Introdução

AutorMauricio Godinho Delgado
Páginas11-13

Page 11

I - O presente livro busca investigar um dos grandes enigmas do mundo contemporâneo, com reflexos em todos os países ocidentais, especialmente aqueles que, como o Brasil e demais latino-americanos, ainda não superaram os impasses e desafios para a construção de uma sociedade realmente desenvolvida, livre, justa e solidária.

Trata-se de estudar como a ideia do valor do trabalho, que se mostrou fundamental para a grande maioria das populações despossuídas de riqueza dos países capitalistas ocidentais, passou a ser cuidadosamente fustigada e desconstruída nas últimas décadas, sem que aparentemente se aperceba da lógica fria desse processo de destruição.

Ora, é sabido que o trabalho e especialmente o emprego tornaram-se o mais importante instrumento de afirmação individual, social e econômica da larga maioria das pessoas na sociedade capitalista, a partir da segunda metade do século xIx e mais acentuadamente no século xx. Em torno deles, construíram-se as ideias-arquétipos da democracia social - inovação singular da contemporaneidade -, fazendo girar a economia, a sociedade e as políticas públicas em função da valorização do trabalho, do trabalhador e do pleno emprego.

Nas décadas finais do século xx e no início deste, entretanto, generalizou-se o diagnóstico do fim do trabalho e do emprego no mundo ocidental, sempre atado a supostas razões estruturais intransponíveis pela inteligência humana. Elaborou-se verdadeiro paradigma de destruição do emprego e do próprio trabalho na sociedade capitalista.

Mais do que isso: por impressionante que pareça, muitas vezes esse novo e sombrio suposto paradigma foi incorporado pelos próprios segmentos sociais que mais iriam sofrer (e têm sofrido) os deletérios efeitos da destruição da cultura do trabalho e do emprego na desigual sociedade capitalista.

Enigmas dessa magnitude evidenciam, sem dúvida, precedentes nos registros históricos ou nas referências culturais da criatividade humana. Afinal, o que explicaria, milênios atrás, a incrivelmente ingênua internalização pelo monarca Príamo, no coração da cidade-estado de Troia, do engenho mortífero (mal) dissimulado dos inimigos gregos? Não importa se, para os historiadores, o fato não se deu; o mesmo enigma perpassa a historia, em vários momentos.

O que explica, então, liderança política tão consagrada e corajosa, como a de Montezuma, imperador dos astecas, povo que construiu civilização notável,

Page 12

ter simplesmente se mantido estupefata, inerte...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT