Juiz expulsa juiz
| Autor | Ernani Buchmann |
| Cargo | Advogado |
| Páginas | 245-246 |
ALÉM DO DIREITO
245
REVISTA BONIJURIS I ANO 31 I EDIÇÃO 658 I JUN/JUL 2019
tadora! Que exemplo de vida
e de longevidade! Um ser hu-
mano incrível, que valeu a via-
gem perdida a Salinas, para
uma audiência que não saiu,
por discordância da defesa
em relação à ausência do réu.
Ganhei um amigo. Antes de se
despedir, pedi para tirar uma
foto com ele. “Espere só eu
pegar minha primeira habili-
tação, moço. Tirei em 1950. Foi
escrita à mão. Pode conferir!”
Em tempos em que absolu-
tamente tudo é líquido, foi um
privilégio esbarrar com uma
pessoa ainda sólida. E que,
não bastasse, ainda me ofe-
receu requeijão. Melhor trip!
Abraço, Seu Clemente! Até a
próxima audiência. E guarde
uma fatia de requeijão. Além
de um bocado de histórias... n
tos. Seu primogênito possui
63 anos, pasmem! Falou-me
sobre sua rotina, de dormir
às 22h e acordar às 4h, todo
santo dia; fazer uma garrafa
de café logo cedo e outra após
o almoço; comprar marmitex
e trazer para casa, para “acer-
tar o tempero”; e comer e vol-
tar para o aeroporto, já que a
casa é grande demais para ele.
Deixou-me no hotel, já em
Salinas, e foi pernoitar na casa
de uma afilhada que morou
em sua casa, em Montes Cla-
ros, nos tempos de escola. Era
praticamente uma filha, disse.
Ela é nova, perguntei a ele, por
mera curiosidade. “Não, moço.
Acabou de se aposentar.”
Buscou-me no hotel, levou-
-me ao fórum, buscou-me
novamente, guiou-me ao mer-
cado municipal e trouxe-me
ao hotel no qual agora estou
escrevendo esta crônica. An-
tes disso pagou-me uma fatia
de bolo de fubá com coco ra-
lado, numa parada de beira de
estrada. Conhecia o filho do
dono. E também o dono, que
já faleceu. O filho já passa dos
70 anos. Incrível como tudo
na vida do Seu Clemente é
longevo. E mais incrível ain-
da é a memória perfeita dele
ao relatar fatos que ocorre-
ram há mais de meio século!
Deixou-me no hotel um tanto
contrariado. Queria que pro-
vasse o requeijão que com-
prou no mercado municipal.
“É muito bom, moço! Paguei
40 reais. Mas valeu a pena!”
Que delícia conhecer Seu
Clemente! Que figura encan-
Ernani Buchmann aDVogaDo
JUIZ EXPULSA JUIZ
O CASO QUE PASSO a narrar
não seria a rigor um pitoresco
na advocacia; antes, poderia
ser inserido em nova série,
que hipoteticamente chama-
ríamos de “pitoresco testemu-
nhado por advogado”. Pois foi
o que se deu.
Eis que, em um hotel de Foz
do Iguaçu, encontro alguns
magistrados amigos trajan-
do não paletó, gravata e toga,
mas calção, kichute e cami-
sa de futebol. Sem resistir à
curiosidade, perguntei se es-
tavam mudando de profissão,
tratando de encarar a carrei-
ra de atleta profissional, tal-
vez imaginando o futuro em
algum clube da expressão do
Barcelona.
Nada disso, responderam.
“Estamos aqui disputando
um campeonato de futebol
Society. Daqui a pouco, jo-
garemos contra os juízes de
Santa Catarina.”
Já não sei mais se era mes-
mo Santa Catarina ou Minas
Gerais, pouco importa. O fato
é que, sábado à tarde, sem
ter nenhuma programação
extraterritorial, como chamo
as incursões sistemáticas ao
Paraguai e à Argentina, pró-
prias de quem vai às compras,
aceitei o convite para assistir
ao jogo.
O campo, bem gramado,
estava, como ainda está, loca-
lizado ao fundo do hotel. As
cadeiras à margem da linha
lateral comportavam a torci-
da, composta por familiares
de craques.
Confesso ter ficado impres-
sionado com o aquecimento
paranaense. O treinador co-
Rev-Bonijuris_658.indb 245 24/05/2019 11:03:46
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO