Heterogeneidade estrutural nas relações internacionais da América Latina: um olhar através dos paradigmas de integração regional

AutorLeonardo Granato, Ian Rebouças Batista
CargoProfessor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS/Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS
Páginas5-29
Leonardo Granato
Ian Rebouças Batista
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.31, p.5-29, jul./dez.2017
DOI: 10.11606/issn.1676-6288.prolam.2017.133966
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HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DA AMÉRICA LATINA: UM OLHAR ATRAVÉS DOS PARADIGMAS DE
INTEGRAÇÃO REGIONAL
STRUCTURAL HETEROGENEITY IN LATIN AMERICA’S INTERNATIONAL
RELATIONS: A LOOK THROUGH REGIONAL INTEGRATION PARADIGMS
Leonardo Granato1
Ian Rebouças Batista2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo: O presente artigo busca debater a heterogeneidade que historicamente marca
as relações internacionais da América Latina tanto no âmbito nacional quanto no âmbito
regional. A proposta é trabalhar a referida heterogeneidade como um fator a ser
explicado e como um fator explicativo. No que diz respeito à heterogeneidade como
fator a ser explicado, buscaremos as causas de tal fator na condição periférica
dependente do continente. Com relação à heterogeneidade como fator explicativo,
utilizaremos a heterogeneidade para explicar os entraves à integração regional, ao
revisitarmos os paradigmas das propostas na região (velho regionalismo, novo
regionalismo e regionalismo pós-liberal) e apontarmos a diversidade de interesses,
contextos, desafios, em cada período, nos âmbitos nacional, regional e internacional.
Palavras-chave: Relações Internacionais; América Latina; Integração Regional.
Abstract: This paper aims to debate the heterogeneity that, throughout history, has
shaped Latin America’s international relations in the domestic and regional fields. Our
purpose is to convey heterogeneity as a consequence of the peripheral dependent
conditions as well as a cause that explains the obstacles faced by regional integration
processes, as we revisit the Old Regionalism, New Regionalism and Post-Liberal
Regionalism paradigms, exposing the diversity of interests, contexts, challenges, in each
period, in the domestic, regional and international fields.
Keywords: International Relations; Latin America; Regional Integration.
1 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da U FRGS. Ema il:
granato.leonardo@gmail.com.
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política d a UFRGS. Email:
reboucas.ian@gmail.com.
Leonardo Granato
Ian Rebouças Batista
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.31, p.5-29, jul./dez.2017
DOI: 10.11606/issn.1676-6288.prolam.2017.133966
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1 INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, as relações internacionais dos países latino-americanos
caracterizaram-se pela heterogeneidade de orientações e posicionamentos, decorrente
das diferentes opções assumidas em matéria de modelos políticos (governo, regime), de
modelos de desenvolvimento, de estratégias de inserção externa, de agendas bilaterais
com os Estados Unidos; em definitivo, da diversidade cultural, social, política e
econômica contida em cada história nacional. Tal heterogeneidade tem tido expressão
de forma particular nos processos de integração regional, dificultando, até os dias atuais,
a alternativa de construir um espaço institucional que possibilitasse unificar a visão
estratégica do continente. Esta diversidade ou heterogeneidade estrutural3 tem se
manifestado, segundo o retratado por Paradiso (2008) e Soares de Lima (2013), como
um dos traços marcantes das relações externas da América Latina. Desta forma, o nosso
objetivo é discutir, sob a forma de ensaio teórico e por meio de uma pesquisa
bibliográfica, a referida heterogeneidade como um fator a ser explicado, bem como um
fator explicativo.
Enquanto fator a ser explicado, esta heterogeneidade regional pode ser
explicada, pelo menos parcialmente, através da natureza e das especificidades do Estado
latino-americano, colonial, periférico, dependente e subdesenvolvido, marcado, na sua
caminhada, pela instabilidade política. O próprio O’Donnell salientava que as crises
de governo e de regime formam parte da história “normal” da América Latina
(O’DONNELL, 1982, p. 53). Isso, inclusive, é verificado até nossos dias com o fato de
que vinte e um presidentes latino-americanos tenham deixado seu cargo antes de tempo
entre 1991 e 2016, incluído o impeachment sofrido pela presidenta Dilma Rousseff.
Desta forma, refletir sobre a diversidade que subjaz às relações internacionais latino-
americanas contemporâneas nos impõe trazer, em primeiro lugar, uma discussão sobre a
evolução histórica do Estado e das instituições políticas no nosso continente.
3 Utilizamos o conceito de heterogeneidade estrutural baseado no entendimento de Ianni (19 88) de que
são diversas as formas de nação na América Latina, constituindo características de oligarquia,
liberalismo, populismo, autoritarismo ou democracia, a depender do jogo das forças sociais internas e
externas. Internamente, o autor chama atenção para o papel das elites nacionais, que não representam
interesse condizente co m a diversidade de classes, culturas e povos que compõem a nação, enquanto que
externamente os países latinos se colocam condicionados ao s interesses dos países do centro do sistema
internacional.

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