Identidade, arte e instituições: as disputas nos salões de arte nos anos 60

AutorEmerson Dionisio Gomes de Oliveira
CargoProfessor no Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília
Páginas212-236
Identidade, arte e instituições: as disputas nos salões de arte nos anos 1960
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 25, p. 212-236, ago. 2011
IDENTIDADE, ARTE E INSTITUIÇÕES: AS DISPUTAS NOS
SALÕES DE ARTE NOS ANOS 1960
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira*
Resumo: O presente artigo procurou esboçar o comportamento dos mais
importantes salões de artes visuais em quatro cidades (Belo Horizonte, Brasília,
Campinas e Curitiba), nos anos 60. Realizados fora do eixo Rio-São Paulo, tais
salões foram palco de disputas ligadas às questões identitárias – artistas locais
e os de fora – sendo, também, arenas decisivas para diferentes vocabulários
estéticos, em contextos históricos distintos. Contextos estes marcados, no
campo sociopolítico, pelo período militar pós-64, e, no campo artístico, pelas
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suportes e dos gêneros e a gerência da arte por mercados e crítica incipientes
e museus recém-criados.
Palavras-chave: Salões de Arte. Memória. Identidade.
Abstract: This article sought to outline the behavior of the most important
visual art galleries in four cites (Belo Horizonte, Brasília, Campinas and
Curitiba), in the sixties. Conceived outside the Rio-São Paulo circuit, these
galleries were the stage for disputes relating to identity issues – local artists
and those from other parts – and were also decisive arenas for different esthetic
vocabularies, in distinct historic contexts. These contexts were marked in the
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augmentation of supports and genres and the management of art by markets
and incipient criticism and recently created museums.
Keywords: Art Galleries. Memory. Identity.
* Professor no Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília.
E-mail: emerson_dionisio@hotmail.com
DOI: 10.5007/2175-7976.2011v18n25p212
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Os anos 60 foram marcados por transformações que alteraram a relação
entre a produção artística e as instituições de arte, dentro e fora dos centros
culturais hegemônicos. Alterações que podem ser sentidas ainda hoje.1 Embora
se possam constatar essas mudanças, algumas instituições permaneceram mais
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exemplo é o “salão de arte”, que sobreviveu aos questionamentos e aos ataques
empreendidos por artistas e por críticos.
Entre as diversas proposições e os diversos formatos sob o nome de
“salão”, o presente artigo procura mapear o contexto histórico de diferentes
salões de arte fora do eixo Rio-São Paulo.2 Contexto marcado, no campo
sociopolítico, pela ditadura militar a partir de 1964 e, no campo das artes
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e a ampliação dos suportes e dos gêneros.3 Para isso, optei por abordar quatro
exemplos de instituições-evento competitivas e promotoras da visibilidade da
arte do período, em Belo Horizonte, Brasília, Campinas e Curitiba. Todas elas
ligadas a museus públicos ou outras instituições de memória.4 São exemplos
pontuais que se apresentam dentro de um quadro heterogêneo de circunstâncias
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comuns. Entre eles, a proposição de questões sobre a identidade da arte local
e sua censura, como veremos no caso de Brasília.
A história dos salões remonta ao século XVII e está ligada à organização
do fazer artístico   
dissidentes) estiveram no comando de salões importantes no Velho Continente.
No caso do Brasil, deu-se o mesmo com o Salão da Imperial Academia de

da política e da transição do regime monárquico para o republicano, mais de
um século depois, em 1940, foi o Museu Nacional de Belas Artes que passou
a organizar aquele centenário evento (chamado de Salão Nacional de Belas
Artes a partir de 1931).5 Essa trajetória guarda semelhanças com a história dos
salões que chegaram aos anos 60. Os “personagens” que ocuparam a cena são
similares: gerência do Estado, sistema competitivo, seleção e premiação pelo
“mérito”, assimilação das obras pelo poder público ou instituições autorizadas,
relacionamento com sistemas educacionais (escolas) ou divulgadores (museu,
galerias etc.), interferência direta em mercados incipientes de arte etc.
“Personagens” e fatores que se mesclam de modo diverso nos exemplos que
passamos a abordar.

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