Governance and cooperation in local productive arrangements (APLS): a study of multiple cases in Sergipe/Governanca e cooperacao em arranjos produtivos locais: um estudo de multiplos casos em Sergipe/Gobernabilidad y cooperacion en arreglos productivos locales: un estudio de multiples casos en Sergipe.

AutorZambrana, Aline de Aragao
CargoARTIGO--ADMINISTRACAO GERAL
  1. INTRODUCAO

    O interesse em redes interorganizacionais tem crescido a medida que o velho modelo de organizacao vai dando lugar a novas configuracoes baseadas nas relacoes entre firmas. Castells (2000) cre que as empresas estao sendo obrigadas a se reinventar em decorrencia do aumento da competicao e do surgimento de novas tecnologias. As firmas, antes isoladas, estao unindo forcas e desenvolvendo estrategias conjuntas para sobreviver no mercado.

    Os arranjos produtivos locais (APLs) surgem, de acordo com Lastres e Cassiolato (2005), como aglomeracoes territoriais de agentes economicos, politicos e sociais, as quais focam um conjunto especifico de atividades economicas e apresentam vinculos e interdependencia. Tem como proposta a formacao de redes que possibilitem maiores vantagens competitivas e sustentabilidade aos pequenos negocios, por meio de interacao, cooperacao e articulacao.

    Os orgaos que trabalham a abordagem APLs defendem esse modelo organizacional como uma forma de promover crescimento economico e produzir bem-estar social aos seus participantes e a comunidade local inserida (BNDES, 2004). Isso porque, ao atrair investimentos para um dado local, o polo geralmente cria ou reforca aglomeracoes de empresas, as quais, a medida que exportam para outras regioes, reforcam o proprio desenvolvimento: elevam a renda, atraem pessoas e induzem investimentos publicos em infraestrutura (SANTOS; DINIZ; BARBOSA, 2004).

    Dada a necessidade de articulacao entre os diversos atores, a coordenacao ou governanca dos processos entre organizacoes inseridas em APLs faz-se necessaria para facilitar sinergias e garantir o alcance dos objetivos desejados (AMORIM; MOREIRA; IPIRANGA, 2004).

    Para Cassiolato e Szapiro (2003), a governanca e crucial porque as articulacoes entre atores locais dependem de outras articulacoes com agentes localizados fora do territorio do APL. Os autores defendem que e interessante buscar o entendimento do sistema de coordenacao por meio do qual se estabelecem as relacoes de carater local entre empresas e instituicoes.

    Considerando-se a dinamica capitalista, na qual a forca motriz do sistema e dada pela concorrencia, uma discussao central se coloca, especificamente nos APLs: a cooperacao entre os agentes locais (SANTOS, 2005).

    Na percepcao de Poletto (2009:70), quanto mais as empresas do APL se ajudarem, quanto maior for o fluxo de informacoes, quanto mais inovacoes surgirem em conjunto, maiores serao os ganhos coletivos dentro do territorio. E quanto maiores forem as vantagens e sinergias adquiridas pelas firmas, maiores serao a cooperacao, o aprendizado e a inovacao entre elas, caindo-se num "circulo virtuoso" de vantagens e beneficios.

    O objetivo principal deste artigo e analisar como a governanca e a cooperacao entre os agentes institucionais e economicos podem influenciar o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais no Estado de Sergipe.

    O trabalho permitira aos gestores de APLs do Estado estabelecer estrategias de atuacao considerando as peculiaridades dos arranjos. Contribuira para que os agentes institucionais que atuam em programas de apoio a APLs no Estado entendam o papel crucial que desempenham por meio da governanca e possam atuar de maneira a aperfeicoar o monitoramento do APL, e assim contribuir para o ganho de competitividade do territorio onde este esta localizado.

    Por fim, ainda sera possivel, a partir da analise das formas e dificuldades de cooperacao levantadas, identificar mecanismos para a criacao de um ambiente favoravel a relacoes cooperativas entre as empresas e entre as empresas e instituicoes.

    Inicialmente, apresenta-se a revisao teorica alusiva aos temas identificados como relevantes para fundamentar o estudo; em seguida, e apresentada a metodologia da pesquisa, cuja unidade de analise e o APL, e, por ultimo, as consideracoes finais do estudo.

  2. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS--APLs

    Os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs), de acordo com Cassiolato e Lastres (2003), sao arranjos produtivos em que interdependencia, articulacao e vinculos consistentes resultam em interacao, cooperacao e aprendizagem, com potencial de gerar incremento da capacidade inovativa endogena, da competitividade e do desenvolvimento local.

    Argumenta Cunha (2008) que, conceitualmente, a literatura estrangeira nao faz referencia ao termo Arranjo Produtivo Local. Essa terminologia foi assim alcunhada por um grupo de pesquisadores da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST), e nao ha uma traducao ou conceituacao especifica em outros paises.

