A funcionalidade dos Membros Superiores

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas241-279

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1 Tabela de consulta rápida

Nesta tabela, quando existem dois valores percentuais, o primeiro se refere ao lado dominante e o segundo, ao lado auxiliar.

Quadro 13.1. A adaptação de uma prótese funcional (eletromecânica) pode justificar uma diminuição de até uma quarta parte.

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...continuação:

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2 Metodologia geral da avaliação pericial

Segue-se o procedimento geral da propedêutica, incluindo:

2. 1 O estudo dos antecedentes

Obtido a partir de um interrogatório rápido, preciso, indagando-se sobre os antecedentes. É recomendável indagar sobre a ocorrência de outros acidentes e se os mesmos foram alvo de perícia, afora as obrigatórias no Instituto Médico Legal. Na mesma esteira deve-se pesquisar a existência de um estado patológico anterior, a ocorrência de um tratamento de longa duração, fazendo-se uma verificação sumária dos diversos sistemas da economia, por meio de perguntas curtas e objetivas.

2. 2 Sinais funcionais e dificuldades experimentadas

As dores, como qualquer outra manifestação subjetiva, devem ser determinadas com precisão, pedindo-se ao examinado que aponte, com um único dedo, o ponto mais doloroso, quando é que dói, sua manifestação diante de certos movimentos, e.g., da fadiga, das mudanças do tempo, do estado de ânimo, bem como a importância que têm para as atividades do paciente.

A função dos membros superiores pode ser avaliada com bastante facilidade, partindo-se de alguns movimentos do dia a dia que deem uma ideia aproximada do valor funcional global de cada articulação ou de um dado segmento do membro.

No ombro. Em geral, estudam-se quatro gestos cotidianos:

• O ato de pentear os cabelos, que explora o movimento complexo de antepulsão-rotação externa;

• O ato de lavar ou coçar as costas, que explora o movimento complexo de retropulsão-rotação interna;

• O ato de colocar uma garrafa em uma prateleira localizada a boa altura, que explora a antepulsão em relação à sua amplitude e força; e, por derradeiro,

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• O ato de vestir-se, que explora a totalidade dos movimentos do ombro.

Cada um desses gestos pode ser valorado ou quantificado de 0 a 2, sendo que:

0 = impossibilidade de realizá-lo;

1 = dificuldade para realizá-lo;

2 = facilidade para sua execução.

No cotovelo. Também podem estudar-se os gestos correspondentes aos atos de pentear os cabelos e de vestir-se. Todavia, os mais importantes que carecem ser estudados incluem:

• lavar o rosto;

• escovar os dentes;

• comer com garfo e colher.

A somatória destes gestos oferece uma ideia bastante precisa acerca do valor funcional global do cotovelo.

Na mão. Mister distinguir entre os movimentos de força e os movimentos de precisão. Entre os movimentos de força incluem-se atos cotidianos, como:

• cortar a carne;

• descascar verduras;

• girar a maçaneta de uma porta; etc.

Entre os movimentos de precisão encontram-se no dia a dia alguns exemplos, como:

• costurar;

• tricotar;

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• escrever;

• desenhar;

• abotoar a roupa;

• amarrar cadarços; etc.

Prejuízo profissional. Este ponto há de ser estudado com muito cuidado, sempre lembrando que não é competência do perito quantificá-lo, mas apenas saber:

• se o examinado voltou a trabalhar na mesma empresa, na mesma função e nos mesmos horários;

• se teve de mudar de emprego, cargo ou função;

• se está completamente incapacitado.

Ao longo da avaliação pericial, a cada dia se torna mais comum que os operadores de Direito solicitem, explicitamente, estes vários conceitos capazes de avaliar outra variedade de prejuízo diferente. Nesse campo, é conveniente que o perito forneça informações em relação às atividades recreativas do examinado, como: atividades esportivas anteriores ao evento infortunístico, registro em um clube, participação em competições ou se o esporte era simplesmente um hobby. Da mesma maneira, é preciso conhecer que outras atividades recreativas podem efetuar-se ainda, mesmo na vigência do transtorno, como: dança (clássica ou moderna), atividades artísticas (pintar, esculpir etc.), tocar um instrumento musical etc.

2. 3 Exploração clínica

Começar sempre pelas medições de peso e altura, apontando sempre o lado dominante do examinado (se é destro ou canhoto). A exploração dos membros superiores deve ser feita, em todos os casos, com o hemicorpo superior nu, de modo a verificar a existência de atrofias, deformidades e cicatrizes. Estas últimas, além de medidas, deverão ser descritas conforme seu aspecto: lineares, finas, anfractuosas, largas, deprimidas, móveis, aderentes aos planos profundos, pigmentadas, hipocrômicas, hipertróficas, quelóides etc.

