A funcionalidade dos Membros Inferiores

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas281-312

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1 Tabela de consulta rápida

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...continuação:

2 Metodologia geral da avaliação pericial

Segue-se o procedimento geral da propedêutica, incluindo:

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2. 1 O estudo dos antecedentes

Obtido a partir de um interrogatório rápido, preciso, indagando-se sobre os antecedentes. É recomendável indagar sobre a ocorrência de outros acidentes e se os mesmos foram alvo de perícia, afora as obrigatórias no Instituto Médico Legal. Na mesma esteira deve-se pesquisar a existência de um estado patológico anterior, a ocorrência de um tratamento de longa duração, fazendo-se uma verificação sumária dos diversos sistemas da economia, por meio de perguntas curtas e objetivas.

2. 2 Sinais funcionais e dificuldades experimentadas

As dores, como qualquer outra manifestação subjetiva, por sua gravidade e repercussão sobre a funcionalidade, devem ser analisadas em primeiro lugar, determinadas com precisão, pedindo-se ao examinado que se manifeste sobre:

  1. a natureza da dor [“em queimadura, em agulhada, em facada, pulsátil, como constrição (aperto)”];

  2. localização: que aponte, com um único dedo, o ponto mais doloroso;

  3. horário de apresentação, isto é, quando é que dói: no final do dia, à noite (na primeira metade, na segunda metade), de manhã etc.;

  4. duração;

  5. intensidade da dor;

  6. manifestação diante de certos movimentos, isto é, efeito da postura corporal sobre a dor: da fadiga, da marcha, do repouso, da medicação, bem como a importância que têm para as atividades do paciente.

    Destarte, a análise da perturbação funcional é de fundamental importância, já que é o maior parâmetro de descapacidade.

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    O paciente sempre deve ser interrogado com relação às suas queixas – inversamente ao habitual – só após a exploração clínica, para descobrir um bom número de simuladores. De fato, os achados da exploração clínica e das explorações complementares devem ratificar as queixas do paciente, apenas questionadas findo o exame.

    A anamnese, somada às explorações, vai mostrar de que maneira os membros inferiores executam as suas funções:

  7. Levantar-se: avalia os movimentos desde a posição sedente até a posição ortostática, com ou sem o auxílio das mãos, bem como as mudanças desde a posição ortostática até a sedente.

  8. Bipedestação.

  9. Marcha: normal, no solo plano, em rampa, em solo acidentado; tentar precisar o “perímetro” da marcha, isto é, a distância ao fim da qual o paciente deve descansar antes de reiniciar a marcha, distância que não pode superar, bem como a duração da marcha. Necessita usar sapatos ortopédicos? É possível o uso de salto alto? Etc.

  10. Subida e descida de escadas: uso de corrimões, bengalas e outros recursos semelhantes.

  11. Adoção da postura “de loto”, de joelhos, mudar da posição de joelhos à ortostática, com ou sem o auxílio das mãos.

    Pari passu, tanto a anamnese como a exploração podem oferecer elementos para analisar as possibilidades dos atos da vida cotidiana, atos estes que exigem tocar a extremidade dos membros inferiores. Por exemplo:

    1. Possibilidade de calçar as meias, os sapatos, de amarrá-los; possibilidade de colocar-se uma prótese sem o auxílio de terceiros.

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    2. Possibilidade de pôr as calças, a saia ou um vestido.

    3. Possibilidade de cortar-se as unhas dos pés, de lavar as extremidades inferiores, entrar e sair da banheira, do chuveiro etc.

    4. Possibilidade de ir ao banheiro, de utilizar as privadas normais ou adaptadas.

      Ao longo da avaliação pericial, a cada dia se torna mais comum que os operadores de Direito solicitem, explicitamente, esses vários conceitos capazes de avaliar outra variedade, de prejuízo diferente. Neste campo, é conveniente que o perito forneça informações sobre as atividades recreativas do examinado, como: atividades esportivas anteriores ao evento infortunístico, associação a um clube, participação em competições, ou se o esporte era simplesmente um hobby. Da mesma maneira, é preciso conhecer quais outras atividades recreativas podem efetuar-se ainda, mesmo na vigência do transtorno, como: dança (clássica ou moderna), atividades artísticas (pintar, esculpir etc.), tocar um instrumento musical etc.

