HIV in the elderly: repercussions in the domains of life and family functioning/HIV na terceira idade: repercussoes nos dominios da vida e funcionamento familiar.

AutorSilva, Aline Oliveira

Introducao

No inicio de 1980, surgiu a epidemia da aids trazendo consigo uma serie de duvidas sobre a doenca, alem de estigma e discriminacao para com as pessoas portadoras do virus. Esse estigma esta relacionado ao fato de os primeiros casos da doenca terem sido registrados entre os homossexuais e usuarios de drogas, sendo que esses grupos, ate entao, ja eram excluidos da sociedade (BERNARDI, 2005).

No entanto, conforme apontam Santos e Assis (2011), a epidemia da aids vem sofrendo diversas modificacoes em seu perfil ao longo dos anos, dentre as quais destacam-se os fenomenos de feminilizacao, heterossexualizacao, juventudilizacao, pauperizacao e envelhecimento. O aumento do numero de casos de HIV entre os idosos tem sido associado ao envelhecimento da populacao brasileira, ao aumento da sobrevida das pessoas portadoras do HIV/Aids e ao acesso a medicamentos para disturbios ereteis, fator que tem prolongado a atividade sexual de idosos, em associacao com a desmistificacao do sexo na terceira idade.

Muitas sao as causas atribuidas ao aumento dos indices de contaminacao e de idosos vivendo com o HIV/Aids, dentre eles: mudancas socioculturais, sobretudo na sexualidade; resistencia por parte dos idosos em utilizar camisinha; inovacoes na area da saude; acesso a terapia antirretroviral e inovacoes na area medicamentosa (SERRA et al., 2013).

Para Barros, Guimaraes e Borges (2012), a partir do reconhecimento mundial pelas autoridades sanitarias da ocorrencia e gravidade dos agravos produzidos pelo HIV/Aids, a enfermagem, tanto no Brasil, quanto nos demais paises, passou a exercer seu papel profissional e social, seja na area preventiva, seja na cuidativa.

Schroder (2012) destaca que, gracas aos avancos no tratamento da aids, nota-se uma melhora na sobrevida da populacao, mesmo apos a manifestacao dos sintomas. O tratamento com antirretrovirais possibilita que as pessoas portadoras do HIV vivam por mais tempo e com mais qualidade. Desse modo, percebe-se uma nova categoria relacionada as pessoas com aids na terceira idade, pois existem aquelas que contrairam o virus apos os 60 anos de idade, mas tambem existem aqueles que ja envelheceram com o HIV, uma vez que os sintomas podem levar anos para se manifestar. No entanto, nao importa com que idade se adquiriu o HIV/Aids, e preciso tratar sobre esse assunto com as pessoas idosas, uma vez que este tema traz desafios, medos, contradicoes e preconceitos.

No aspecto social, o idoso convive com o estigma associado ao estar com aids, ao medo dos familiares e da comunidade, a diminuicao dos recursos financeiros, alem das questoes ligadas a qualidade de vida (SERRA et al., 2013).

Nesse sentido, pressupoe-se que a aids afeta tanto os dominios da vida dos idosos quanto o funcionamento familiar. Segundo Addams (2005), os principais dominios ou componentes da vida de um individuo envolvem as seguintes esferas: trabalho, vida familiar, saude, religiao, amizades, situacao financeira, tempo livre e vizinhanca. Esses dominios podem ser percebidos pelos individuos de forma diferenciada, em funcao da importancia dos mesmos na vida das pessoas, ambiente vivenciado e fases do ciclo de vida. Por outro lado, o funcionamento familiar diz respeito a forma de organizacao e envolvimento familiar, apoio e protecao, alem de flexibilidade frente as situacoes adversas e imprevistas. Como destaca Bray (1995), o funcionamento familiar esta associado a composicao familiar, aos processos familiares (fatores comportamentais e interacionais), a organizacao familiar (regras e normas), alem da afetividade, em termos das relacoes de afeto ou apoio.

Entende-se que, diante do impacto do diagnostico, deve surgir uma explosao de sentimentos vindos da duvida sobre contar ou nao para os amigos e familiares, ou ate mesmo para outras pessoas proximas. Esse sentimento acaba por afetar os processos de comunicacao e relacionamento com as pessoas, o que pode levar o paciente a se isolar, enfrentando sozinho sua nova condicao. Apesar disso, como destacam Diniz, Saldanha e Araujo (2010), e de grande importancia o suporte familiar ao paciente no processo de adaptacao a nova realidade.

Assim, o presente artigo objetivou analisar os fatores intervenientes para a aquisicao do HIV, alem de examinar as repercussoes da doenca sobre os dominios da vida do idoso e sobre o funcionamento familiar.

