O Integralismo, as novas gerações e o problema da consciência histórica

AutorMárcio Santos de Santana
CargoProfessor no Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Páginas213-232
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 26, p. 213-232, dez. 2011.
DOI: 10.5007/2175-7976.2011v18n26p213
O INTEGRALISMO, AS NOVAS GERAÇÕES E O
PROBLEMA DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
Márcio Santos de Santana*
Resumo: O artigo pretende demonstrar que o integralismo considerava as
novas gerações como o segmento estratégico para a promoção de mudanças na
sociedade, garantindo a reprodução social do movimento, por meio da formação
de novos líderes. As motivações para a precocidade na socialização ideológica
dos membros estão relacionadas com a concepção autoritária do movimento
integralista, interessada em evitar que as crianças e os jovens estruturassem uma
consciência histórica própria. O discurso do movimento enfatiza a necessidade
de salvaguarda dos valores, de reconstrução da civilização, de tomada de
consciência por parte das novas gerações, mas, ao mesmo tempo nega qualquer
possibilidade para que as crianças e os jovens tenham vivencias autônomas.
Palavras-chave: Integralismo. História Política. Educação Histórica. Utopia.
Consciência Histórica.
Abstract: The article argues that the integralism thought the younger
generation as the strategic segment for promoting change in society, ensuring
the social reproduction of movement through the formation of new leaders. The
motivations for the early socialization of ideological members are related to the
authoritarian conception of the movement integralist, interested in preventing
children and young people creat a historical consciousness itself. The discourse
of the movement emphasizes the need to safeguard values, reconstruction of
civilization, of awareness on the part of the new generations, but at the same
time denies any chance for children and young people have autonomous livings.
Keywords: Integralism. Political History. Historical Education. Utopia.
Historical Consciousness.
* Professor no Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
E-mail: msantana@uel.br
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 26, p. 213-232, dez. 2011.
O período entreguerras teve, como uma de suas características
marcantes, o acentuado antiliberalismo. Os governos europeus gradualmente
foram ocupados por indivíduos e grupos políticos detentores de ideias contrárias
aos princípios liberais, a saber: igualdade de todos perante a lei; soberania do
povo; respeito ao princípio de governo representativo; liberdade de negócios e
liberdade de expressão, publicação e reunião. O século XIX foi marcado pelo
auge da “civilização liberal”, cujas principais características foram a crença
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dos indivíduos através da educação, do debate público, entre outros. Contudo,
decorridos poucos anos do término da Primeira Guerra Mundial, os europeus
presenciaram um retrocesso contínuo e incessante do liberalismo.
O processo de retração das ideias liberais do cenário político mundial
rapidamente chegou ao Brasil. Movimentos políticos variados desdenhavam do
liberalismo, considerado, nessa nova conjuntura, como incapaz de solucionar
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status de exclusividade como argamassa do tecido social e de fórmula perfeita
de organização e gerenciamento da economia. Novas formas de organização
da sociedade surgiram, alcançando elevado prestígio junto à sociedade. O
nazi-fascismo conquistou espaço na opinião pública. Os adeptos e admiradores
foram se multiplicando. No Brasil tal ideologia alcançou espaço relevante
no debate político, sendo os integralistas seus principais entusiastas. Nesse
complexo e intrincado processo a democracia foi soterrada. Aliás, democracia
que não havia sido erigida de maneira consistente, pois é arbitrário categorizar
a Primeira República brasileira como um período democrático.
As alterações ocorridas nas sociedades alcançaram os segmentos jovens,
pelo simples motivo de que nenhum segmento permaneceu incólume a elas.
A reformulação do papel do Estado não se restringiu ao âmbito econômico.
Os donos do poder lançaram mão da engenharia social para implantar seus
projetos de poder. A infância e a juventude eram os segmentos perfeitos para
a concretização de tais ambições, uma vez que permitiam a moldagem dos
futuros participantes da sociedade em padrões considerados corretos pelos
reformadores sociais. Numa fase da História na qual o Ocidente buscava a
reconstrução da Civilização, destruída pela Grande Guerra, as novas gerações
se convertem rapidamente no símbolo de um novo paradigma de sociabilidade.1
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi fundada por Plínio Salgado em
1932. As estimativas são de que o partido tivesse alcançado já em 1936 entre
seiscentos mil e um milhão de adeptos. Tornou-se, então, o primeiro partido
nacional a possuir uma organização de massa. Entre 1930, ano da revolução
que conduziu Vargas ao poder, e 1937, quando da implantação do Estado Novo,

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