Implicações sociais de práticas empresariais ditas 'sustentáveis'

AutorMárcia Maria Andrade De Carvalho
CargoMárcia Maria Andrade de Carvalho é mestre em Planejamento Regional (Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ), doutoranda em Planejamento Regional (UFRJ) e professora da Universidade Católica do Salvador (UCSal). [andrademarcia1@bol.com.br]
Páginas55-68
IMPLICAÇÕES SOCIAIS DE PRÁTICAS
EMPRESARIAIS DITAS “SUSTENTÁVEIS”
MÁRCIA MARIA ANDRADE DE CARVALHO *
1. INTRODUÇÃO
Em meados da década de 1970 percebeu-se que o desenvolvimento no
modelo em vigor, como sinônimo de crescimento, ou seja, aumento de bens
materiais, medido pelo o Produto Nacional Bruto (PNB), articulava apenas
alguns beneficiários. O desenvolvimento baseava-se no crescimento da
economia de mercado às custas da destruição de outras economias, como a
economia dos processos naturais e a economia da sobrevivência humana. A
partir de então, portanto, foi percebido como destruidor da estabilidade
ecológica e das fontes de subsistência dos povos, embora tivesse prometido
gerar abundância e eliminar a pobreza. No Terceiro Mundo, conforme Vandana
Shiva (2003: 28-31), converteu-se em fonte de pobreza ao provocar a
destruição dos meios de subsistência e dos sistemas de manutenção da vida.
Daí surgiram propostas para o desafio de conceber um desenvolvimento mais
distributivo. A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU),
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), a Conferência sobre Trabalho, Distribuição de Renda e Progresso
Social da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Banco Mundial
foram instituições que tentaram conceber propostas de desenvolvimento que
levassem em conta todos os aspectos da vida dos grupos humanos. Cerca de
dez anos depois o desenvolvimento sustentável surge como proposta da
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) como
agenda global para mudança a ser apresentada na Assembléia Geral da ONU,
em 1983.
A Comissão teria sido constituída com o objetivo de propor estratégias
ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por
volta do ano 2000 e daí em diante. As principais áreas trabalhadas foram
energia, indústria e segurança alimentar. A agenda foi publicada em forma de
relatório, que ficou conhecido como Relatório Brundtland, apresentado à
Assembléia Geral da ONU em 1987. De acordo com o relatório, acredita-se
que os homens podem construir um futuro mais próspero, mais justo e seguro.
Ele vê a possibilidade de uma nova era de crescimento econômico, que tem de
se apoiar em práticas que conservem e expandam a base de recursos
ambientais. A esperança está condicionada a uma ação política decisiva.
Afirma-se que é chegado o momento de tomar as decisões necessárias a fim
de garantir os recursos para o sustento desta geração e das próximas.
A partir de então muitos projetos e programas de desenvolvimento sustentável
têm sido implementados. Na Bahia, podemos citar, a título de exemplo, o
Projeto Áridas (1994) e os Programas de Desenvolvimento Regional
Sustentável (PDRS) da Chapada Diamantina (1997), do Oeste da Bahia
(1997) e do Sul da Bahia (1997). No caso analisado por Clóvis Caribé (2001),

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