Influência da governança corporativa na escolha do tipo de gerenciamento de resultados

AutorVania Regina Morás - Roberto Carlos Klann
CargoDoutoranda em Ciências Contábeis e Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis (FURB) - Doutor em Ciências Contábeis e Administração (FURB)
Páginas105-122
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 105-122, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p105
Influência da governança corporativa na escolha do tipo de
gerenciamento de resultados
Influence of corporate governance on choice of earnings management type
Influencia del gobierno corporativo en la elección del tipo de earnings management
Vania Regina Morás*
Doutoranda em Ciências Contábeis e Administração pelo
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis (FURB)
Professora do Departamento de Contabilidade (FURB),
Blumenau/SC, Brasil
vaniar.moras@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-3977-8357
Roberto Carlos Klann
Doutor em Ciências Contábeis e Administração (FURB)
Professor do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis (FURB), Blumenau/SC, Brasil
rklann@furb.br
https://orcid.org/0000-0002-3498-0938
Endereço do contato principal para correspondência*
Rua Antônio da Veiga, 140, Itoupava Seca, 89012-900, Blumenau/SC, Brasil
Resumo
O estudo objetiva analisar a influência da governança corporativa (GC) na escolha do tipo de gerenciamento
de resultados (GR). A amostra compreendeu 179 empresas brasileiras de capital aberto, ativas no ano de
2014 e que possuíam dados suficientes, desconsiderando-se as pertencentes ao setor financeiro e de
seguros, por apresentarem características diferentes das demais empresas que compõem a amostra. O
período investigado foi de 2014 a 2018, com dados coletados na base Thompso n One Banker
®
, analisados
por meio de estatística descritiva, regressão linear múltipla e regressão logit. Os resultados apontam que a
GC está relacionada negativamente ao GR por atividades reais, não sendo encontrada relação significativa
desta com o GR por accruals. O teste de robustez mostrou uma relação positiva da GC com ambientes de
baixo GR por atividades reais e elevado GR por accruals. Este estudo contribui com a literatura e órgãos
reguladores ao indicar que determinados mecanismos de GC podem mitigar o GR por atividades reais, porém,
não possuem o mesmo poder em relação ao GR por escolhas contábeis.
Palavras-chave: Governança Corporativa; Gerenciamento de Resultados; Accruals Discricionários;
Atividades Reais
Abstract
The study aims to analyze the influence of corporate governance (CG) in choosing the type of earnings
management (GR). The sample comprised 179 Brazilian publicly traded companies, active in 2014 and that
had sufficient data, disregarding companies belonging to the financial and insurance sector, for presenting
different characteristics from the other companies that compose the sample. The period investigated was from
2014 to 2018, with data collected from the Thompson One Banker
®
data base, analyzed using descriptive
statistics, multiple linear regression and logit regression. The results indicate that the CG is negatively related
to the GR by real activities, not being found a significant relation of this with the GR by accruals. The robustness
test showed a positive relationship between CG and environments with low GR for real activities and high GR
for accruals. This study contributes to the literature and regulatory agencies by indicating that certain CG
mechanisms can mitigate GR by actual activities, but do not have the same power in relation to GR by
accounting choices.
Keywords: Corporate Governance; Earnings Management; Discretionary Accruals; Real Activities
Resumen
El estudio tiene como objetivo analizar la influencia del gobierno corporativo (GC) en la elección del tipo de
earnings management (GR). La muestra comprendió 179 empresas brasileñas que cotizan en bolsa, activo
en 2014 y que contaba con datos suficientes, sin tener en cuenta a las empresas pertenecientes al sector
Influência da governança corporativa na escolha do tipo de gerenciam ento de resultados
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 44, p. 105-122, jul./set., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n44p105
financiero y de seguros, para presentar diferentes características de las otras empresas que componen la
muestra. El período investigado fue de 2014 a 2018, con datos recopilados de la base de datos Thompson
One Banker
®
, analizados mediante estadística descriptiva, regresión lineal múltiple y regresión logit. Los
resultados indican que el GC está relacionado negativamente con el GR por actividades reales, no
encontrándose una relación significativa de este con el GR por acumulaciones. La prueba de robustez mostró
una relación positiva entre GC y entornos con bajo GR para actividades reales y alto GR para acumulaciones.
Este estudio contribuye la literatura y las agencias reguladoras al indicar que ciertos mecanismos de GC
pueden mitigar los recursos genéticos mediante actividades reales, pero no tienen el mismo poder en relación
con los recursos genéticos mediante las GR elecciones contables.