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As medições possíveis interessam aos casos de lesões unilaterais, porquanto sempre poderá contar-se com o membro contralateral para fazer as comparações. Os perímetros dos diferentes segmentos podem ser medidos em qualquer local, dando-se preferência às partes mais musculosas, isto é, com maior desenvolvimento muscular, e sempre fazendo a medição, em ambos os lados, na mesma altura e na mesma posição (fletido, estendido etc.).

Quando há desvios ou encurtamentos dos dedos, a avaliação é simples, desde que seja possível tomar como referência as cabeças dos metacarpianos quando as articulações metacarpofalangianas estão fletidas a 90°.

Figura 13.1. Mobilidade dos dedos. A. flexão: alcança 90º; B. extensão: a ativa chega a 39º; a passiva, mais acentuada, notadamente em indivíduos hiperflácidos; C. lateralidade: arcos máximos do indicador.

2. 4 A mobilidade articular

O estudo da mobilidade articular é de singular importância e fácil de anotar, com valores numéricos, em geral de ângulos ou arcos de círculo, que exteriorizam o estado funcional da junta analisada.

Mister partir de uma posição convencional = 0, que geralmente é dada pela denominada “posição anatômica” ou “posição anatômica de Poirier”: “O examinado de pé, com os membros superiores estendidos e encostados no corpo, as palmas das mãos voltadas para a frente, e com o olhar para a frente e no horizonte ou infinito”.

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A partir daí, é extremamente fácil realizar medições precisas, que permitem avaliar tanto a rigidez articular como o arco de mobili-dade útil, ambas medidas de grande interesse quando se aquilata o déficit funcional ou a capacidade fisiológica residual.

  1. No ombro, devem estudar-se, sucessivamente:

    • a abdução (normalmente de O a 180°);

    • a antepulsão (normalmente de O a 180°); e

    • a retropulsão (normalmente de 45°).

    As rotações externa e interna verificam-se com maior facilidade quando o cotovelo está fletido em ângulo reto. A mão, girando para fora, mede a rotação externa (habitualmente de uns 45°), e, para dentro, avalia a rotação interna (limitada normalmente a 60° pelo contato com o tórax).

    Figura 13.2. Os arcos de mobilidade do ombro. A. flexão ou antepulsão e extensão ou retropulsão; B. abdução e adução. C. rotação; D. rotação externa.

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    Estes movimentos devem medir-se tanto na forma ativa como na forma passiva. A mobilidade ativa informa sobre o estado global – muscular e articular – do ombro, ao passo que a mobilidade passiva informa, tão somente, sobre o estado articular. Veremos, a seguir, três exemplos possíveis:

    • Na vigência de mobilidades ativa e passiva normais, o significado é que o ombro é normal;

    • Ocorrendo mobilidades ativa e passiva diminuídas, significa que o ombro está enrijecido; e

    • Observando uma mobilidade ativa diminuída, com normalidade da mobilidade passiva, significa que o ombro está paralítico ou apresentando uma pseudoparalisia.

  2. No cotovelo, avaliam-se dois movimentos: a flexo-extensão e a pronossupinação. A flexão oscila, normalmente, entre 0 e 140°. É certo que uma rigidez do cotovelo provoca diminuição da mobilidade, mas sua repercussão funcional é muito diferente segundo se trate de uma rigidez em flexão ou de uma rigidez em extensão.

    Basta considerarmos dois exemplos de diminuição da mobilidade da articulação que implique:

    • uma flexão do cotovelo entre 0 e 45°: provoca uma invalidez extrema, já que praticamente não são possíveis os atos de vestir-se, de alimentar-se ou de assear-se; ao passo que

    • uma flexão do cotovelo entre 70 e 115°: pouco interfere na vida funcional, uma vez que continuam sendo possíveis todos os gestos da vida cotidiana.

    A grande vantagem deste sistema de valoração está no fato de que facilita uma apreciação muito precisa, com um mínimo de

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    dados. Dois valores apenas – por exemplo, flexão do cotovelo entre 30 e 90° –, proporcionam ao mesmo tempo a mobilidade e o arco de mobilidade.

    O mesmo acontece com o movimento de pronossupinação. O zero (0) da avaliação, que corresponde à máxima supinação, nunca deve ser considerado, razão pela qual se dirá que a pronação oscila entre 0 e 180° (será mais fácil medi-la com o cotovelo fletido em ângulo reto, já que assim se elimina o fator de erro do ombro). Da mesma...

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