Governance in Virtual Business Communities/ Governanca em Comunidades Virtuais de Negocios.

AutorSornberger, Geovane Paulo
CargoTecnologia da Informacao

Editor cientifico: Luis Hernan Contreras Pinochet

Introducao

Os estudos sobre relacionamentos interorganizacionais consideram que o aumento da complexidade ambiental e um dos indutores para as organizares cooperarem entre si, com vistas a diminuir a incerteza e aumentar a estabilidade organizacional. A participacao em relacionamentos interorganizacionais colaborativos, baseados em fatores como confianca, reputacao e legitimidade, resulta em condicoes mais favoraveis de acesso a recursos complementares, poder e controle e a custos de transacao menores (Provan, Fish & Sydow, 2007; Balestrin, Verschoore & Reyes Junior, 2010; Wegner & Maehler, 2012).

A emergencia dos relacionamentos interorganizacionais tambem e justificada pelo aumento da complexidade informacional e pela crescente adocao das Tecnologias da Informacao (TI) pelas organizacoes (Gulati, Puranam & Tushman, 2012) e entre elas (Kumar & Van Dissel, 1996). Na TI, a Internet e suas tecnologias relacionadas tornaram-se ferramentas de producao de bens e servicos e de divulgacao de conhecimento (Benkler, 2006; Zammuto, Griffith, Majchrzak, Dougherty & Faraj, 2007; Baldwin & Von Hippel, 2011).

Esses avancos da TI possibilitaram surgir um tipo especifico de relacionamento interorganizacional, as Comunidades Virtuais de Negocios (CVN) (Markus & Loebbecke, 2013). Para as autoras, as CVN sao definidas como uma comunidade on-line apoiada por uma plataforma de TI, personalizada ou padronizada, concebida para promover informacoes, transacoes comerciais e conectividade entre agentes economicos de determinada(s) industria(s). Essas comunidades possibilitam que seus membros compartilhem conhecimento e desenvolvam processos de negocio por meio de sistemas especificamente criados para coordenar as relacoes entre as entidades juridicamente autonomas (Gulati et al., 2012) e fomentem, assim, a cooperacao (Banker, Mitra & Sambamurthy, 2011).

Os relacionamentos interorganizacionais, em geral, e as CVN, em particular, necessitam de coordenacao para alcancar os objetivos que induzam organizacoes independentes a atuar na coletividade. Para tanto, e necessario o desenvolvimento de uma estrutura institucional que articule e coordene essas acoes coletivas e que leve em consideracao os interesses de cada integrante do arranjo interorganizacional. Gerenciar esse paradoxo constitui o papel central da governanca (Provan & Kenis, 2007). Para os autores, no contexto interorganizacional, o conceito de governanca esta associado a definicao de um conjunto de regras e de procedimentos, formais e informais, referentes a organizacao interna da cooperacao entre os agentes economicos envolvidos.

No caso das CVN, Tilson, Lyytinen e S0rensen (2010) chamam a atencao para a necessidade de compreensao das maneiras pelas quais as infraestruturas tecnologicas influenciam o desenvolvimento de processos e servicos e alteram as formas de governanca. Lacunas de pesquisa tambem sao apontadas por Markus e Loebbecke (2013) no sentido de compreender quando, como e por que ocorre a adesao as CVN, alem das condicoes que promovem ou inibem sua adocao generalizada. Dessa conclusao decorre a seguinte pergunta: "Qual a relacao das dimensoes da TI no desenvolvimento da governanca nas CVN?" A ausencia de respostas para essa indagacao sugere que investigates sao necessarias para melhorar a compreensao desse fenomeno.

O desenvolvimento da governanca em arranjos interorganizacionais tambem esta relacionado a presenca de elementos institucionais como a confianca (Larson, 1992; Ring & Van De Ven, 1994; Uzzi, 1997), a legitimidade dos relacionamentos (DiMaggio & Powell, 1983; Oliver, 1990; Human & Provan, 2000) e a lideranca no relacionamento (Balkundi & Kilduff, 2006; Provan & Kenis, 2007; Balkundi, Barsnesse & Michael, 2009). Esses fatores sao importantes para compreender o desenvolvimento da governanca interorganizacional, pois esses elementos institucionais explicam como os relacionamentos entre firmas sao iniciados, negociados, desenhados, coordenados, monitorados, adaptados e tambem como eles se extinguem (Oliver & Ebers, 1998).

Como os elementos anteriormente mencionados foram pouco explorados pela literatura sobre CVN, este estudo tem como objetivo geral investigar a interacao desses elementos com as dimensoes tecnologicas e seus efeitos no desenvolvimento de mecanismos de governanca apropriados para esses ambientes. Como objetivos especificos, busca-se, assim: (1) identificar, a partir de uma revisao de literatura, os elementos institucionais relacionados com a governanca em CVN; (2) estudar empiricamente a interacao entre esses elementos institucionais e os elementos tecnologicos em um caso real de criacao de uma CNV e (3) propor um framework que demonstre as relacoes pesquisadas entre os elementos (institucionais e tecnologicos), com vistas a subsidiar outros estudos de CVN.

