A igreja universal do reino de deus e as «Raabes Modernas» No contexto Português: Uma (des)construção de violências?
| Autor | Monise Martinez |
| Páginas | 95-113 |
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 6 - Nº 02 - Ano 2017
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E AS «RAABES
MODERNAS» NO CONTEXTO PORTUGUÊS: UMA
(DES)CONSTRUÇÃO DE VIOLÊNCIAS?
Monise Martinez1
Resumo: O presente artigo tem como
objetivo promover uma reflexão acerca da
proposta de assistência a mulheres que
sofreram (e sofrem) violência doméstica
e/ou familiar apresentada no âmbito do
projeto Raabe, concebido pela Igreja
Universal do Reino de Deus em sua
atuação recente no contexto específico da
sociedade portuguesa. Para tanto, será feita
uma análise do discurso institucional de
apresentação do projeto, publicado na
página oficial da igreja em Portugal, a
partir de dois eixos de discussão principais:
o modelo de conduta feminina apresentado
pela igreja como resolutivo às
consequências geradas pela exposição de
mulheres aos episódios de violência
doméstica e/ou familiar, e a partir dele, a
proposição de questionamentos, à luz das
considerações de Pierre Bourdieu sobre a
dominação masculina, acerca dos
pressupostos que embasam o projeto e a
consequente categorização das mulheres
1
que pretendem auxiliar como vítimas,
culpadas ou cúmplices.
Palavras-chave: Feminilidade. Violência
Doméstica. Violência Simbólica. Igreja
Universal do Reino de Deus; Projeto
Raabe.
Resumen: El presente artículo tiene como
objetivo proponer una reflexión sobre la
propuesta de asistencia a las mujeres que
sufrieron (o sufren) episodios de violencia
doméstica y/o familiar presentada en el
marco del proyecto Raabe, realizado por la
Iglesia Universal del Reino de Dios en su
actuación reciente en el contexto especifico
de la sociedad portuguesa. Para hacerlo, se
hará una análisis del discurso institucional
para la presentación del proyecto,
publicado en la sitio web oficial de la
iglesia en Portugal, partiendo de dos ejes de
discusión principales: el modelo de
conducta femenina presentado por la
iglesia como resolutivo a las consecuencias
generadas por la exposición de mujeres a
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los episodios de violencia doméstica y/o
familiar y, desde ello, la proposición de
cuestionamientos, bajo las consideraciones
de Pierre Bourdieu sobre la dominación
masculina, sobre los presupuestos que
fundamentan el proyecto y la consecuente
comprensión de las mujeres que se
proponen a ayudar como victimas,
culpables o cómplices.
Palabras-clave: Femineidad. Violencia
Doméstica. Violencia Simbólica. Iglesia
Universal del Reino de Dios. Proyecto
Raabe.
INTRODUÇÃO
Fundada em 1977 no Rio de
Janeiro pelo bispo Edir Macedo, a Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD) é
atualmente compreendida como uma
denominação evangélica que, no âmbito
dos estudos realizados sobre o
pentecostalismo no contexto brasileiro,
foi considerada como parte do que o
sociólogo Paul Freston (1994) definiu
como «terceira onda do pentecostalismo
clássico» e, posteriormente, os sociólogos
Ricardo Mariano (1994; 2004) e o
antropólogo Emerson Giumbelli (2001)
2 Os costumes de santidade nesse contexto
referido dizem respeito ao caráter do asceticismo
definiram como «neopentecostal» e «pós-
pentecostalismo» — classificações que
comumente contextualizam a IURD
como parte de um movimento dissidente
do pentecostalismo norte-americano
clássico e que, entre outras coisas,
caracterizou-se por pregar e propagar a
Teologia da Prosperidade e por
desapropriar-se dos tradicionais costumes
de santidade2 vinculados à imagem dos
grupos religiosos pentecostais (cf.
Mariano, 1996).
Tendo angariado um número
de fiéis considerável durante os
primeiros anos de sua atuação originária
no contexto brasileiro, o processo de
transnacionalização da IURD, que
consistiu em sua instalação, alicerçada
por pressupostos mercadológicos, em
outros países (cf. Oro, 2004), teve início
em meados da década de 1980, tendo
avançado com mais ímpeto a um maior
número de países nos anos 1990 (cf.
Freston, 1999), década na qual
expandiu-se consideravelmente pelo
continente europeu ao adentrar
estrategicamente por Portugal (cf.
Aubrée, 2000), cuja facilidade do
idioma e o perfil migratório de grande
parte fiéis angariados facilitou a sua
— que remete a negação dos prazeres da carne —
típico das igrejas pentecostais (cf. Mariano, 1996).
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