Fusões e Aquisições no Varejo Alimentar: uma análise das estratégias de entrada e de crescimento do Carrefour e Wal-Mart no mercado brasileiro

AutorRoberto Minadeo - Marcos Antônio Camargo
CargoDoutor em Engenharia de Produção pela COPE-UFRJ. - Doutor em Administração pelo CEPEAD-UFMG.
Páginas102-135
102 Revista de Ciências da Administração • v. 11, n. 24, p. 102-135, maio/ago 2009
Roberto Minadeo • Marcos Antônio de Camargos
Fusões e Aquisições no Varejo Alimentar:
uma análise das estratégias de entrada e
de crescimento do Carrefour e Wal-Mart no
mercado brasileiro
Roberto Minadeo1
Marcos Antônio de Camargos2
Resumo
Em 2006, a Wal-Mart no Brasil ultrapassou o Carrefour, assumindo a segunda
colocação no ranking do varejo alimentar do país. O maior varejista mundial
ingressou no mercado brasileiro em 1995, enfrentou problemas em seus primeiros
anos, porém, depois empreendeu um programa de crescimento pela abertura de
novas lojas e pela aquisição de algumas redes nacionais. Enquanto isso, o Carrefour,
que ingressara 20 anos antes na economia brasileira, e que atingira a liderança
do ranking no ano de 1990, apenas por meio de um programa de abertura de
novos hipermercados, iniciou um processo de ingresso no varejo de vizinhança,
adquirindo diversas redes locais, porém, com resultados duvidosos. Logo após o
anúncio da perda da segunda posição ao Wal-Mart, o Carrefour anunciou a compra
da rede Atacadão, com a qual aspira retomar a liderança. Neste artigo faz-se uma
análise das estratégias de entrada, da trajetória de crescimento das duas empresas,
bem como da aquisição da rede Atacadão pelo Carrefour, considerada aqui como
estratégica para a retomada da liderança no segmento e para defender-se da
entrada ou afirmação dos seus concorrentes.
Palavras-chave: Estratégia de Entrada. Estratégia de Crescimento. Fusões e
Aquisições. Varejo Alimentar. Carrefour. Wal-Mart.
1Doutor em Engenharia de Produção pela COPE-UFRJ. Professor e pesquisador do Programa de Mestrado em Administração da UNIEURO.
Endereço: Av. das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília – DF. E-mail: rminadeo@yahoo.com.
2Doutor em Administração pelo CEPEAD-UFMG. Professor e pesquisador do curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Faculdade
Novos Horizontes e das Faculdades IBMEC-MG. Endereço: Rua Alvarenga Peixoto, 1.270, sala C1 T05, B. Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG
- CEP: 30.180-121. E-mail: marcos.camargos@unihorizontes. Artigo recebido em: 04/10/2008. Aceito em: 05/05/2009. Membro do Corpo Editorial
Científico responsável pelo processo editorial: Thomas G. Brashear.
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Fusões e Aquisições no Varejo Alimentar: uma análise das estratégias de entrada e de crescimento do Carrefour e...
1 Introdução
A teoria do crescimento da firma preconizada por Penrose (1959) se
alicerça, basicamente, na análise da dinâmica de mudança das oportunida-
des produtivas da firma ao longo da sua trajetória. Oportunidades estas, que
podem ser exploradas mediante recursos específicos da empresa, denomina-
dos como valiosos, raros e difíceis de serem imitados, na condição de gera-
dores de vantagem competitiva sustentável, ou seja, geradores de desempe-
nho econômico acima do normal na indústria (BARNEY, 1991). Na visão de
Penrose (1959) não são os recursos os inputs em si, mas sim os serviços que
tais recursos podem fornecer; podendo, portanto, ser empregados de dife-
rentes maneiras, cabendo aos gestores maximizar sua eficiência nas ativida-
des produtivas.
Segundo Singh e Montgomery (1987), existem duas formas de uma
empresa crescer:
a) crescimento interno: ou expansão por meio da construção de
novas plantas e desenvolvendo mercados (greenfield investiment),
que, por um lado, pode ser mais demorado e incorrer em maiores
custos do que a aquisição de outra empresa, mas por outro, ser
mais controlável, preservar a cultura organizacional e evitar várias
outras dificuldades inerentes a um processo de F&A; e
b) crescimento externo: por meio da fusão ou aquisição de outras
empresas, o que proporciona por um lado crescimento rápido, en-
trada em novos mercados, minimização de barreiras de entrada,
internacionalização entre muitos outros, mas que por outro lado
pode resultar na destruição da riqueza dos acionistas devido a er-
ros de avaliação provocados pelo excesso de confiança, prêmios
pelo controle e custos de transação muito elevados, além de moti-
vos fundamentados na teoria da agência, entre outros.
Sobre essa segunda estratégia, Pinto Júnior e Iootty (2005) salientam
que as empresas podem:
a) acessar novos mercados ou aumentar o poder de mercado de for-
ma rápida;
b) obter ganhos de eficiência produtiva seja do ponto de vista estáti-
co ou dinâmico;
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c) diversificar suas atividades produtivas; e
d) alcançar a internacionalização de suas atividades, quando for o
caso de uma operação cross-border.
Defendendo as alianças empresariais como modo de entrada em no-
vos mercados, Rasmussen (1989) argumenta que as organizações não estari-
am vinculadas aos riscos dos investimentos iniciais (greenfield investment),
pois a parceria levaria em conta certa experiência e know-how dos pares em
processos a serem dinamizados. Para o autor, na nova realidade da econo-
mia internacional, as estratégias de parcerias são ferramentas fundamentais
para uma empresa ou um grupo econômico entrar em mercados em um cur-
to espaço de tempo, eliminando várias etapas que exigidas com a espera da
maturidade de investimentos em novas unidades produtivas. Para Câmara
(2007), as alianças corporativas criam oportunidades diversas para as em-
presas, porém as opções de expansão do negócio devem ser analisadas com
cuidado, pois, dentre os riscos envolvidos, podem passar ao mercado a ima-
gem de uma possível fragilidade financeira ou a tentativa de cartelização.
As fusões e aquisições (F&As) podem ser entendidas como uma dentre
as várias estratégias de crescimento e de internacionalização empresarial, além
do licenciamento, investimento solo, alianças estratégicas, joint-ventures
(SUEN; KIMURA, 1997). Lemes Jr., Rigo e Cherobim (2002) salientam que
as F&As podem ser vistas como estratégias de expansão e internacionalização
de empresas, que podem alterar substancialmente o cenário no qual as em-
presas competem.
Os processos de F&As são marcados por momentos de maior e menor
intensidade no volume de operações (ondas), fortemente influenciados pelo
desempenho e (des)valorização das ações nos mercados de capitais dos prin-
cipais países da economia mundial. Trata-se de uma das atividades de desta-
que que reconfiguraram e transformaram a dinâmica das relações empresari-
ais nas últimas duas décadas, quando então as denominadas quarta (anos
80) e quinta (anos 90) onda de F&As criaram organizações com dimensões
verdadeiramente globais. As F&As são vistas pela teoria neoclássica como
uma resposta visando aprimorar a eficiência no ambiente econômico: medi-
ante políticas antitrustes e desregulamentação ou abertura de mercado
(JOVANOVIC; ROUSSEAU, 2002), internacionalização, aumento da com-
petição e maior integração dos mercados de capitais globais.
Pode-se dizer que a onda dos anos 90, de interesse direto neste artigo,
visou basicamente o acesso a novos mercados, tecnologias e competências;

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