecer mesquinharia. Os
horizontes do juiz são marcados pelas leis; se o juiz compreendesse o que
há além, talvez não pudesse mais aplicá-las com tranquilidade de cons-
ciência. É bom que não perceba que a função que nossa sociedade atribui
à justiça é, com frequência, a de conservar as injustiças consagradas nos
códigos. (pp. 280-281)
As virtudes para desempenhar nossa dura missão de retificar
não são somente aquelas lembradas por JUCID PEIXOTO AMA-
RAL, citado por JÔNATAS MILHOMENS e GERALDO MAGELA
ALVEZ de honradez, independência, coragem, bondade, des-
pretensão, amor ao estudo, amor ao trabalho, cultura, sociabi-
lidade e brandura.

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