A (in)dignidade humana e a banalidade do mal: diálogos iniciais com o hannah arendt

AutorAurora Amélia Brito de Miranda
CargoAssistente Social
Páginas215-231
Artigo recebido em: 01/03/2018 Aprovado em: 09/05/2018
A (IN)DIGNIDADE HUMANA E A
BANALIDADE DO MAL: diálogos iniciais com
o Hannah Arendt
Aurora Amélia Brito de Miranda1
Resumo
O artigo busca, a partir do pensamento de Hannah Arendt, problematizar as
categorias dignidade humana e banalidade do mal para pensar os direitos hu-
manos na contemporaneidade. Embora a análise da pensadora seja sobre a ex-
periência das sociedades totalitárias do século passado re etindo sobre a ques-
tão do mal, seu pensamento é atual e instigante, ao a rmar a necessidade da
construção dos direitos humanos pelos homens e não, simplesmente, como um
catálogo de declarações e leis.
Palavras-chave: Direitos humanos, dignidade humana, banalidade do mal.
THE HUMAN (IN)DIGNITY AND THE BANALITY OF EVIL:
initial dialogues with of Hannah Arendt
Abstract
We seek from the t hought of Hannah Arendt, to problematize the category of
human dignity and banality of evil to think about human rights in the con-
temporary world. Although the analysis of Arednt is on the experience of the
totalitarian societies of the last century that re ects on the question of evil, her
thinking is current and instigating, a rming the need for the construction of
human rights by men and not simply a universe of declarations and laws.
1 Assistente Social, Doutora em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em
Políticas Públicas (PPGPP) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Professora
do Departamento de Serviço Social (DESES) da UFMA. E-mail: aameliabm@uol.com.
br / Endereço: Universidade Federal do Maranhão - UFMA: Av. dos Portugueses, 1966,
Bacanga - São Luís – MA. CEP 65080-805
MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS
DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE
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Aurora Amélia Brito de Miranda
Key words: Human Rights, human dignity, banality of evil.
1 INTRODUÇÃO
Entendemos que o pensamento de Hannah Arendt é atual
e instigante, principalmente o conceito de banalidade do mal para
compreender a sociedade moderna, uma sociedade na qual a lógica
do consumo, do supér uo e do descartável está dominando todas as
relações, desde o terrorismo islâmico contra inocentes, da guerra do
Iraque e da guerra civil pela democracia na Síria; dos crimes associa-
dos à droga e a internação compulsória, a violência e o desrespeito
aos pobres, a violência sistemática que é exercida por pessoas banais,
da tragédia da violência e da covardia legalizadas e banalizadas.
As formulações de Arendt sobre a banalidade do mal perpas-
sam todo seu pensamento, mas neste trabalho, utilizamos principal-
mente Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal
(1983) e A vida do espírito (2012), que contém 02 volumes e um
apêndice que tratam respectivamente sobre o pensar, o querer e o
julgar que são, conforme a autora, as três atividades espirituais bási-
cas. Aqui trabalhamos basicamente com a atividade do pensar.
Segundo Arendt (2012), essas atividades não podem ser de-
rivadas umas das outras e, embora tenham características comuns,
não podem ser reduzidas a um denominador comum. Não se deve
estabelecer uma ordem hierárquica entre elas, porém, é inegável que
existe uma ordem de prioridades.
Se o poder da representação e o esforço para dirigi r a atenção do
espírito para o que escapa da atenção da percepção sensível não
se antecipassem e preparassem o espírito para re etir, assim como
para o querer e para o julgar, seria impossível pensar como exer-
ceríamos o querer e o julgar, isto é, como poderíamos lidar com
as coisas que ainda não são, ou que já não são mais. Em outras
palavras, aquilo que geralmente chamamos de “pensar”, embora in-
capaz de mover a vontade ou de prover o juízo com regras gerais,
deve preparar os particulares dados aos sentidos de tal modo que o
espírito seja capaz de lidar com eles na sua ausência; em suma, ele
deve de-sensorializá-los. (ARENDT, 2012, p. 95, grifo da autora).
Arendt (2012, p. 95) a rma ainda que o objeto do pensamento
é diferente da imagem, assim como a imagem é diferente do objeto
sensível e visível, do qual é uma simples representação, portanto, é
por causa dessa dupla transformação que o pensamento de fato vai
mais longe ainda, para além da esfera de toda imaginação p ossível,

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