A relevancia teorica do estudo fundamenta-se na proposicao de um framework que sintetize uma base conceitual para o tema governanca em CVN. A relevancia para o campo profissional esta baseada na identificacao de fatores importantes pertinentes a dinamica de funcionamento de CVN na area de agronegocios, particularmente importantes em paises em desenvolvimento, nos quais os agentes economicos que detem informacoes sobre preco e mercado (muitas vezes representados pelos atacadistas) levam vantagem sobre os que nao detem informacoes (os produtores) (Food and Agriculture Organization of the United Nations [FAO], 2013).

Na continuidade, discute-se a base teorica do artigo, seguida pela descricao dos procedimentos metodologicos. Na sequencia, apresenta-se a analise do caso da CVN de Flores e o framework proposto, que contemplam questoes norteadoras para o desenvolvimento da governanca em CVN, e chega-se as considerares finais do estudo.

Comunidades Virtuais de Negocios--CVN

Em seu conceito elementar, as Comunidades Virtuais (CV) sao descritas como um grupo de pessoas com interesses ou objetivos comuns, que usam redes de computadores para interagir uns com os outros para compartilhar informacoes (Cothrel & Williams, 1999; Koh & Kim, 2004). Na literatura, sao encontrados varios tipos de CV com propositos distintos, uma vez que foram estudadas por pesquisadores de areas diversas; contudo, na area de negocios, pouca evidencia e encontrada (Ahmad, Philpott & Duan, 2012).

Nesse sentido, Ahmad et al. (2012) buscaram na literatura elementos para dar sustentacao a uma tipologia de CV no campo empresarial. A figura 1 evidencia essa tipologia proposta pelos autores para as CVN.

Para efeito deste estudo, o interesse recai sobre as Comunidades Business to Business. Ahmad et al. (2012) argumentam que essas CVN sao representadas por um grupo de proprietarios ou de gestores cuja finalidade e prestar apoio e experiencia um para o outro em beneficio dos seus negocios na comunidade. Spaulding (2010), Banker et al. (2011) e Rigoni, Klein, Hoppen e Ritter (2013) argumentam que as CVN sao um ambiente capaz de facilitar e organizar a troca de informacoes, desenvolver processos de negocio com potencial de fomentar a cooperacao entre os agentes economicos; dessa forma, podem criar valor para seus membros.

A esse formato organizacional, Gulati et al. (2012) cunharam o termo metaorganizacao, que compreende redes de empresas ou comunidades de individuos nao vinculados pela autoridade formal (contratual), caracterizadas pelo uso de tecnologias concebidas especificamente para organizar as relacoes entre as entidades autonomas, cuja adesao e voluntaria.

Markus e Loebbecke (2013), por sua vez, apresentam conceitos que ampliam a perspectiva dos relacionamentos interorganizacionais, na medida em que facam uso intensivo da TI para promover a acao coletiva. Os conceitos sintetizam, na opiniao das autoras, as dimensoes consideradas essenciais para satisfazer a propriedade de CVN, respectivamente: (i) unidade de analise--caracterizada pela grande quantidade e heterogeneidade das empresas participantes, possivelmente atuam em ecossistemas que se sobrepoem em uma area definida de atividade empresarial; (ii) processos de negocio digitais --as interacoes entre membros envolvem processos de negocios digitais feitos da mesma maneira por todos os componentes de uma comunidade, seja qual for seu nivel de heterogeneidade e (iii) plataforma digital--caracterizada por um aplicativo virtual, apoia processos de negocios digitais comuns a todos os participantes de uma determinada comunidade empresarial.

Assim, essas comunidades representam um tipo especifico de relacionamento interorganizacional, baseado em dimensoes tecnologicas que permitem a virtualizacao das interacoes, a digitalizacao dos processos de negocio e o acesso a informacoes a partir de qualquer lugar, a qualquer momento (Banker et al., 2011; Markus & Loebbecke, 2013; Rigoni et al., 2013).

Essas dimensoes das CVN tem efeitos na dinamica do comportamento dos membros da comunidade, os quais reconhecem que as CVN devem servir para dar apoio a nova dinamica e coordenar a acao coletiva nesses ambientes. Considerando esses aspectos e suas possiveis implicates, tais dimensoes compoem parcialmente um dos elementos de base para o desenvolvimento de um framework e sua aplicacao, aspecto que sera discutido na secao 5 deste artigo.

Amparado na necessidade de coordenar as acoes coletivas desenvolvidas em arranjos colaborativos, Olson (1999) estudou a logica inerente ao processo de colaboracao entre individuos racionais a fim de compreender como agem em grupos e em organizacoes, nem sempre apresentam como resultado o melhor desempenho coletivo possivel. Para o autor, embora todos os membros do grupo tenham um interesse comum em alcancar o beneficio coletivo, nao cooperam quando tem de pagar o custo do provimento desse beneficio coletivo. Nessa situacao, a ausencia de mecanismos de coercao ou incentivos levaria a resultados desastrosos, uma vez que todos os componentes teriam o mesmo raciocinio e esperariam pelos demais para usufruir...

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