Itinerário de pesquisa sobre o cinema dos Bálcãs: uma contribuição pluridisciplinar

AutorRafael Siqueira de Guimarães
CargoProfessor Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus Irati
Páginas65-88
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 65-88, jan/jun. 2010
Itinerário de pesquisa sobre o cinema dos Bálcãs: uma
contribuição interdisciplinar
Research itinerary about Balkans´ cinema: an interdisciplinary
contribution
Rafael Siqueira de Guimarães1
RESUMO
Este artigo apresenta uma possibilidade metodológica construída a partir de uma
concepção interdisciplinar desenvolvida para o estudo do cinema, baseada nas
leituras sociológica, antropológica e psicológica que definiu temas e problemas para
o estudo mencionado. Assim, apresenta-se o itinerário realizado para a construção
do objeto de pesquisa, demonstrando a trajetória percorrida por meio do diálogo dos
saberes de diferentes áreas do conhecimento.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Cinema. Metodologia de Pesquisa.
ABSTRACT
This article presents a methodological possibility that was constructed from an
interdisciplinary conception developed to the cinema studies, based on sociological,
anthropological and psychological readings that defined themes and problems to the
mentioned study. Thus, the article presents the itinerary for the construction of the
research object, showing its trajectory by dialoguing with different fields of
knowledge.
Key-words: Interdisciplinary. Cinema. Research Methodology.
1 INTRODUÇÃO
De um lado, a ciência moderna, construída desde o pensamento aristotélico
até o seu apogeu nos séculos XIX e XX (TARNAS, 2005). Por outro lado, a própria
Modernidade se coloca em xeque, se revê, se auto-reflexiona: assiste a seus
projetos científicos e sociais, baseados no ideário do Iluminismo, ruírem. Como
complemento polar, a herança de outras correntes ligadas especialmente às artes e
à sensibilidade, o Romantismo e suas derivações, que se configuraram em diversas
1 Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste,
Campus Irati. rafaorlando@uol.com.br
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 65-88, jan/jun. 2010
épocas da História (desde a cultura greco-romana clássica, passando pelo
Renascimento e pela Reforma), não como pensamento dominante, formam, como
veremos adiante, afluentes de uma “bacia semântica” (DURAND, 2001a). Nas
palavras de Tarnas, essa herança passa a “expressar exatamente os aspectos da
existência humana eliminados pelo avassalador espírito racionalista do Iluminismo”
(TARNAS, 2005, p.393).
Nesse campo epistemológico de disputas do pensamento moderno figuram:
de um lado o homem constrói uma explicação plausível e domesticadora do mundo,
confundindo natureza com cultura, homem com sociedade, como realidade; e, de
outro, faz sua autocrítica. Esta autocrítica é possível graças às ruínas que esse
homem viveu. Os projetos políticos que faliram: o capitalismo ou o socialismo como
propostas universalizantes não dão conta dos problemas e das grandes questões
sociais existentes no mundo moderno, em seu lugar, ou ainda, co-existindo com
eles, em vários casos, a globalização que caminha a passos largos, redefinindo
fronteiras e fazendo com que esse homem, a partir da vivência dessa “grande
comunidade mundial” tenha que repensar os conceitos propostos pelo próprio
Iluminismo sobretudo pela identidade construída em seu bojo.
Em seu interior, a ascensão da tecnologia na contemporaneidade levou ao
desenvolvimento contínuo dos meios de comunicação, e estes se tornaram
facilitadores da confrontação entre as culturas mundiais (DURAND, 1993). Dentre os
meios de comunicação, um que merece especial atenção é o cinema: dotado de
linguagem própria e caracterizado por uma forma particular de operacionalizar
ideologias, símbolos e o real (CARRIÈRE, 1995), meio privilegiado do contato com
outras linguagens da arte (artes plásticas, música, arquitetura), o cinema expandiu-
se por todo o mundo e, no século XX, foi protagonista da possibilidade de
representação de diferentes culturas. Como lembra Baudrillard, “no nosso universo
midiático, a imagem costuma ocupar o lugar do acontecimento” (BAUDRILLARD,
2004, p.40-41).
Ocupando esse espaço tão importante na vida das pessoas, a imagem, e
mais especificamente o cinema, também passa a ocupar os interesses da
Academia. Intelectuais de toda sorte, com diferentes formações e baseados em
diferentes abordagens teórico-metodológicas passam a se dedicar ao estudo do
cinema. Por viver esse processo como parte de minha formação humana, também

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