Identificando o tema da sustentabilidade em textos jornalísticos: análise indiciária

AutorMonica Filomena Caron - Gabriela Rosa Lopes
CargoDoutora em Linguística Aplicada ao Ensino/Aprendizagem de Língua Materna pela Universidade de Campinas - Mestranda em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil
Páginas192-212
1807-1384.2014v11n1p192
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
IDENTIFICANDO O TEMA DA SUSTENTABILIDADE EM TEXTOS
JORNALÍSTICOS: ANÁLISE INDICIÁRIA
Monica Filomena Caron
1
Gabriela Rosa Lopes2
Resumo:
Desde que o termo sustentabilidade foi criado, em reuniões governamentais
internacionais do século XX, a mídia tem dado especial atenção ao tema, que se
tornou recorrente nas notícias veiculadas, principalmente nas duas últimas décadas.
Por esse motivo, objetivou-se analisar: as formas como são apresentadas as
notícias a respeito do tema; o embasamento que ocorre na sua abordagem a partir
das designações, abrangência, profundidade e alcance; as tendências e diversas
manifestações ideológicas presentes no noticiar dos jornais Folha de São Paulo e O
Estado de São Paulo. Para tanto, utilizou-se como metodologia de pesquisa o
Paradigma Indiciário, descrito inicialmente por Ginzburg (1986), e que prevê a
identificação e discussão de indícios, pistas, sintomas e singularidades. Foi possível
perceber, a partir das análises, que o tema da sustentabilidade é tratado de forma
negligente pelos jornais, pois deixa-se de lado (silencia-se) sobre importante
contextualização para o entendimento adequado da parte do leitor e legitima-se a
existência de interesses político-econômicos no trato do tema, priorizando-se
algumas variáveis (em detrimento de outras), conduzindo o leitor a conclusões
equivocadas, desrespeitando a necessária imparcialidade que o texto jornalístico
deveria sustentar.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Paradigma Indiciário. Discurso jornalístico.
Grande mídia.
INTRODUÇÃO
Visando a contribuir para a compreensão do tema da sustentabilidade, cujo
debate hodierno é diretamente influenciado pela urgência de se efetuar melhorias
nos âmbitos social, econômico e ambiental, nos propomos a analisar de que modo
sua discussão é desenvolvida no discurso midiático, escolhendo o jornalismo
impresso como objeto de estudo, por conta de sua difusão e acessibilidade à
1 Doutora em Linguística Aplicada ao Ensino/Aprendizagem de Língua Materna pela Universidade de
Campinas. Professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Organizações e Sistemas
Públicos da Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: mocaron@ufscar.br
2 Mestranda em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos, SP, Brasil. E-mail: gabi_rosinha@hotmail.com
193
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.1, p. 192-212, Jan./Jun. 2014
população que cerca nossa pesquisa. Entendemos que o modo como são tratadas
as informações sobre um tema tem fundamental importância para a compreensão
das opiniões que serão construídas sobre o tema e seus desdobramentos, ou seja,
no caso específico do debate sobre o tema da sustentabilidade, se resultarão ou não
em ações concretas em favor de crescimento econômico aliado à justiça social e à
preservação de recursos/meios.
O presente artigo resulta dessa proposta e inicia-se com a apresentação de
nossas bases teórico-metodológicas, que incluem os conceitos de sustentabilidade,
discurso e discurso jornalístico. Após isso, são expostos os objetivos que nortearam
a pesquisa, evidenciando-se a relevância da mesma. Na seção relativa à
metodologia adotada na coleta e análise de dados, apresenta-se o Paradigma
Indiciário e as condições de produção do corpus
3 da pesquisa; ensejamos justificar
nossas escolhas em função da adoção por esse paradigma, cuja perspectiva
permite que nossa coleta se dê como individual, tão esclarecedora quanto pode ser
um estudo de caso. Na sequência são apresentados e discutidos os principais
resultados encontrados na pesquisa e resumidas as conclusões da pesquisa.
A palavra sustentabilidade foi criada na década de 1970, a partir de estudos
sobre meio ambiente realizados pela Organização das Nações Unidas, motivados
pelas grandes crises social e ambiental que o mundo enfrentava (GONÇALVES,
2005) e pela necessidade de que se alterassem as formas de exploração e
distribuição dos recursos. Em 1991, galgou-se a interpretação mais difundida do
termo, no Relatório de Brundtland, caracterizando-o como “aquele que responde às
necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (LIMA, 2003, p. 103), o
que exige um esforço mundial em torno de diversas mudanças: melhor distribuição
de renda (dando-se atenção maior aos mais pobres); desenvolvimento de novas
tecnologias (de preferência as “limpas”, que não agridam o meio ambiente), com o
3 Segundo Charaudeau e Maingueneau (2004, p. 137), corpus designa o conjunto de dados que
servem de base para a descrição e análise de um fenômeno. Na verdade, aqui há uma questão
relativa ao modo como se entende o fazer ciência sobre textos. Diferentemente de pesquisas
quantitativas, a pesquisa qualitativa pretende investigar fenômenos multifacetados e não dados
estatísticos e/ou evidências laboratoriais. Nesse caso, por exemplo, poderíamos pensar ser possível
outra pesquisa, na qual a leitura sistemática e diária do jornal teria sido dirigida única e
exclusivamente para a presença da palavra “sustentabilidade”, tarefa que um comput ador seria capaz
de realizar.

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