A Guerra do Contestado e a expansão da colonização

AutorDelmir José Valentini - José Carlos Radin
CargoProfessor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira - Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul
Páginas127-150
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2012v19n28p127
A GUERRA DO CONTESTADO E A EXPANSÃO DA
COLONIZAÇÃO
CONTESTADO’S WAR AND THE COLONIZATION
EXPANSION
Delmir José Valentini*
José Carlos Radin**
Resumo: Pretende evidenciar que a guerra fratricida do Contestado, na segunda
década do século XX, insere-se no contexto da expansão da colonização do chamado
“sertão catarinense”. No período, era pensamento corrente que suas imensas áreas,
“desocupadas” e “mal aproveitadas”, devessem ser colonizadas por indivíduos
capazes de contribuir para a colocação do Brasil nos trilhos da modernidade. As
representações construídas procuravam descaracterizar as populações locais e defender
os colonizadores, migrantes brancos de origem européia. Um dos aspectos dessas
representações se ancorava na ideia de trabalho atribuída aos diferentes grupos. A
Guerra contribuiu para reforçar tais representações e para criar as condições que
impulsionaram o processo de colonização.
Palavras-chave: Guerra do Contestado. Brazil Railway Company. Colonização.
Abstract: It want to show that the fratricidal war of the Contestado in the second
decade of the twentieth century, it introduces in the context of the expansion of
colonization in Santa Catarina’s country. During this period, it was commonly thought
that its huge areas, “otiose” and “poorly utilized,” they were colonized by individuals
who contributed to put Brazil on track to modernity. The representations constructed
wanted mischaracterize the local population and defend the colonizers, white Europe
migrants. One of the aspects of these representations is anchored in the idea of work
assigned to different groups. The war helped to strengthen the representations and to
create conditions that promoted the colonization process.
Keywords: Contestado War. Brazil Railway Company. Colonization.
* Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó.
E-mail: valentini@uffs.edu.br
** Professor Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó.
E-mail: radin@uffs.edu.br
128
Revista Esboços, Florianópolis, v. 19, n. 28, p. 127-150, dez. 2012.
UM OLHAR SOBRE A GUERRA
Contestado e colonização açambarcam temáticas de pesquisas amplas
e possibilitam diálogos entre si. Pretende-se neste artigo estabelecer possíveis
relações a partir de uma interpretação do contexto histórico regional, no início
do século XX.
A Guerra do Contestado eclodiu com o combate do Irani no ano de 1912,
porém é possível encontrar condicionantes anteriores e a partir da formação da
Brazil Railway Company, que além de construir a ferrovia entre os rios Iguaçu
e Uruguai, também atuou pioneiramente nos ramos madeireiro e colonizador.
Rctc" ukvwct" q" eqpÞkvq." cpvgu" fg" gpeqpvtct" eqpfkekqpcpvgu" gzvgtpqu." ug" hc¦"
necessário uma breve descrição dos fatores internos relacionados ao modo
de vida e a situação dos moradores da região do Contestado, protagonistas da
Guerra do Contestado.
A questão dos limites interestaduais, com as constantes disputas entre
Rctcpƒ"g"Ucpvc"Ecvctkpc."igtqw"kpfgÝpk›gu"g"c"gzkuv‒pekc"fg"wo"itcpfg"p¿ogtq"
fg"rquugktqu"oquvtcxc"swg"pq"Ýpcn"fq"uf‌iewnq"ZKZ"c"eqpfk›«q"fc"ockqtkc"fqu"
moradores era precária, pois viviam em improvisados ranchos como agregados
e peões, dependendo de fazendeiros e prestando serviços rudimentares. A
xkqn‒pekc"hc¦kc"rctvg" fq"eqvkfkcpq" fqu"fgurtqxkfqu" oqtcfqtgu"g."pq"fk¦gt"fg"
Duglas Teixeira Monteiro1."gtco" xvkocu" fc" xkqn‒pekc" equvwogktc." lƒ" swg" c"
¿pkec"rquukdknkfcfg"fg" cuegpu«q"uqekcn"guvcxc" pc"rtqrtkgfcfg"fc"vgttc"g"guvc."
gtc"kpfkxkuxgn"g"ceguucfc"crgpcu"rgnqu"itwrqu"swg"vkpjco"kpÞw‒pekc"lwpvq"cqu"
políticos da esfera estadual ou federal.
Eqo"q" cfxgpvq" fc"Tgr¿dnkec" q" eqpvtqng"uqdtg"cu" Ðvgttcu" fgxqnwvcuÑ."
antes de responsabilidade da União, passou para os estados, condição que em
geral acelerou as concessões aos fazendeiros. Amparados pela lei de terras de
1850, registravam propriedades no contexto das disputas de divisas, agravando
a situação das populações locais. Diante da desapropriação é compreensível
a nostalgia que essas populações tinham do Império, pois, embora ignorados,
os moradores viviam certo sossego em seus ranchos. Como bem observou
Cabral2, lembraram-se deles apenas no momento de “expulsá-los”.
O modo singular de vida dos moradores da região do Contestado
favoreceu a aceitação de conselhos, crenças em profecias e em castigos
sobrenaturais, próprias do catolicismo popular. Para Vinhas de Queiroz, esta
ukvwc›«q"vkpjc"ecwucu"uqekcku"dgo"fgÝpkfcu"g"cuuko"cu"fguetgxkc<
Mágicos ou sacerdotes, todos esses homens e mulheres
eram agentes através dos quais aquela sociedade arcaica
e patrimonialista acreditava poder alcançar num plano
sobrenatural o que lhe era negado pelo atraso técnico ou
pela injustiça - real e imaginária - das relações existentes
entre os homens.3

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT