Identidade, pertencimento e engajamento político nas mídias sociais

AutorPedro Simonard - Anny Rochelly Vieira Santos
CargoDoutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Mestranda no Programa de Pós-graduação Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas. Assessora de Comunicação do Instituto Federal de Alagoas, Maceió, AL, Brasil
Páginas16-31
10.5007/1807-1384.2017v14n3p14
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.14, n.3, p.16-31 Set.-Dez. 2017
IDENTIDADE, PERTENCIMENTO E ENGAJAMENTO POLÍTICO NAS MÍDIAS
SOCIAIS
Pedro Simonard
1
Anny Rochelly Vieira Santos2
Resumo:
Adotando uma perspectiva interdisciplinar, este artigo analisa as mudanças
introduzidas pelas mídias sociais na sociedade partindo de conceitos como
identidade, território e políticas públicas e sua transposição para o mundo virtual,
aqui considerado objeto multidisciplinar. As mídias sociais como território de
pertencimento, onde é possível a governos estabelecerem mecanismos de cont role
de políticas públicas mais democráticas e participativas devido à interação virtual,
são premissas defendidas neste artigo, que ao final mostra como governo e
comunidade hoje têm a possibilidade de dialogar e construir ações, projetos e
programas a partir do engajamento e do ativismo político praticado nas redes
sociais. Como metodologia, foi realizada uma revisão bibliográfica que permitiu a
discussão de conceitos oriundos de distintas áreas de conhecimento, estabelecendo
uma relação entre identidade, território e mídias sociais.
Palavras-chave: Identidade. Território. Mídias Sociais. Multidisciplinaridade.
1 INTRODUÇÃO
Desde a sua popularização, as mídias sociais realizam uma verdadeira
revolução na forma de elaborar e acessar conteúdo, seja ele jornalístico, de lazer ou
informacional. Em um só ambiente, as pessoas leem notícias, acompanham os
amigos por fotos e vídeos e compartilham links de forma gratuita e ilimitada. O
tempo e a diluição do espaço são elementos-chave nesse processo, pois é a partir
deles e por causa deles que todo conteúdo é produzido e distribuído mais
rapidamente, como se pudéssemos acompanhar cada link em tempo real. Esse
mesmo tempo modifica, de forma acelerada, valores e conceitos que antes
alteravam-se lentamente, fazendo com que a modernidade seja cada vez mais
líquida (BAUMAN, 1999 e 2000) e produza a chamada crise de identidade e o
fenômeno da solidão de massa. Estamos cercados de pessoas no ambiente virtual,
mas as nossas diferenças não são bem aceitas nesse meio que tende a padronizar
1 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Antropólogo e
documentarista. Pesquisador do Instituto de Tecnologia e Pesquisa. Professor do Programa de Pós-
graduação Sociedade, Tecnologias e Politicas Públicas, Maceió, AL, Brasil E-mail:
pedrosimonard@gmail.com
2 Mestranda no Programa de Pós-graduação Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas. Assessora
de Comunicação do Instituto Federal de Alagoas, Maceió, AL, Brasil E-mail: nanyrochelly@gmail.com
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emoções, modo de vestir, de falar e de reagir aos fatos, quando as interações se
dão dentro de comunidades virtuais, ao mesmo tempo em que permite ao
interagente contato com múltiplas culturas e redes variadas que diluem padrões de
comportamento. A identidade, que por si só já apresenta natureza negociável e
revogável, torna-se ainda mais instável neste ambiente, apresentando-se fluida e
frágil, assumindo múltiplas facetas em prol da exibição nas redes.
O sentimento de pertencimento une os sujeitos em torno de objetivos comuns,
confortáveis em determinado local e, nesse sentido, a Internet, prioritariamente as
mídias sociais, pode ser considerada espaço para que nela os indivíduos naveguem
e produzam sentido, seja simbólico, social ou afetivo.
A Internet não é apenas espaço, livre de sentimentos e com sentido restrito
ao geográfico, mas ambiente onde coexistem vários territórios, no qual, como em
todo território, sentimentos de pertencimento e poderes invisíveis atuam em direção
ao simbólico. Identidade e território, quando transpostos para as mídias sociais,
intensificam-se em sua essência, permitindo o surgimento do ativismo nas redes
com a formação de grupos de atuação política específicos, ativismo que se mostra
ativo e intenso devido à possibilidade de o interagente
3 manter sua identidade no
anonimato. Interagentes com objetivos semelhantes ganham força nas redes.
Governos, buscando comunicar-se com esses grupos e também para atender às
Leis da Informação e Transparência, que exigem publicidade dos seus atos, aderem
às mídias sociais e, consequentemente, propiciam uma maior participação, controle
(orçamentário, de políticas públicas e ações governamentais) e engajamento político
dos cidadãos (CASTELLS, 2013; LEMOS e LEVY, 2010), muito embora grupos
marginalizados socialmente possam permanecer excluídos no mundo virtual
(RUEDIGER, 2002) e não participem de movimentos ou atividades que possam ser
compreendidas como maior participação democrática. É importante salientar que
muitas das contribuições postadas nas páginas e portais oficiais dos diferentes
níveis de governo hospedadas nas mídias sociais são vazias de conteúdo ou
qualidade. Contudo, estas postagens permitem que indivíduos tornem-se
3 O termo “interagente”, proposto por Primo (2003), substitui “receptor” e “usuário” porque estes
últimos estariam indicando um papel subordinado do sujeito em todo o processo. Já o termo
“interagente” remete à participação e construção de conteúdo. Em alinhamento ao que está sendo
discutido nesse artigo e considerando as premissas defendidas aqui, utilizarem os o termo
“interagente” em todo o texto sempre que nos referirmos àquele que interage por intermédio do
computador.

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