    Na definicao de Cassiolato e Lastres (2003:27), APLs sao:

    Aglomeracoes territoriais de agentes economicos, politicos e sociais--com foco em um conjunto especifico de atividades economicas--que apresentam vinculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participacao e a interacao de empresas e suas variadas formas de representacao e associacao. Incluem tambem instituicoes publicas e privadas voltadas para a formacao e capacitacao de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; politica, promocao e financiamento. Para Brasil (2010), o enfoque APLs enfatiza a necessidade de contemplar atores, atividades e regioes geralmente excluidos da agenda de politicas, e de superar politicas pontuais e unissetoriais, acompanhando o avanco da compreensao de que o desenvolvimento produtivo e inovativo depende da articulacao entre atores de uma mesma cadeia e complexo produtivo e entre estes e os demais atores economicos, politicos e sociais que compoem os diferentes sistemas e arranjos, incluindo-se aqueles responsaveis pela geracao de conhecimentos, pelo financiamento e pelo apoio.

    Segundo Cassiolato e Lastres (2003), na abordagem de APLs o foco da analise passa a incidir sobre as relacoes entre as empresas e entre estas e as instituicoes, e nao mais sobre a empresa individual. Em outras palavras, sugere-se que o foco deve se voltar ao conjunto dos agentes e nao a um agente isoladamente.

    Com propriedade, Amaral Filho (2008:3) adverte que a nocao de "arranjo" nao deve ser confundida com algum estado de precariedade ou com um estagio preliminar de um processo. Ao contrario, "um arranjo e por excelencia o desenho, a arrumacao, a ordem de um sistema, muitas vezes complexo".

    Cassiolato e Szapiro (2003:40) destacam a importancia da localidade ao afirmarem que existe de fato um APL quando "a viabilidade economica esta enraizada em ativos (incluindo praticas e relacoes) que nao estao disponiveis em outros lugares e que nao podem ser facilmente ou rapidamente criados ou imitados em lugares que nao os tem". Conforme Lastres e Cassiolato (2003), o grau de enraizamento e um dos elementos identificadores de autenticos arranjos produtivos locais.

    A nocao de territorio e importante para a atuacao em APL, de acordo com Amaral Filho (2008), nao apenas pelo fato de o territorio ser uma referencia de um local com concentracao de atividades economicas, mas tambem por ser tanto um reservatorio de valores e de instituicoes quanto portador de culturas.

    Lastres e Cassiolato (2005) alertam, contudo, que a importancia dada ao territorio nao deve ser entendida como limitacao a dimensao local, tendo em vista que o desenvolvimento local esta condicionado e subordinado a sistemas exogenos que podem ter dimensao e controle nacional ou internacional.

    Tapia (2005) acrescenta que a propria dinamica do desenvolvimento local implicaria progressivamente o estabelecimento e aprofundamento de relacoes com o exterior, com mercados de produtos, de conhecimento e de tecnologia.

    Outra peculiaridade considerada no estudo de APLs e o conhecimento tacito, conhecimento nao codificado, que e implicito e incorporado em individuos, organizacoes e regioes (MENDES FILHO, 2009). De acordo com o autor, esse tipo de conhecimento tem sua origem nas caracteristicas locais de determinadas regioes, decorre da proximidade territorial e da assimilacao de identidades culturais, sociais e empresariais pelos agentes e representa uma vantagem competitiva. A esse respeito, Cassiolato e Lastres (2003:24) afirmam que o conhecimento tacito de carater localizado e especifico tem um papel primordial no sucesso inovativo do APL.

    A inovacao e o aprendizado interativo sao, na visao de Mendes Filho (2009), mais uma dimensao a ser observada no ambito dos APLs, estao condicionados a interacoes e sao socialmente determinados e fortemente influenciados por formatos institucionais e organizacionais especificos.

    Os APLs caracterizam-se ainda pela existencia de uma governanca, que e responsavel pela coordenacao entre os atores, bem como de atividades desempenhadas nesses arranjos (LASTRES; CASSIOLATO, 2003).

    No que tange aos elementos distintivos entre a terminologia brasileira e a estrangeira, Amaral Filho (2008) observa que a associacao do termo "Arranjo Produtivo" a "tropicalizacao" ou "brasileirizacao" de nomenclaturas da literatura internacional, que tratam das aglomeracoes produtivas localizadas, e incorreta, e sugere que e possivel dotar o conceito de sistemas e arranjos produtivos locais de uma autonomia, ao menos relativa, em relacao a outros conceitos correlates.

    Cunha (2008) assevera que a abordagem APLs da um carater social a analise dos aglomerados, nao se limitando a analise economica utilizada nos clusters. Acrescenta que o termo brasileiro tem caracteristicas peculiares relacionadas a confianca, cultura, solidariedade e desenvolvimento social e evolucao local. Spinola (1999 apud SGARBI, 2009:24) defende que os APLs tentam caracterizar os agentes nao necessariamente empresariais, destacando o papel das instituicoes, enquanto nos clusters e dada enfase as empresas.

    Cassiolato e Szapiro (2003) afirmam que um dos objetivos dos clusters relaciona-se com a competitividade do ambiente e, por isso, estes tem maior ligacao com os paises desenvolvidos. No caso dos APLs, existem associacoes locais de organizacoes que nao buscam apenas a competitividade, mas tambem a geracao de...

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