Palabras clave: Gobierno Corporativo; Earnings Managem ent; Acumulaciones Discrecionales; Actividades
Reales
1 Introdução
A qualidade das informações contábeis de uma organização está atrelada ao bom senso dos gestores
em detalhar as informações contábeis, de acordo com as normas reguladoras. Porém, o descontentamento
e interesses desses gestores, bem como os interesses da própria organização em atingir metas, podem
resultar na manipulação das informações contábeis (YANG; KRISHNAN, 2005).
Schipper (1989) destaca que os gestores das organizações, com o objetivo de maximizar seus ganhos
por meio do oportunismo, podem minimizar a qualidade das informações contábeis divulgadas, por meio de
práticas de gerenciamento de resultados (GR). Este ocorre quando os administradores usam de julgamento
para manipular o processo de elaboração das demonstrações financeiras, com intenção de alterar as
informações divulgadas, objetivando induzir a percepção dos stakeholders sobre o desempenho econômico
e financeiro da organização (HEALY; WAHLEN, 1999). O GR é amplamente percebido como um meio de
distorcer ou manipular os ganhos contábeis para beneficiar os gestores às custas de acionistas (ORAZALIN,
2019). De acordo com Roychowdhury (2006), a prática de GR se dá por meio das escolhas contábeis
(accruals discricionários) ou por atividades reais (decisões operacionais). Analisar o trade-off entre elas é
importante, pois o exame isolado de uma delas nem sempre explica o efeito geral das práticas de GR
(FIELDS; LYS; VINCENT, 2001). A manipulação de atividades reais ocorre durante o ano fiscal, após o qual
os gerentes ainda têm a chance de ajustar os lucros com base em accruals. Essa diferença de tempo implica
que os gerentes ajustariam o último com base no resultado da manipulação de atividades reais
(ROYCHOWDHURY, 2006; COHEN; DEY; LYS, 2008; ZANG, 2011; COHEN; ZAROWIN, 2010).
O GR por accruals tende a ser mais facilmente observável pelo controle interno, por auditores,
acionistas, analistas, investidores ou outros interessados na informação contábil. Por outro lado, o GR por
atividades reais é mais custoso para a empresa, pois tem reflexo no caixa, enquanto o primeiro não.
Shan (2015) destaca que mecanismos de governança corporativa eficientes poderiam moderar o nível
de GR. Lin e Rong (2012) argumentam que as empresas com mecanismos de governanças mais robustos
tendem a prezar pela qualidade das informações contábeis. Para Nazir e Afza (2018), a Governança
Corporativa (GC) é vista como um processo para reduzir a distância existente entre proprietários,
administração da empresa e a sociedade de maneira geral. Ela representa ferramentas de monitoramento
que operam dentro do sistema de governança de uma empresa, que tendem a ser potencialmente úteis na
redução da assimetria de informações (ORAZALIN, 2019).
Garven (2015) destaca que a manipulação dos lucros, mesmo que não viole as normas contábeis,
pode levar a informações inadequadas sobre a empresa, tendo efeitos prejudiciais sobre a qualidade dos
relatórios financeiros. No entanto, essa manipulação pode ser mitigada por meio da aplicação de mecanismos
de GC eficientes.
Desse modo, as boas práticas de governança corporativa alinham os interesses de proprietários e
executivos, com a finalidade de otimizar o valor da organização, desenvolvendo mecanismos de auditoria,
transparência e segurança, mediante a ação dos comitês de supervisão, gerando a confiança necessária para
um adequado funcionamento da economia de mercado (CORNETT; MARCUS; TEHRANIAN, 2008; NAZIR;
AFZA, 2018).
Diri, Lambrinoudakis e Alhadab (2020) destacam que boas práticas de GC auxiliam a aprimorar a
confiabilidade dos relatórios financeiros evidenciados pelas empresas, melhorando o desempenho das
companhias, impedindo a expropriação dos acionistas controladores e garantindo uma melhor tomada de
decisão. Boghdady (2019) considera que a GC pode reduzir os incentivos às práticas de GR pelas empresas.
Alguns atores da GC, como o conselho de administração, o comitê de auditoria e outros, podem inibir a
manipulação das informações contábeis. Portanto, a GC é suscetível para reduzir a incidência de GR nas
empresas.
Na literatura, as discussões sobre a GC e seu papel na melhoria da qualidade da informação contábil,
principalmente pela mitigação de práticas de gerenciamento de resultados, são amplas. No entanto, ao
considerar que tais práticas podem ocorrer, predominantemente, por escolhas contábeis (accruals) ou
decisões operacionais não se tem conhecimento na literatura de estudos que tenham discutido a influência

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