Índios no nordeste: por uma história socioambiental regional

AutorEdson Hely Silva
CargoDoutor em História pela UNICAMP; Pós-doutorado em História pela UFRJ. Professor de História no Centro de Educação/Col. de Aplicação/UFPE. E-mail: edson.edsilva@hotmail.com
Páginas117-136
https://cadernosdoceas.ucsal.br/
Cadernos do Ceas, Salvador/Recife, n. 240, p. 117-136, jan./abr., 2017 | ISSN 2447-861X
ÍNDIOS NO NORDESTE: POR UMA HISTÓRIA SOCIOAMBIENTAL
REGIONAL
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Indigeneous peoples in brazilian Northeast: towards a regional social
enviromental history
Edson Hely Silva
Doutor em História pela UNICAMP; Pós-doutorado em
História pela UFRJ. Professor de História no Centro de
Educação/Col. de Aplicação/UFPE.
E-mail: edson.edsilva@hotmail.com
Informações do artigo
Submetido em: 8/2/2017
Aceito em: 6/4/2017
Resumo
Os estudos atuais sobre os povos indígenas no Brasil, a
partir de novas abordagens, evidenciam o protagonismo
histórico dos índios. Muito diferentemente da maioria
das pesquisas anteriores à década de 1980, que
enfatizavam uma história de vitimização, perdas
culturais quando comparados com indígenas na
Amazônia e baseados n a ideia da mestiçagem,
anunciavam o desaparecimento dos povos indígenas,
principalmente os habitantes nas regiões mais antigas da
colonização portuguesa, a exemplo do Nordeste. Os
povos indígenas no Semiárido do Nordeste, a exemplo
dos Pankará na Serra do Arapuá , em Carnaubeira da
Penha no Sertão e os Xukuru do Ororubá na Serra do
Ororubá, no Agreste pernambucano, afirmam suas
identidades a partir da reelaboração cultural no processo
da colonização, em contextos de disputas pelas terras e
mobilizações sociopolíticas para conquista e garantia de
direitos sociais. Pensar os povos indígenas no Semiárido
nordestino na perspectiva de uma História
Socioambiental é realizar o exercício de reflexões sobre
as relações entre esses grupos humanos e as condições
de vida onde habitam. Contribuindo para discussões na
perspectiva histór ica que evidenciem as relações de
poder, o acesso e a utilização de recursos naturais pelos
povos indígenas nas suas interações com o Ambiente no
Semiárido no Nordeste do Brasil.
Palavras-chave: índios. Nordeste. História. Ambiente.
Semiárido
Índios no Nordeste X índios na Amazônia: entre imagens e discursos
Em geral, imagens e discursos sobre os índios no Brasil evidenciam os indígenas
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na
Amazônia ou no Xingu como “puros”, autênticos e “verdadeiros” em oposição aos habitantes
em outras regiões do país, principalmente nas mais antigas da colonização portuguesa, a
exemplo do Nordeste, baseiam-se em uma ideia equivocada de culturas supostamente
melhores, superiores ou inferiores. O que muitas das vezes aprendemos sobre os índios na
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As reflexões para a ela boração desse texto foram inicialmente apresentadas na mesa- redonda Povos
tradicionais e meio ambiente, durante a 1ª Semana de Estudos Amazônicos na Unicap, realizada de 25 a
28/10/2016 na Universidade Católica de Pernambuco/UNICAP, em Recife/PE. Agradeço a gentileza pela
indicação e o convite da Profa. Dra. Valdenice Raimundo, do Curso de Serviço Social/UNICAP, para participar
no referido evento.
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Utilizamos as grafias “índios” ou “indígenas” como explicitadas pelos próprios (BANIWA, 2006).
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Índios no Nordeste: por uma história socioambiental regional | Edson Hely Silva
nossa formação escolar, está associado basicamente às imagens do que é também na maioria
dos casos veiculado pela mídia: o índio genérico, ou seja, um indivíduo sem nenhum vínculo
com um povo indígena concreto.
Ou também com um biótipo de indivíduos de cabelos lisos, muitas pinturas corporais
e adereços de penas, nus, moradores das florestas e de culturas exóticas, etc. Os diversos
grupos étnicos são chamados de “tribos” e assim pensados como primitivos, atrasados. Ou
ainda imortalizados pela literatura romântica do Século XIX, como nos livros de José de
Alencar, onde são apresentados índios belos e ingênuos, ou valentes guerreiros e
ameaçadores canibais, ou seja, bárbaros, bons selvagens ou heróis.
Quando as pesquisas antropológicas afirmam que as culturas são dinâmicas e apenas
diferentes e mais do que isso: são resultados das relações históricas entre os diferentes
grupos humanos. Ou seja, para melhor se compreender os atuais povos in dígenas no
Nordeste, é necessário compreender a história das relações socioculturais decorridas dos
mais de 500 anos de colonização na Região.
Se por um lado, em razão da ignorân cia e do desconhecimento, tais discursos e
imagens equivocadas fundamentam-se sobre uma suposta “pureza” dos grupos indígenas na
Amazônia, por outro, até mesmo naquela Região, são utilizados “pré-conceitos” e discursos
perversos para negar as identidades indígenas. A ex emplo dos grandes latifundiários,
madeireiras, empresas de mineração privadas e até públicas, grandes projetos
governamentais para construções de barragens e hidrelétricas e demais interessados nas
terras dos povos indígenas. Portanto, negam as identidades indígenas para omitir seus direitos,
principalmente aos territórios onde habitam.
Darcy Ribeiro sobre os índios no Nordeste: a retórica do desaparecimento
Durante muito tempo, nos estudos sobre a História do Brasil, além das referências ao
“índio” apenas nos primeiros anos da colonização, predominou a visão sobre os povos nativos
como vitimados pelos inúmeros massacres, extermínios e genocídios provocados pela
invasão dos portugueses a partir de 1500, e que os poucos sobreviventes estavam
condenados ao desaparecimento engolidos pelo progresso, através da “aculturação”,
integrando-se à nossa sociedade, como preconizou Darcy Ribeiro no conhecido livro Os índios
e a civilização. Em geral, essas ideias que permanecem sendo ensinadas na maioria das
escolas e mesmo nas universidades, ainda aparecem em muitos manuais didáticos,

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