IMAGEM E MEMÓRIA EM SUBMISSÃO: UM CURTA METRAGEM SOB O OLHAR DA SOMALI AYAAN HIRSI ALI

AutorEumara Maciel dos Santos
Páginas147-151
GÊNERO | Niterói | v.14 | n.1 | 2.sem.2013 147
IMAGEM E MEMÓRIA EM SUBMISSÃO: UM CURTA
METRAGEM SOB O OLHAR DA SOMALI AYAAN HIRSI ALI
Eumara Maciel dos Santos
Universidade Federal do Oeste da Bahia
E-mail: eumaramaciel@hotmail.com
O curta-metragem Submissão – Parte I (2004) é inspirado nas memórias
da somali Ayaan Hirsi Ali. Ela escreveu o roteiro e o codirigiu junto ao holan-
dês Theo van Gogh, que acabou sendo assassinado após a exibição do curta,
por conta do tom de crítica ao fundamentalismo islâmico. Ayaan, até hoje,
vive sob forte esquema de segurança, pois foi avisada pelo assassino de Theo
- através de uma carta cravada com um punhal no peito do diretor - que ela
seria a próxima: o preço do relato de suas memórias como mulher que viveu a
experiência do muçulmanismo.
A Somália islamizada: nessa parte de África, arremessada ao Oceano Ín-
dico, foram delineadas muitas das memórias de Ayaan Hirsi Ali. Mogadíscio
foi um dos cenários em que a somali viveu sob um regime de fundamentalismo
religioso. Na saga de quem é mulher no islamismo, ela acabou sendo subme-
tida aos ritos e mitos da excisão genital, levou constantes surras na infância e
também na juventude, ao ponto de ter o crânio rachado por um religioso que
lhe ensinava os dogmas do islã, sendo, inclusive, obrigada a se casar com um
homem que não amava. Depois de longo sofrimento, diásporas e questiona-
mentos, passou de defensora da Irmandade Muçulmana à descrente, chegan-
do até mesmo a ser parlamentar e crítica ao Islã.
Como refugiada na Holanda, despertou a ira dos muçulmanos quando pro-
duziu o curta Submissão (2004), no qual uma jovem muçulmana aparece de
burca e, ao mesmo tempo que reza, questiona e critica o Islã: não há estranha-
mento quando ganha inúmeros inimigos, já que é uma “infiel” atacando a palavra
de Alá a partir das memórias que guardou dos seus tempos de devoção.
Um filme passa na cabeça de quem rememora; a memória tem essa magia
de trabalhar também com as imagens em movimento num ímpeto de tornar
vivo o que se lembra. Um turbilhão de cenas é desencadeado e o passado se
faz presente, afinal, a imagem é um dos artefatos da memória.
Sobre essas encenações, entre imagem e memória, este artigo foi escrito
a partir da análise do curta-metragem Submissão que tem roteiro da somali
Ayaan Hirsi Ali e direção do holandês Theo van Gogh. O curta, exibido na
televisão holandesa em 2004, desvela um fragmento denso de representa-

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