Introdução

AutorArtur Cristiano Arantes
Páginas31-36

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Não podemos omitir que a Odontologia tem tomado rumos diferentes daqueles percorridos antigamente. Um verdadeiro turbilhão de acontecimentos e situações novas começam a se verificar em nosso derredor, como contingência da modernização de meios, técnicas e de pensamentos, da informação e Globalização.

Longe estamos da época em que o Cirurgião Dentista exercia, de forma quase solitária e espiritual, sua atividade com quem pessoalmente conhecia. A Odontologia romântica acabou. Aquele recém-formado que, ao colar grau em sua faculdade, escolhia uma cidade, ou mesmo um bairro em sua cidade de origem, e ali instalava seu “gabinete dentário”, distribuía cartões e esperava pacientemente que os clientes fossem aparecendo; primeiro os parentes e amigos mais próximos, depois os indicados e assim durante anos a fio ia formando sua clientela, está chegando ao fim.

Tal qual ocorreu com a Medicina, o Dentista de família está em extinção. Hoje, ao encerrarem seu curso de graduação, a grande maioria dos recém-formados fatalmente irão iniciar seu labor profissional como empregado obrigatoriamente, em face do alto custo de instalação de um consultório com aparelhagem que a modernidade exige. E alguns deles terão, após algum tempo, a oportunidade de se tornarem pequenos executivos, com seus consultórios particulares ou clínicas associadas, regidos por regras e diretrizes traçadas por uma elite burocrática que, por detrás de uma escrivaninha, cria uma enorme variedade de leis, normas, resoluções que tudo abrange e sobre tudo legisla.

A Odontologia-arte agoniza nas mãos da Odontologia-técnica e da Odontologia Empresarial. A Odontologia Romântica, do Profissional Liberal, vem se perdendo para os grandes grupos empresariais, através de credenciamentos e convênios. A erudição hermenêutica vai sendo substituída por uma sólida estrutura instrumental, com aparelhos cada vez mais sofisticados e caríssimos de tal forma que já vemos, em nossos

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dias, grupos de dentistas se cooperativando para adquiri-los. É o mesmo infeliz destino que a Medicina escolheu para si, que vem ocorrendo com a Odontologia, que caminha a passos largos para o mesmo abismo.

O Cirurgião Dentista de família, do bairro, da cidade pequena, morreu ou está à beira da extinção, repetimos. Deu lugar ao técnico altamente especializado, que trabalha de forma fria e impessoal, alienado, voltado quase que exclusivamente para esses meios extraordinários que a tecnologia do momento pode oferecer. Surge o Cirurgião Dentista de plan-tão, ou credenciado, empregado de uma empresa exploradora da saúde ou cooperativas com características mais políticas que a de realmente valorizar e defender a profissão ou o Profissional da Odontologia. Tal Odontologista acaba se obrigando a trocar uma Deontologia clássica e universal por um sistema de normas compatíveis com a realidade vigente, nem sempre ajustáveis a sua consciência e determinação.

O Cirurgião Dentista “autônomo”, dono se seu próprio consultório, está dando lugar ao Profissional credenciado, cooperativado e mesmo empregado, simplesmente, de grupos empresariais exploradores da doença. É o poder econômico suplantando o poder da ciência e do humanismo.

Viram-se os Cirurgiões-Dentistas, tal qual os Médicos, envolvidos por uma terrível espiral irreversível, em que certos valores afetivos, consagrados como úteis e necessários, converteram-se em solicitações que o imediatismo...

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