A Gestão do Empreendimento Rural: um estudo a partir de um programa de transferência de tecnologia a pequenos produtores

AutorMarcio Silva Borges - Cezar Augusto Miranda Guedes - Maria Cristina Drumond e Castro
CargoProfessor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Três Rios, RJ, Brasil - Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, RJ, Brasil - Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Três Rios, RJ, Brasil
Páginas141-156
Artigo recebido em: 13/9/2014
Aceito em: 5/5/2015
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2015v17n43p141
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A GESTÃO DO EMPREENDIMENTO RURAL: UM ESTUDO A
PARTIR DE UM PROGRAMA DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
PARA PEQUENOS PRODUTORES
The Management of Rural Development: a study from a
program of technology transfer to small producers
Marcio Silva Borges
Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Três Rios, RJ, Brasil. E-mail: msborges@hotmail.com
Cezar Augusto Miranda Guedes
Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, RJ, Brasil. E-mail: cezar.eco@gmail.com
Maria Cristina Drumond e Castro
Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Três Rios, RJ, Brasil. E-mail: cristinadrumond2010@gmail.com
Resumo
A abertura do mercado lácteo nacional na década de
1990 expôs os baixos índices de eficiência técnica e de
gestão, demonstrando a necessidade de criar ações para
melhorias nesse sentido. Além disso, há dois processos
convergentes que corroboram com os fatores citados:
o primeiro internalizando índices como capacidade de
fornecimento, produção em escala e nível de tecnologia
empregada; e um segundo processo que caracteriza a
adoção de um sistema de gestão eficiente para capacitar
os produtores na utilização de tecnologias apropriadas
resultando ganhos de produtividade e de rentabilidade
para toda a cadeia. O objetivo deste trabalho consiste
em analisar em que medida o Balde Cheio, programa
criado pela EMBRAPA Pecuária Sudeste em 1999,
pode funcionar como vetor de capacitação para o
gerenciamento de pequenas propriedades leiteiras a
partir da transferência de tecnologia. Os cinco meses
de entrevistas in loco, na cidade de Valença – RJ,
permitiram que se chegasse à conclusão de que o Balde
Cheio possibilitou uma transferência de tecnologia
eficiente e um sistema de gestão da propriedade
compartilhada com extensionista rural, evidenciando
vantagens e desvantagens nesse processo.
Palavras-chave: Transferência de Tecnologia. Gestão
Rural. Agricultura Familiar.
Abstract
The opening of national dairy market in the 90’s
decade exposed low indexes of technical efficiency and
management, providing evidence of improvements
needed in this regard. In addition, there are two
convergent processes that corroborate with the factors
cited: the first internalizing indexes such as supply
capacity, production in scale, and level of technology
employed; and a second process, with the adoption
of an efficient managament system, able to empower
producers in the use of appropriate technologies
resulting gains in productivity and profitability for the
entire chain. The aim of this study was to examine
to what extent the Balde Cheio project, created by
EMBRAPA Pecuária Sudeste in 1999, can act training
vector for managing small dairy properties from the
transfer of technology. The five months of on-site
interviews in the city of Valença – RJ allowed conclude
that Balde Cheio enabled an efficient technology
transfer a property management system shared
with rural extension agent showing advantages and
disadvantages in this process.
Keywords: Transfer of Technology. Rural Management.
Family Farming.
142 Revista de Ciências da Administração • v. 17, n. 43, p. 141-156, dezembro 2015
Marcio Silva Borges • Cezar Augusto Miranda Guedes • Maria Cristina Drumond e Castro
1 INTRODUÇÃO
A atividade leiteira no Brasil, ao longo de sua
história, já viveu sucessivas crises, tanto na produção
quanto no abastecimento, destacando-se a baixa pro-
dução e a produtividade, o baixo nível tecnológico
utilizado, a elevada sazonalidade com alto custo de
produção e a ausência de uma política global bem
definida de longo prazo para o setor.
