Gramsci: a gênese dos estudos subalternos

AutorLincoln Secco
CargoBacharel em História
Páginas367-383
Artigo recebido em: 16/02/2018 Aprovado em: 14/05/2018
GRAMSCI: a gênese dos Estudos
Subalternos
Lincoln Secco1
Resumo
O artigo mostra possíveis ligações entre análises teóricas de Gramsci sobre os
grupos subalternos e os seus debates políticos com o Partido Comunista Ita-
liano no cárcere. Também discute os grupos subalternos s ob a perspectiva de
outros temas atuais tais como: feminismo, racismo e pluralidade atual da classe
trabalhadora.
Palavras-chave: Classes subalternas, hegemonia, União S oviética, Partido Co-
munista Italiano.
GRAMSCI: the genesis of Subaltern Studies
Abstract
is article intends to demonstrate the links between Antonio Gramsci`s analy-
sis on the subaltern groups and his political debates with Italian Communist
Party while he was in prison.  is article also discusses the subaltern studies
taking account of current issues such as feminism, racism and plurality in the
working class nowadays.
Key words: Subaltern classes, hegemony, Soviet Union, Italian Communist Par-
ty.
1 INTRODUÇÃO
Em 1977 foi lançado o  lme Antonio Gramsci: I giorni
del carcere de Lino del Fra que intentava uma reconstrução das
1 Bacharel em História, Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (
USP), Professor do Departamento de História da USP. E-mail: / Endereço: Universidade de
São Paulo - USP: Av. Prof. Lineu Prestes, 338, São Paulo - SP. CEP: 05508-000
MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS
LUTA DE CLASSES E A PERSPECTIVA DE HEGEMONIA DAS CLASSES
SUBALTERNAS EM GRAMSCI: questão pedagógica, estratégias de
passivização e método histórico
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Lincoln Secco
discussões que Gramsci teve no cárcere. Além das cartas e bio-
gra as, o cineasta utilizou relatos de companheiros de prisão,
dentre eles Athos Lisa.
Em 1933, o ex-prisioneiro Athos Lisa escreveu um infor-
me enviado ao Comitê Central do Partido Comunista Italiano,
no qual reproduz uma discussão feita com Gramsci no cárcere.
(LISA, 1990). Os temas nucleares das conversas com Gramsci
foram: a Assembleia Nacional Constituinte; os intelectuais; e o
problema militar. Neste documento se con rmam divergências
que Gramsci já havia revelado antes em conversas carcerárias
com Terracini e Scoccimarro: basicamente os três previam que
à queda do fascismo se sucederia uma fase democrática bur-
guesa e não socialista proletária.
Este não foi o único documento produzido por militan-
tes que conviveram com Antonio Gramsci no cárcere, mas o de
Athos Lisa apresenta, a seu favor, o fato de que ele expressou,
com clareza, ideias com as quais nem sempre aquiescia, por
estarem em desacordo com a linha o cial da Internacional Co-
munista.
Além dos relatos dos comunistas, é interessante notar uma
passagem contada pelo socialista Sandro Pertini, que esteve preso
algum tempo na mesma prisão onde Gramsci estava encarcerado.
Seu depoimento, embora mostre que Gramsci era crítico do Partido
Socialista Italiano, t ambém revela que ele não deixava, por isso, de
manter relações amigáveis com alguns socialistas:
Um dia, Antonio Gramsci, conversando comigo, tinha expresso
um juízo sobre Turati e sobre Treves, ao meu ver ofensivo. Eu reagi
com muita  rmeza. Gramsci que mantinha comigo relações mais
que amigáveis sentiu, na manhã seguinte, a necessidade de uma leal
explicação, dizendo-me que com o juízo político expresso um dia
antes não queria ofender Turati e Treves. Acrescentou que aprecia-
va a minha reação em defesa dos meus dois companheiros de exílio.
(PERTINI, 1982, p.181).
Há outros depoimentos, como os de Bruno Tosin e Giu-
seppe Ceresa, mas são menos completos. Ezio Riboldi (1964)
por exemplo, registrou que naquelas mesmas conversas que
Athos Lisa documentou, Gramsci explicitou reservas em re-
lação a Stalin, o qual seria antes nacionalista e russo do que

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