Health services waste: process mapping and cost management as strategies for sustainability in a surgical center/Residuos de servicos de saude: mapeamento de processo e gestao de custos como estrategias para sustentabilidade em um centro cirurgico.

AutorNogueira, Danielly Negrao Guassu
CargoGestao e Sustentabilidade

Introducao

Vivemos um momento em que duas crises, da saude publica e do meio ambiente, convergem e essa confluencia amplia o poder destrutivo de cada uma' (Karliner & Guenther, 2013).

Paradoxalmente, o setor saude tem contribuido para agravar os problemas de saude ambiental, embora tente resolver ou minimizar seus impactos. Isso ocorre devido aos produtos e tecnologias que emprega; aos recursos que consome; aos residuos que gera e aos edificios que constroi e usa. O setor saude constitui uma fonte significativa de impacto ambiental em todo o mundo e, por conseguinte, contribui de forma nao intencional para agravar as situacoes que ameacam a saude publica.

Ja o oposto tambem e verdadeiro. Apesar de existir essa confluencia de crises, observa-se tambem uma crescente convergencia na busca de solucoes que promovam tanto a saude publica como a sustentabilidade ambiental e apontem o caminho para um futuro mais saudavel.

Diante disso, os Residuos de Servicos de Saude (RSS) tem sido uma fonte de preocupacao para os gestores de saude, que estao empenhados em solucionar, liderar e conduzir a transformacao de suas institutes de saude, defender as politicas e praticas que impulsionam estrategias sustentaveis ao fomentar acoes socioambientais e ao mesmo tempo estimular o uso mais consciente de recursos materiais, evitar desperdicios e melhorar a alocacao de seus recursos financeiros.

Os RSS compreendem grande variedade de residuos, com distintas caracteristicas e classificacoes, se considerarmos as inumeras e diferentes atividades nos estabelecimentos de saude. Sao residuos gerados por qualquer estabelecimento que direta ou indiretamente preste servico ligado a saude humana ou animal em qualquer nivel de atencao, prevencao, diagnostico, tratamento, reabilitacao ou pesquisa. Em decorrencia de suas caracteristicas fisico-quimicas e infectocontagiosas, necessitam ser segregados de forma adequada, para minimizar os impactos intra e extraunidades (Gunther, 2008).

Esses residuos sao classificados como grupos A, B, C, D e E. Os do Grupo A sao aqueles com possivel presenca de agentes biologicos; os do Grupo B sao os que contem substancias quimicas que podem apresentar risco a saude publica ou ao meio ambiente; os do Grupo C sao os radioativos; os do Grupo D sao residuos comuns reciclaveis e nao reciclaveis que nao apresentam risco biologico, quimico ou radiologico a saude ou ao meio ambiente e podem ser equiparados aos residuos domiciliares; os do Grupo E sao os materiais perfurocortantes ou escarificantes (Brasil, 2004) (Brasil, 2005).

Esses residuos tem assumido grande importancia nos ultimos anos, nao necessariamente pela quantidade gerada, que e de 1% a 3% do total dos residuos solidos urbanos de um municipio, mas pelo potencial de risco que representam a saude e ao meio ambiente (Agapito, 2007), pois, quando esse pequeno montante nao e manipulado corretamente, torna os demais residuos infectantes (Chaerul, Tanaka & Shekdar, 2008; Hassan, Ahmed, Rahman & Biwas, 2008). Isso tem suscitado a criacao de politicas publicas e legislacoes que tem como eixos de orientacao a sustentabilidade do meio ambiente e a preservacao da saude.

As duas principais legislacoes em vigor no Brasil sao a RDC no. 306, de 7 de dezembro de 2004,da Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria (Anvisa) (Brasil, 2004), que define a gestao interna dos RSS no estabelecimento de saude, e a Resolucao no. 358, de 29 de abril de 2005, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) (Brasil, 2005), que define a gestao externa ao estabelecimento de saude.

Assim, o gerenciamento de residuos de servico de saude compreende acoes planejadas e implantadas, pautadas nas legislacoes vigentes, com o compromisso de minimizar a producao de residuos gerados e oferecer um encaminhamento e tratamento seguros, para a protecao dos trabalhadores e a preservacao da saude e do meio ambiente (Crema et al., 2006).

Entretanto, os hospitais, enquanto servicos de saude, tem tido dificuldades para operacionalizacao do Programa de Gerenciamento de Residuos de Servicos de Saude (PGRSS) como determina a lei, gerado desperdicios e comprometido a saude da populacao.

Na perspectiva das organizacoes, o gerenciamento de RSS e um processo complexo e oneroso financeiramente, que envolve varias atividades interligadas, que necessita de planejamento, recursos e estrategias de implantacao individualizadas, pois sua execucao depende da estrutura fisica, das condicoes de trabalho, da qualificacao dos recursos humanos envolvidos no manejo e do comportamento de descarte de todos os trabalhadores da saude.

Embora se reconheca a importancia da gestao dos RSS, ha ainda certa dificuldade para sua operacionalizacao, devido talvez a pouca experiencia das administrates municipais e dos gestores hospitalares em equacionar com eficiencia suas determinates, devido a diversidade de normas e regulamentacoes sobre o tema. Ainda poderiamos citar a falta de conhecimento dos custos do processo.

Outro dado importante ligado aos custos e que o volume gerado de RSS tem crescido ano a ano. Os dados desse processo levantados em 2012 mostraram um crescimento de 3% em relacao ao ano anterior (Abrelpe, 2012) mesmo com a regulamentacao da Politica Nacional de Residuos Solidos (PNRS) e as inumeras estrategias de educacao relacionadas a consumo consciente e desperdicio de materiais. Isso reforca que hoje o maior desafio e gerar menos residuos.

Assim, esses custos tem sido incorporados a outros que tem onerado muito os servicos de saude. Isso tem impulsionando as organizacoes de saude a buscarem melhoria continua, eficiencia e eficacia nos processos de trabalho. Desse modo, constantemente atualizam suas estrategias para sobreviver no complexo ambiente social, em que ocorrem mudancas rapidas e drasticas nas areas economica, politica, tecnologica, cultural e de mercado (Okano & Castilho, 2007).

Nessa perspectiva, as organizacoes hospitalares tem se preocupado com seus gastos, mas tem procurado definir seus modelos de gestao para que suas decisoes sejam pautadas na responsabilidade ambiental e social para o seu desenvolvimento economico.

Assim, conhecer os custos dos processos, como o de geracao e manejo dos RSS, e de fundamental importancia, pois a implantacao efetiva do PGRSS pode ser onerosa, mas tambem pode contribuir para diminuir custos.

Espera-se, tambem, que as informacoes geradas, sobre o custo do processo por meio de seu mapeamento, auxiliem nas propostas de diminuicao dos gastos, de possivel correcao de distorcoes e desperdicios e, tambem, na melhoria da gestao das organizacoes de saude, ao propiciar a comparacao com outras instituicoes com mesmo perfil.

Mapear e custear todos os processos e subprocessos de gerenciamento de RSS em um hospital e um trabalho complexo. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi escolhida a unidade de Centro Cirurgico do Hospital Universitario da Universidade de Sao Paulo-HU-USP.

O Centro Cirurgico constitui uma das unidades mais complexas das instituicoes hospitalares, visto a complicada distribuicao logistica, os inumeros equipamentos e o tipo da assistencia prestada; ocorrem varios processos e subprocessos, direta e indiretamente ligados as cirurgias.

A afericao de custos por processos permite o mapeamento das atividades que o compoe e o levantamento dos recursos envolvidos, o que possibilita a visualizacao de como, onde e por que sao consumidos e, assim, avaliar seu uso e remodelar o processo (Okano & Castilho, 2007).

O conhecimento dos custos do manejo dos RSS tambem pode contribuir para o processo de formacao de preco de produtos, que no caso do CC sao as cirurgias e tambem os servicos, como, por exemplo, as taxas de uso de sala de operacao.

Revisao da literatura

Os fatores populacionais afetam todos os aspectos de desenvolvimento sustentavel. Por outro lado, a questao dos residuos solidos tem origem nos padroes de producao e consumo e na forma de reproducao do capital.

Muito se tem discutido sobre as melhores formas de tratar e eliminar o "lixo" gerado pelo estilo de vida da sociedade contemporanea. Existe uma tendencia de se pensar que o lixo e o espelho da sociedade, tao geradora de residuos quanto mais consumistas, e qualquer tentativa de reduzir sua quantidade ou alterar sua composicao pressupoe uma mudanca de comportamento social (Teixeira & Carvalho, 2006).

No Brasil, os resultados do estudo mostram que dos 5.565 municipios, 4.282 prestaram em 2012, total ou parcialmente, servicos atinentes ao manejo dos RSS, o que leva a um indice medio de 1,5 kg por habitante/ano, que implicou um crescimento de 3% no total coletado em relacao ao ano anterior (Abrelpe, 2012). Ao mesmo tempo em que existe uma tendencia de crescimento do volume de RSS, profissionais de diversas areas tem discutido os inumeros aspectos que perpassam o tema, sejam tecnicos, legais, financeiros, institucionais e outros. Dai a extensa bibliografia que trata e que mantem em evidencia uma tematica muito atual.

Os problemas relacionados aos RSS sao complexos e exigem dos profissionais da saude um posicionamento de consumo consciente, para diminuir a quantidade de residuos gerados e os desperdicios, o descarte correto nas lixeiras especificas para cada grupo, para nao contaminar os demais residuos e elevar os custos de gestao. Pode-se citar tambem a exposrcao dos trabalhadores a riscos ocupacionais, como os acidentes com perfurocortante.

Conhecer a composicao dos RSS, as caracteristicas do perfil de geracao dos RSS, como locais que mais geram residuos, horarios de pico e profissionais envolvidos no processo, e estrategico para direcionar fluxos e acoes para minimizar o volume e melhor gerenciar esses residuos.

A ineficiencia e o desperdicio na alocacao e no uso de recursos vao desde falhas no sistema de referencia e contrarreferencia ate o uso indiscriminado de equipamentos, medicamentos, materiais, pessoais e leitos, sem esquecer os problemas relacionados a baixa qualificacao dos profissionais (Castilho, 2008).

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