Dentre as cadeias produtivas do setor agropecu-
ário, Vilela et al. (1999) afirmam que a do leite foi a
que sofreu maiores transformações nos últimos anos.
Tradicionalmente o mercado de lácteos no Brasil vivia
sob uma forte intervenção do governo, impedindo de
certa forma um desempenho eficiente. No início dos
anos 90, algumas transformações começaram a acon-
tecer, culminando com grandes mudanças em todos
os segmentos da cadeia, principalmente na produção
e economia, uma vez que tem forte participação na
cesta básica e impacto no custo de vida. O Sistema
Agroindustrial (SAG) do leite precisou se estruturar
para se adequar à competição do mercado no cenário
interno, como também do mercado externo.
Conforme Belik (1999), fatores como a proxi-
midade das fontes de matéria-prima e a existência de
mão de obra barata não mais servem de diferencial
competitivo diante da abertura dos mercados e da
busca incessante de qualidade e flexibilidade por
parte das empresas. Os avanços proporcionados pela
tecnologia aplicados ao campo e à indústria permiti-
ram reduzir gradativamente as vantagens competitivas
proporcionadas pelos recursos naturais. Por outro lado,
o crescimento da competição tem levado à diversifica-
ção de produtos diante de um mercado cada vez mais
sofisticado e ávido pela qualidade. Nesse particular, o
baixo custo da mão de obra não pode ser apontado
como diferencial competitivo para as empresas, pois na
maior parte dos mercados a competição tem se voltado
para outras questões não diretamente ligadas ao preço
do produto, mas sim a sua qualidade, tecnologia e as
técnicas de gestão empregadas.
Sem dúvida, a mudança ocorrida no ambiente
institucional, especialmente no tocante à desregula-
mentação do setor e à abertura comercial, promoveu
uma nova dinâmica na cadeia produtiva láctea.
No entanto, provocou um alto custo social decorrente
da exclusão de muitos produtores rurais e do processo
de concentração agroindustrial acelerado, assistindo
cada vez mais ao aumento do poder das indústrias,
dos atacadistas e dos varejistas.
Além da não estabilidade nos preços, a cadeia
produtiva de lácteos é impactada frequentemente pelas
políticas macroeconômicas, pelas políticas setoriais que
nesse setor são altamente conjunturais, pelas variações
climáticas e até mesmo pelo desempenho de outras
culturas, à medida que o leite é uma atividade que
muitos agricultores passam a apostar quando a sua
atividade principal vai mal. Nesse sentido, programas
governamentais de fomento poderiam estabelecer
parcerias com fornecedores de insumos, prestadores
de serviços, agentes financeiros. Outras empresas e
organizações que atuam diretamente ou indiretamente
no setor podem ser fontes de competitividade, já que
facilitariam a estabilizar as relações das empresas;
facilitar o acesso às novas tecnologias e disseminação
de conhecimento; treinamentos com visitas periódicas
de um técnico responsável visando a técnicas mais
eficientes de gestão da propriedade rural, entre outras
possibilidades.
Portanto, a alternativa de um programa de go-
verno como o Balde Cheio facilitar as organizações
produtivas de características familiares a terem acesso
a serviços de assistência técnica ou veterinária a custos
baixos e a técnicas de gestão rural, poderia em uma
boa parte desta parcela à margem do processo de
renovação do setor, manter seu emprego, gerando
renda, cidadania e fixando o homem ao campo. Ainda
que apenas uma parte dos produtores se adaptam a
esses programas, este trabalho que ora se apresenta
já se justifica importante por apontar suas vantagens
e desvantagens.
2 GESTÃO DO EMPREENDIMENTO RURAL
A incorporação da gestão no empreendimento ru-
ral facilita a inserção do produtor no mercado e permite
estabelecer uma comunicação entre o produtor e os
consumidores finais, por intermédio das agroindústrias
e dos canais de distribuição.
Existem dois tipos de produtores, conforme ilus-
trado na Figura 1: (1) aqueles tidos como pequenos
característicos do modelo familiar e (4) aqueles tidos

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