Sobre homens, cavalos e corações selvagens: a 'civilização' e a masculinidade hegemônica na identidade dos Estados Unidos na guerra do Iraque.

AutorDiego Santos Vieira de Jesus
Páginas187-205
187
Niterói, v.12, n.2, p. 187-205, 1. sem. 2012
SOBRE HOMENS, CAVALOS E CORAÇÕES
SELVAGENS: A “CIVILIZAÇÃO” E A
MASCULINIDADE HEGEMÔNICA NA IDENTIDADE
DOS ESTADOS UNIDOS NA GUERRA DO IRAQUE
Diego Santos Vieira de Jesus
E-mail: dsvj@puc-rio.br
Resumo: O objetivo é examinar como os conceitos de “civilização” e de mas-
culinidade hegemônica atuaram no processo de construção da identidade
norte-americana por ocasião da guerra do Iraque de 2003. O argumento
central é o de que ambos os conceitos operaram como mecanismos discur-
sivos historicamente contingentes que localizaram espaço-temporalmente
a diferença para a preservação da integridade do Eu e o seu autoconhe-
cimento na relação com seu próprio entendimento do que a objetivida-
de deve ser. No caso da guerra do Iraque, a consolidação das noções de
progresso e “bom governo” no conceito de “civilização”, em contraposição
à “barbárie”, à “selvageria”, à “tirania” e ao “radicalismo” de “Estados-pária”,
como o Iraque, resultou da necessidade de fortalecimento da coesão da
identidade norte-americana. Legitimou-se, assim, a intervenção visan-
do à proteção de cidadãos em relação a governos opressores. A masculi-
nidade hegemônica ligada à violência e ao heroísmo – personificada na
imagem de força e de bravura do cowboy– operou interativamente em tal
conceito,simbolizando o poder da “civilização” contra forças “selvagens” e
“fora da lei” que trariam desordem. Representações alternativas à masculi-
nidade hegemônica personificada na imagem do cowboy – como as mas-
culinidades europeias baseadas na diplomacia e na moderação – foram
depreciadas e associadas à fraqueza e à feminilidade.
Palavras-chave: Estados Unidos; guerra do Iraque; civilização; masculini-
dade hegemônica.
Abstract: The main purpose is to examine how the concepts of “civilization
and hegemonic masculinity worked in the construction of American iden-
tity during the 2003 Iraq War. The central argument is that both concepts
operated as historically contingent discursive mechanisms that located
space-temporally difference in order to preserve the integrity of self and
its self-awareness in relation to its own understanding of what objectiv-
ity should be. In the case of the Iraq war, the consolidation of notions of
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progress and “good government” in the concept of “civilization” against the
“barbarism”, “savagery”, “tyranny” and “radicalism” of “rogue states” like Iraq
came from the need to strengthen the cohesion of American identity. Inter-
vention aimed at protecting citizens against oppressive governments was
legitimized. The hegemonic masculinity connected to violence and heroism
– personified in the image of strength and bravery of the “cowboy” – oper-
ated interactively with such a concept representing the power of “civiliza-
tion” against “wild” and “outlaw” forces that would bring disorder. Alterna-
tive representations to hegemonic masculinity personified in the image of
“cowboy” – such as European masculinities based on diplomacy and mod-
eration – were devalued and associated with weakness and femininity.
Keywords: United States; Iraq war; civilization; hegemonic masculinity.

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