Globalizando as Lutas

AutorNatália Das Chagas Moura e Márcio Túlio Viana
Páginas50-56
CaPítulo
4
GLOBALIZANDO AS LUTAS
Natália Das Chagas Moura(1)
Márcio Túlio Viana(2)
(1) Mestranda em Direito do Trabalho na Universidade Federal de Minas Gerais, na Área de Concentração “Direito e Justiça”, na Linha
de Pesquisa “História, Poder e Liberdade”. Integrante do grupo “Trabalho e Resistência”, da UFMG, sob a coordenação dos profs.
Daniela Muradas, Maria Rosaria Barbato e Pedro Augusto Gravatá Nicoli. Especialista em Direito do Trabalho, Direito Previdenciário
e Processo do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2014). E-mail: .
(2) Professor no Programa de Pós-graduação da PUC/Minas. Desembargador aposentado do TRT da 3ª Região.
Imagine que uma noite, ao ligar sua TV, o apresen-
tador lhe informe:
Com mais de 2 milhões de tuites, 7 milhões de curtidas
e 4,7 milhões de compartilhamento da hastag – #NãoPa-
tenteieaMolécula – internautas informam que um cientista
brasileiro, na Universidade de Oxford, acaba de sintetizar
uma molécula biorreativa, que pode vir a curar muitas
doenças degenerativas, como o Alzheimer.
Numa notícia imaginária como esta, talvez se possa
perceber não apenas alguns traços do atual modelo de
produção, mas também a matéria prima para a constru-
ção de um novo sindicalismo. De fato, nela estão em-
butidas, implicitamente, palavras como sociedade de
massa, informação, fluidez, tempo real, rede, protesto,
conhecimento, imediaticidade, ciência, tecnologia, co-
municação e globalização.
Naturalmente, nem todas estas palavras são novas,
nem sempre (por isso mesmo) expressam novidades.
Mas mesmo as que já existiam há muito tempo em nos-
so vocabulário corrente – como “conhecimento”, por
exemplo – hoje assumem um papel e um sentido um
tanto diferentes, seja em termos qualitativos, seja em
termos quantitativos.
Assim como para Pollyanna tudo que é ruim, triste
ou errado é visto sob um ângulo otimista – numa espé-
cie de jogo imaginário do contente – o capital – ao criar
uma realidade bem concreta – também tem o seu jogo:
é o jogo da acumulação. Não importa o modus operandi
ou os sujeitos. A regra é sempre ganhar, sempre mais
e sucessivas vezes, para acumular sempre mais, reali-
mentando o próprio ciclo. A lógica não é vencer um
eventual concorrente, mas vencer sempre, para acumu-
lar sempre e não importa de que modo.
Para isso, o capital tem como estratégia se apropriar
das jogadas de seu oponente – o sindicato – que não
deixa de ser também seu coadjuvante. Utiliza-se de ele-
mentos do adversário para alcançar o seu objetivo. É o
que faz, por exemplo, quando usa da estrutura sindical
e das negociações coletivas (em princípio, entabuladas
entre partes “iguais”) para ajustar “benefícios” aos tra-
balhadores que acabam incentivando a concorrência
entre eles e dificultando, assim, a luta coletiva – como
prêmios, bônus por ausência de faltas, salário produti-
vidade...
Embora esteja inserido no próprio sistema, ajudan-
do a lubrificar suas engrenagens, o Direito do Trabalho,
como sabemos, tem a sua face rebelde, de resistência às
explorações mais fortes, de veículo de distribuição de
riquezas; e é exatamente em face deste último aspecto
que o capital hoje se movimenta, acenando com “van-
tagens” que acabam corroendo por dentro o espírito de
classe.
Se, por exemplo, a convenção coletiva estipula um
prêmio passível de ser recebido por um único trabalha-
dor da equipe – ao que tiver sido mais “fiel” à empresa,
como em geral acontece – os demais se sentem excluí-
dos e a disputa no grupo se exacerba. De modo inverso
– mas com a mesma lógica – o acréscimo salarial pago

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