Investor's attributes and risk tolerance: the small investors' perspective/Atributos do investidor e tolerancia face ao risco: a perspetiva dos pequenos investidores/Atributos del inversor y tolerancia frente al riesgo: la perspectiva de los pequenos inversores.

AutorAugusto, Mario Antonio Gomes
CargoARTIGO--FINANCAS
  1. INTRODUCAO

    Atualmente, os individuos tem a sua disposicao uma grande variedade de produtos financeiros para aplicar suas poupancas, com diferentes carateristicas de risco e rendibilidade, o que torna fundamental perceber se eles estao dotados de conhecimentos sobre esses produtos que lhes permitam compreender e tomar decisoes numa realidade complexa. Dentro do leque de decisoes financeiras, o comportamento face ao risco e um dos temas centrais. Como salienta Huang (2007), a tolerancia face ao risco e um fator-chave no processo de alocacao de poupancas. Assim, ao selecionar os ativos que comporao sua carteira, o investidor devera estar consciente do nivel de risco em que esta disposto a incorrer. Nesse contexto, diversos estudos procuram identificar fatores que influenciam a tolerancia face ao risco, mas muitas questoes estao sem resposta, particularmente no que diz respeito a seus determinantes (HALLAHAN; FAFF; MCKENZIE, 2004).

    A grande parte dos estudos realizados sobre o comportamento do investidor individual de disposicao ou aversao ao risco e sua mensuracao considera os fatores que podem influencia-lo. De uma forma geral, o foco recai sobre atributos como o genero, a idade, o estado civil, a profissao, o nivel de renda, o nivel de escolaridade e o conhecimento sobre investimentos financeiros (LAMPENIUS; ZICKAR, 2005). Wang (2011) revela que varios atributos como o genero, a renda, a literacia financeira e a experiencia em investimentos financeiros surgem como importantes influencias pessoais e sociais sobre os comportamentos das geracoes mais jovens que investem em fundos de investimento. Droms e Strauss (2003) salientam a importancia que tem o planeamento da carteira de investimentos de um cliente para um gestor de fundos de investimento. Os autores referem que este deve prever a tolerancia face ao risco do cliente de acordo com suas carateristicas e atributos, de forma a estruturar um portfolio que seja consistente com seu perfil. Por vezes, a falta de competencias para essa avaliacao pode levar a uma homogeneizacao dos fundos de investimento escolhidos (JACOBS; LEVY, 1996).

    A tolerancia face ao risco pode ser definida como uma combinacao entre a atitude face ao risco--quanto risco eu escolho ter--e a capacidade de risco--em quanto risco eu posso incorrer (CORDELL, 2002). Roszkowski, Delaney e Cordell (2004), porem, concordam que, apesar de os gestores de fundos de investimento precisarem ponderar esses dois conceitos, atitude face ao risco e capacidade de risco, para escolher

    O portfolio adequado, estes sao distintos e assim devem permanecer.

    O presente artigo avalia como certos atributos influenciam a decisao dos investidores de aplicar suas poupancas num determinado tipo de aplicacao financeira--os fundos de investimento. Cada fundo tem, no entanto, carateristicas e niveis de risco proprios e, normalmente, a um maior risco esta associada uma maior rendibilidade. O objetivo deste trabalho consiste em identificar, da variedade de fundos de investimento que se encontram a disposicao dos individuos, os atributos dos aforradores (1) que potencialmente influenciam sua propensao face ao risco e, consequentemente, a alocacao de suas poupancas em produtos financeiros de maior risco.

    Este estudo apresenta dois contributos fundamentais. Em primeiro lugar, ao voltar-se para os atributos dos investidores que explicam a maior ou menor predisposicao para investir em fundos de investimento em mercados como o Portugues, onde a literacia financeira e bastante baixa, este estudo torna-se uma mais-valia para os agentes de decisao da politica economicofinanceira, como sao os Bancos Centrais, preocupados cada vez mais com a literacia financeira de seus cidadaos (2). Pois e hoje aceite que so com maior conhecimento financeiro os investidores podem tomar decisoes economicas e financeiras fundamentadas, sensatas e estaveis, que contribuam para seu bem-estar material e para a estabilidade do sistema financeiro num contexto em que os produtos e servicos financeiros sao cada vez mais complexos e, simultaneamente, o acesso a eles por parte da populacao e mais generalizado (ANTHES, 2004). Em segundo lugar, o estudo, ao identificar os atributos dos individuos que influenciam sua propensao face ao risco e, consequentemente, a alocacao de suas poupancas em certas aplicacoes financeiras, ao mesmo tempo em que torna possivel aos bancos comerciais contribuir para aquele objetivo (como se encontram obrigados), permite-lhes estruturar produtos de aplicacao de poupancas de acordo com o perfil de seus clientes. Acresce que a atual crise financeira a que se tem assistido veio realcar a necessidade da populacao em geral de ter um conhecimento mais solido sobre o funcionamento da economia e sobre as implicacoes de suas decisoes sobre consumo e poupanca. Dessa forma, o presente trabalho espera tambem contribuir para a literatura de financas comportamentais, sobretudo para a compreensao de certos padroes de comportamento no processo de alocacao de poupancas em produtos financeiros de maior risco por parte do investidor.