  1. Revisao de literatura

    1.1 Consequencias e implicacoes do HIV/Aids na terceira idade

    O estigma e o preconceito relacionados ao HIV ocasionam diversas consequencias negativas no que se refere a luta contra a aids, tanto no que tange as pessoas que vivem com o virus, quanto no que concerne as estrategias de prevencao (JARDIM, 2012). Para Almeida e Labronici (2007, p.265),

    em funcao das representacoes, advindas do preconceito e da ignorancia, as pessoas com o HIV e a aids vivenciam emocoes singulares, permeadas de sofrimento dentro de um contexto repleto de significados, entre os quais, o medo do abandono, de ser julgado e de revelar sua identidade social, a culpa pelo adoecimento, a impotencia, a fuga, a clandestinidade, a omissao, a exclusao e o suicidio, originados e construidos pelo real convivio com o social que reforca os habitos e expectativas e que estao profundamente enraizados numa sociedade preconceituosa. A descoberta e revelacao da soropositividade e um evento crucial na vida tanto do portador quanto da familia e dos amigos. A percepcao negativa, a discriminacao e a falta de conhecimento difundem o sofrimento, o medo do abandono e do julgamento. A quebra do padrao de vida, a impotencia diante da nova realidade e o consumo exagerado de bebidas alcoolicas sao alguns dos aspectos relacionados a uma doenca estigmatizada (ALMEIDA; LABRONICI, 2007).

    Especificamente nos idosos, a ampliacao no numero de infectados com o HIV pode estar relacionada a uma falha em relacao as tentativas de prevencao para esse grupo, pois, muitas vezes, as campanhas voltam sua atencao para a populacao mais jovem. Outro fator que contribui para o aumento dos casos de aids em idosos e a sexualidade estereotipada, que e culturalmente produzida na sociedade. Os estereotipos de que as pessoas idosas nao tem interesse por sexo ou que sao incapazes de sentir algum estimulo sexual ainda sao amplamente difundidos e, juntamente a isso, a pratica sexual sem protecao contribui para que esse diagnostico aumente cada vez mais (CELEDONIO; ANDRADE, 2014).

    Jardim (2012) relata que o uso do preservativo tambem sofre influencias da existencia de tabus, uma vez que muitas pessoas, ao nao se identificarem como imorais ou promiscuas, nao se veem em situacao de vulnerabilidade e nao se protegem. Os idosos muitas vezes nao se percebem vulneraveis ao HIV, e ate mesmo os profissionais de saude nao tem considerado o publico idoso em situacao de vulnerabilidade. Para Araujo et al. (2007), pensar o envelhecimento sem sexualidade acarreta graves consequencias, sobretudo para a prevencao, pois esta so vai ocorrer caso os familiares e profissionais de saude estejam atentos para discutir abertamente sobre o assunto.

    Outro ponto a ser destacado diz respeito ao comportamento diferenciado dos idosos em face do contagio, sendo mais comum entre homens e com maior nivel socioeconomico (GOMES; SILVA, 2008). Alem disso, como destaca Feijo (2006), e comum, nessa situacao, a existencia de preconceitos, vergonha, depressao e outros aspectos que diminuem o contato e a qualidade do relacionamento com as redes de convivencia.

    Como relatam Saldanha, Felix e Araujo (2008), alem de toda a carga sociomoral que carrega um soropositivo, na velhice algumas construcoes sociais contribuem para o aumento das dificuldades enfrentadas pelo idoso. O medo da dupla rejeicao social leva muitos idosos a procurarem mecanismos de aceitacao social, como, por exemplo, alegarem que a forma de contagio foi atraves de transfusao sanguinea, negando assim o comportamento sexual vulneravel.

    Em estudo realizado por Andrade, Silva e Santos (2010) com 75 idosos portadores do HIV, estes descreveram que a descoberta da doenca acarretou vivencias de estigma e discriminacao. Alem disso, foram apontadas pelos idosos as limitacoes fisicas, a necessidade de acompanhamento clinico ou o uso continuo dos medicamentos e suas eventuais consequencias. Foram citados tambem sentimentos de incredulidade, isolamento e receio de discriminacao, tanto da familia quanto do servico de saude. Ou seja, a aids tem implicacoes nao somente sobre os dominios da vida dos idosos, mas tambem no funcionamento de suas familias, o que leva a busca de apoio ou conforto emocional.

    Os referidos autores comentam que a busca por meios de ajuda ou apoio e considerada uma reacao natural do ser humano que esta passando por uma situacao complicada sob forte estresse, na procura por um conforto emocional. Isto e, ha uma busca por redes de apoio, tanto formais quanto informais, visando ao enfrentamento dos problemas e a saida da crise (ANDRADE; SILVA; SANTOS, 2010).

    Na visao dos autores, as redes de suporte ou apoio social sao conjuntos hierarquizados de pessoas que mantem entre si lacos tipicos de relacoes em que se da e recebe apoio, e nas quais costuma-se fornecer ajuda material, servicos e informacoes; permitir as pessoas crerem que sao cuidadas, amadas e valorizadas em momentos de alguma necessidade; dar garantia de que pertencem a uma rede de relacoes comuns e mutuas; entre outros. O suporte social se torna importante na medida em que corresponde as necessidades experienciadas pelo proprio idoso. Dentro dessa perspectiva, o suporte social inclui uma rede ampla de suporte emocional, informacional e instrumental.

    Assim, a gerontologia classifica os sistemas de apoio em formais e informais, sendo os "formais os servicos de atendimento ao idoso, que incluem hospital, atendimento domiciliar, instituicoes de abrigamento, programas de capacitacao de recursos humanos"; ja os "informais sao as redes de relacionamento entre os membros da familia, amigos e vizinhos...

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