Jean-Jacques Rousseau: do homem natural ao homem social

AutorRafael Costa de Souza, Rosa Juliana Cavalcante da Costa
Páginas283-300
CAPÍTULO 11
Jean-Jacques Rousseau:
do homem natural ao homem social
Rafael Costa de Souza1
Rosa Juliana Cavalcante da Costa2
L´homme est né libre, et partout il est dans les fers. Tel
se croit le maître des autres, qui ne laisse pas d´être plus
esclave qu´eux (Rousseau, Du contrat social).
1. Metodologia e obras escolhidas
O trabalho propõe analisar as ideias difundidas por Jean-Jacques
Rousseau tocantes ao conceito de homem natural – ou selvagem – e a
transição para aquele político, com esteio na leitura da obra “Discurso
sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”. A pes-
quisa bibliográca também se apoia em conceitos ministrados em “Do
Contrato Social”, sobretudo o de democracia participativa, e em “Cons-
sões”, esta última como subsídio para traçar a vida do autor e suas cone-
xões com o momento histórico.
Ademais, foram utilizados artigos e livros dedicados a Rousse-
au, tanto quanto aplicáveis aos objetivos deste Paper, visto que algumas
perspectivas analíticas não se adequavam inteiramente ao estudo pro-
posto. Quanto à estrutura, buscou-se acompanhar o próprio desenvol-
vimento das proposições contidas no livro-base, descrevendo-se, uma
vez superado o panorama histórico, o perl indicado pelo lósofo polí-
tico daquele indivíduo “primitivo”, a maneira como se articula e atende
às próprias necessidades. Empós, analisa a narrativa quanto à transição
¹ Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor do Centro Universi-
tário Newton Paiva.
² Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista CAPES.
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ao indivíduo social e os elementos pertinentes, sobretudo a moralidade,
a cultura e a propriedade privada.
Outrossim, indicam-se os vícios e a desordem decorrentes da
mutação em análise, assim como a desigualdade, institucionalizada pelo
poder arbitrário e pela magistratura, conferindo aparência legítima às
injustiças que se consolidavam.
Finalmente, nas considerações apresentadas sobre o novo estado
de natureza apontado por Rousseau, busca-se conciliar as ideias então
exploradas com as propostas em sua obra mais célebre, “Do Contrato So-
cial”, associadas como, de forma intrínseca, planos do dever-ser e do ser.
3 Sem propor um retorno ao estado original, o autor sugere o equilíbrio
pelo livre comprometimento político.
2. Biograa do autor e contexto histórico
Jean-Jacques Rousseau nasce em Genebra, Suíça, no ano de 1712,
lho de Isaac Rousseau, joalheiro, e de Sezanne Bernard, que falece em
decorrência do parto poucos dias após o nascimento do lho.4
Nos anos seguintes, sob os cuidados do pai, desenvolve forte
inclinação à leitura, de início dos romances deixados pela mãe e, pos-
teriormente, de obras de teor político e losóco, como bem descreve
em “Conssões5, o que fomentou, de acordo com o próprio lósofo, o
espírito livre e republicano que aoraria mais adiante.
Ocupa-se na juventude de ofícios como moço de recados e grava-
dor, mas para nenhum revela talento. Encontra amparo à frágil condição
nanceira sob proteção de Sra. Warens, em Annecy, para quem oferece
préstimos relacionados à Medicina e à Alquimia. Nesse período, tam-
3 COUTINHO, Carlos Nelson. Marxismo e política Apud HAUSER, Ester Eliana. O ideal democrático
no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau. In: WOLKMER, Antônio Carlos (Org). Introdu-
ção à história do pensamento político. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 169.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Ensaio sobre a Origem das Línguas. Discurso so-
bre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Discurso sobre as Ciências e as
Artes. In: Os Pensadores. v. XXIV. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 5.
⁵ “De ces intéressantes lectures, des entretiens qu’elles occasionnaient entre mon père et moi, se forma cet es-
prit libre et républicain, ce caractère indomptable et er, impatient de joug et de servitude, qui m’a tourmenté
tout le temps de ma vie dans les situations les moins propres à lui donner l’essor. Sans cesse occupé de Rome
et d’Athènes, vivant pour ainsi dire avec leurs grands hommes, né moi-même Citoyen d’une République, et ls
d’un père dont l’amour de la patrie était la plus forte passion, je m’en enammais à son exemple, je me croyais
Grec ou Romain; je devenais le personnage dont je lisais la vie: le récit des traits de constance et d’intrépidité
qui m’avaient frappé me rendait les yeux étincelants et la voix forte. Disponível em:
co.gov.br/download/texto/aa000094.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016.

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