    Para alem da introducao, este trabalho compreende mais 5 seccoes. A seccao seguinte e dedicada a revisao da literatura sobre o tema em estudo, que se divide em sete subseccoes: (1) literacia financeira, (2) genero, (3) idade, (4) estado civil, (5) nivel de escolaridade, (6) atividade profissional e (7) nivel de renda. Na seccao 3 apresentam-se as hipoteses a testar. A secao 4 volta-se para o processo de recolha de dados, a metodologia e a amostra. Na seccao 5 apresentam-se os resultados, bem como sua discussao. Por fim, na seccao 6 apresentam-se as principais conclusoes, contribuicoes e limitacoes do presente estudo, bem como sugestoes para investigacao futura.

  2. REVISAO DA LITERATURA

    Nesta seccao efetua-se a revisao da literatura sobre os atributos dos individuos que potencialmente influenciam sua propensao face ao risco e, consequentemente, a alocacao de suas poupancas em produtos financeiros de maior risco. A secao encontra-se dividida em sete subseccoes: (1) literacia financeira, (2) genero, (3) idade, (4) estado civil, (5) nivel de escolaridade, (6) atividade profissional e (7) nivel de renda. Para Cardona (1998), a literatura existente indica que os fundos de investimento sao usados como um veiculo para participar no mercado de acoes e de obrigacoes. Alem dos beneficios da diversificacao, os fundos de investimento tambem dao aos investidores o beneficio de uma gestao profissional, economias de escala e flexibilidade. No entanto, ao longo do tempo, os investidores podem sentir a necessidade de alterar a composicao de sua carteira de investimento, em razao, essencialmente, da alteracao de seu perfil de tolerancia face ao risco. Rao (2011) refere que ha um grande numero de fundos de investimento, mas, uma vez que ha pessoas mais avessas ao risco, uma grande parte deles receia investir no mercado de capitais. Assim, muitos sao os atributos que as motivam a investir em outro tipo de investimentos. Dentre esses atributos, o autor destaca o genero, a idade e o estado civil dos investidores, que se tornam fatores sociodemograficos determinantes na decisao e preferencia no momento de realizacao de investimentos.

    Ao investirem em fundos de investimento, os investidores assumem riscos identicos, embora menores aos que assumiriam caso optassem pelo investimento direto nos ativos que integram o patrimonio dos fundos, ja que esse risco se dilui nos varios tipos de ativos. No caso dos fundos de investimento mobiliario, as acoes, obrigacoes e outros ativos que compoem seu patrimonio sofrem flutuacoes de cotacao, pelo que a possibilidade de perder parte ou a totalidade do capital investido constitui um risco.

    Dentro do mercado financeiro e necessario conhecer o perfil de cada investidor, para que, por suas carateristicas, seja possivel formar um plano de investimentos adequado ao seu perfil. Isso implica conhecer as expectativas de risco, as necessidades e objetivos a curto, medio e longo prazo, bem como o volume de recursos disponiveis do investidor. Conhecer as carateristicas de cada grupo de investidores ajuda a compreender onde poderao aplicar suas poupancas--se em acoes ou obrigacoes, a curto ou a longo prazo, em fundos com maior ou menor risco asociado--, pois tudo varia de acordo com o perfil de cada um. Assim, a tolerancia face ao risco por parte dos investidores determinara a composicao apropriada de ativos numa carteira otima, em termos de risco e retorno, de acordo con as necessidades de cada individuo (DROMS, 1987).

    2.1. Literacia financeira

    Para Lusardi (2008), o nivel de literacia financeira tem um forte impacto na tomada de decisoes dos individuos, pois estes sao, cada vez mais, responsaveis por sua seguranca financeira e confrontados com instrumentos financeiros cada vez mais complexos todos os dias. A literatura sobre a literacia financeira sugere que as pessoas que se consideram investidores experientes ou que tem maior conhecimento sobre suas financas pessoais tendem a ser mais tolerantes ao risco (GOLDBERG, 1995; GRABLE; JOO, 1997), pois apresentam maior familiarizacao com termos como taxa de juro, inflacao e investimento. Segundo Lusardi e Mitchell (2006), a falta de literacia financeira e um grande obstaculo a participacao no mercado acionista, ou seja, afasta os individuos dos investimentos em fundos caraterizados por uma maior complexidade, como e o caso das acoes, e os faz economizar menos para a reforma. Sahu e Rajamohan (2011), ao analisarem o impacto dos conhecimentos financeiros na composicao de carteiras, concluem que a posse de acoes esta significativa e positivamente relacionada com os conhecimentos financeiros.

    Monticone (2010) apresentou resultados que mostram que os individuos mais ricos, ou com maior poder financeiro, apresentam maior probabilidade de investir na aquisicao de conhecimento, nomeadamente em conhecimento financeiro. Assim, o autor sugere que o nivel de riqueza financeira...

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