A intersubjetividade em Merleau-Ponty e no construcionismo social algumas considerações

AutorMarcelo Naputano - Elvira Cicognani
CargoDoutorando no Programa de Psicologia e Sociedade da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, São Paulo, Brasil - Doutora em Psicologia pela Universidade de Padova, Itália
Páginas19-37
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n2p19
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.19-37, Mai-Ago. 2016
A INTERSUBJETIVIDADE EM MERLEAU-PONTY E NO CONSTRUCIONISMO
SOCIAL ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Marcelo Naputano
1
Elvira Cicognani
2
Resumo:
O objetivo central de nosso texto é compreendermos a construção da
intersubjetividade em Merleau-Ponty, do sujeito na relação com o outro em suas
construções existenciais e fazermos a mesma reflexão sobre a concepção do
estabelecimento da intersubjetividade na teoria do Construcionismo Social, na
possibilidade de um diálogo, sem, contudo, a pressuposição de uma conclusão de
acepção moral de atribuição de maior valor a uma teoria em detrimento da outra.
Para tanto, iniciamos com algumas breves considerações sobre os afetos e
desafetos históricos entre filosofia e psicologia para, posteriormente, delinearmos
melhor nosso ponto central em Merleau-Ponty e no Construcionismo Social,
desenvolvendo os possíveis significados da intersubjetividade nestes. É interessante
notarmos que, apesar da distância no tempo e da construção teórica entre Merleau-
Ponty e o Construcionismo Social, podemos verificar uma similaridade na busca de
uma solução ao problema sujeito-objeto transcendendo a esta polarização nas
considerações sobre a intersubjetividade mesmo que com propostas divergentes.
Palavras-chave: Intersubjetividade. Merleau-Ponty. Construcionismo Social.
1 MERLEAU-PONTY E A INTERSUBJETIVIDADE
Inicialmente, para refletirmos a respeito das contribuições de Merleau-Ponty
para a construção da intersubjetividade e, posteriormente, refletirmos sobre as
concepções da construção da intersubjetividade no Construcionismo Social, se faz
necessário rememorarmos a importância do diálogo e dos embates entre a filosofia
e a psicologia, verdadeira relação de amor e ódio que historicamente marca estes
dois campos do conhecimento humano.
Se, por um lado, a psicologia tem seu nascimento na evidente tentativa de se
livrar de suas raízes filosóficas para sua autonomia, de outro lado, sempre se
baseou em fontes e temas filosóficos: “todos os grandes sistemas filosóficos desde a
1
Doutorando no Programa de Psicologia e Sociedade da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Assis, São Paulo, Brasil. Doutorado sanduíche na Facoltà di Psicologia dell’Università
di Bologna, Itália. E-mail: naputano@libero.it
2
Doutora em Psicologia pela Universidade de Padova, Itália. Professora efetiva e membro no colégio
de docentes no programa de doutorado na Facoltà di Psicologia dell’Università di Bologna,
Coordenadora do centro de pesquisa Centro per l'Empowerment delle Scuole, delle Organizzazioni e
della Comunità da Universidade de Bolonha, Itália. E-mail: elvira.cicognani@unibo.it
20
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.19-37, Mai-Ago. 2016
Antiguidade incluem noções e conceitos relacionados ao que hoje faz parte do
domínio da psicologia científica” (FIGUEIREDO, 2004, p.14). A tentativa desta
“autonomia”, ironicamente baseada na filosofia cartesiana, que é em parte a
característica ainda hoje de algumas psicologias, é muito bem descrita por Foulquié,
quando diz: “A filosofia moderna remonta a Descartes; e como a Psicologia era, e
continua em larga medida, o apanágio dos filósofos, recebeu do cartesianismo
princípios dos quais, até agora, não se desembaraçou completamente” (FOULQUI,
1965, p.1).
Merleau-Ponty se insere nesta discussão de modo muito particular, pois foi
um filósofo que acabou ocupando inesperadamente a cadeira de Psicologia e
Pedagogia da Criança a convite da Universidade de Paris-Sorbonne que, segundo
Coelho & Carmo, muito influenciou a obra deste autor:
Nomeado para um a cadeira (Psicologia e Pedagogia da Criança) que não
correspondia a seus gostos e vocação, Merleau-Ponty se fez, durante
alguns anos, psicólogo e pedagogo, sem abandonar, no entanto, seu olhar
crítico de filósofo. O fato é que, com este contato “forçado”, com a
psicologia, Merleau-Ponty descobrirá possibilidades novas para o seu
questionamento filosófico, o que pode ser comprovado pela influência
exercida pela psicanálise (que até então, ele pouco conhecia) em seus
textos publicados na década de 1950 (COELHO JÚNIOR; CARMO, 1991, p.
33).
Apesar da discutível afirmação de Coelho Júnior & Carmo de que Merleau-
Ponty pouco conhecia as obras da psicanálise, é de fato no inicio da década de
1950 que Merleau-Ponty vai iniciar a dialogar com estas obras com maior
profundidade, por exemplo, na publicação de L’institution/La passivité: notes de
cours au Collége de France de 1954-1955 (MERLEAU-PONTY, 2003).
A despeito disso, é interessante notarmos de que maneira a experiência
existencial, acima citada, coloca em evidência a história de um filósofo que, de certo
modo, vai se transformando também em psicólogo em um momento histórico no
qual estas duas disciplinas se questionavam mutuamente. É interessante a
afirmação de Merleau-Ponty que, incidindo reconhecimento da biografia na obra de
uma pessoa, afirma, anteriormente ao convite para a Universidade de Paris: “ certo
que a vida não explica a obra, porém certo é também que se comunicam. A verdade
é que essa obra por fazer exigia essa vida” (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 135-136).
Não é nosso interesse, neste texto, abordarmos as questões da polarização
entre o conhecimento científico, que a psicologia da época buscava em

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT