Edição Inspiradora

AutorLuciana Di Leone
Páginas120-123
http://dx.doi.org/10.5007/1984-784X.2012v12n17p120
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EDIÇÃO INSPIRADORA
Muniz, Fernando (org.). As artes do entusiasmo. A inspiração da Grécia antiga à
contemporaneidade. [Coleção Estudos Clássicos. Volume I], Rio de Janeiro: FAPERJ,
7Letras, 2011, 112 pp.
Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde
Brinde”, Stéphane Mallarmé
Embriaguez e engajamento (“Une ivresse belle m‟engage) raramente se associam
talvez por isso, quando a associação acontece a imagem que gera pode parecer imprevisível,
fragmentada, inaudita com uma exceção discutida longamente desde a antiguidade: a do
poeta ou artista inspirado. O poeta, para ser poeta, deve estar embriagado, deve ter bebido
o elixir da musa. Inclusive, no seio da própria modernidade que por todos os meios
tentou afastar a arte de qualquer relação com o incompreensível Mallarmé retoma, em
“Brinde”, o gesto da inspiração, levanta a taça para beber, colocar o elemento estonteante
dentro de si: e entusiasmar-se. Esse gesto complexo, pelo qual se interpenetram o eu e o
outro, o poeta e os deuses, o dentro e o fora, sob diversos pontos de vistas e através de
diversos objetos, é o foco da instigante coletânea organizada pelo professor de filosofia da
Universidade Federal Fluminense, Fernando Muniz.
A coletânea vem anunciar uma coleção promissora e necessária, a Coleção Estudos
Clássicos projetada pelo Pólo de Estudos Clássicos do Rio de Janeiro, que reúne diversos
laboratórios e programas de estudos em Filosofia e Letras, e que conta com o apoio da
FAPERJ, a Fundação Biblioteca Nacional e a Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos.
Ao mesmo tempo, a coleção poderá permitir aos estudantes e pesquisadores de áreas afins
à filosofia o acesso a uma genealogia que passa pelas diversas fases do que se entende por
clássico de questões filosóficas e conceituais contemporâneas, mas não novas.
Na apresentação, Fernando Muniz deixa clara a importância da escolha das teorias e
as artes do entusiasmo para o volume inaugural: se, por um lado, “o entusiasmo é, sem
dúvida, o mais antigo e resistente modelo explicativo da criação poética” (p.13), por outro,
esse modelo, tem sido o mais negado e discutido pelas teorias modernas ou seja, dos
últimos dois séculos sobre a literatura. O termo entusiasmo, portanto, é logo no começo
apresentado e desdobrado por Muniz com a ajuda da etimologia, mesmo que ela não seja

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