3 Exploração Clínica

Começar sempre pelas medições de peso e altura, apontando sempre o lado dominante do examinado (se é destro ou canhoto). A exploração dos membros inferiores deve ser feita, em todos os casos, com o hemicorpo inferior nu, de modo a verificar a existência de atrofias, deformidades e cicatrizes. Estas últimas, além de medidas, deverão ser descritas conforme seu aspecto: lineares, finas, anfractuosas, largas, deprimidas, móveis, aderentes aos planos profundos, pigmentadas, hipocrômicas, hipertróficas, queloides etc.

As medições possíveis interessam aos casos de lesões unilaterais, porquanto sempre poderá contar-se com o membro contralateral para fazer as comparações. Os perímetros dos diferentes segmentos podem ser medidos em qualquer local, dando-se preferência às partes mais musculosas, isto é, com maior desenvolvimento muscular, e sempre fazendo a medição, em ambos os lados, na mesma altura e na mesma posição (fletido, estendido etc.).

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3. 1 Pessoas sem descapacidade grave nos membros inferiores

Neste caso a exploração funcional pode realizar-se de forma cômoda, rápida e precisa, como resultado de algumas simples manobras:

  1. Em primeiro lugar, solicita-se ao paciente que fique em pé e que caminhe com rapidez, na direção do Perito Avaliador, que volte à sua cadeira e retorne ao centro da sala de exploração. Nesse momento se pede ao paciente que salte nas pontas dos pés, primeiro com o lado não afetado e, a seguir, com a extremidade lesada: é nesse momento que costumam aparecer as dificuldades. O Examinado, ainda que tenha curado a sua doença, simulará (mais ou menos conscientemente) uma moléstia, o que fará com que o salto seja indeciso e impreciso. De modo a conseguir uma “cooperação”, o pedido para que repita a manobra (com voz firme e autoritária): o “score” será menos indeciso e oferecerá menos dificuldades.

  2. A seguir, solicita-se ao paciente que caminhe, primeiro na ponta dos pés, depois sobre os calcanhares, tanto para frente como para trás. Pede-se que agache, que se ajoelhe e que sente sobre os calcanhares. A seguir, que se levante sem apoiar-se nos objetos próximos: avalia-se se essa sequência de movimentos flui com facilidade e, em caso contrário, que manobras o paciente realiza para ficar em pé.

Estas sequências gestuais podem realizar-se em 1 a 2 minutos, sendo certo que proporcionam numerosas informações sobre a funcionalidade global dos membros inferiores e em relação ao prejuízo concreto de uma determinada articulação.

3. 2 Pessoas com uma descapacidade mais profunda

A exploração global da função é a mesma, mas é possível recorrer apenas a parte das manobras acima citadas, lentamente e com uma dificuldade variável.

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3. 3 A mobilidade articular

O estudo da mobilidade articular é de singular importância e fácil de anotar, com valores numéricos, em geral de ângulos ou arcos de círculo, que exteriorizam o estado funcional da junta analisada.

Parte-se, como no membro superior, da posição convencional = 0, que geralmente é dada pela denominada “posição anatômica” ou “posição anatômica de Poirier” (cf. capítulo anterior).

A partir daí, torna-se extremamente fácil realizar medições precisas, que permitem avaliar a rigidez articular, a angulação e o arco de mobilidade útil, todas medidas de grande interesse quando se aquilata o déficit funcional ou a capacidade fisiológica residual.

4 Testes para avaliação funcional em membros inferiores
4. 1 Teste de flexibilidade para membros inferiores, flexiteste

Realizado o Flexiteste sem aquecimento, cada um dos movimentos é medido em uma escala crescente e descontínua de números inteiros, de 0 a 4 (ver escala abaixo), perfazendo um total de cinco valores possíveis. A medida é feita pela execução lenta do movimento, até a obtenção do ponto máximo da amplitude e a posterior comparação entre os mapas de avaliação e a amplitude máxima obtida pelo avaliador no avaliado.

Escala de pontuação dos movimentos do Flexiteste: Muito pequena = 0, Pequena = 1; Média = 2; Grande = 3; Muito grande = 4.

O ponto máximo da amplitude de movimento é detectado com facilidade pelo desconforto relatado pelo avaliado e/ou pela grande resistência mecânica à continuação do movimento.

A tabela abaixo demonstra a descrição cinesiológica dos movimentos do Flexiteste para membros inferiores.

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Descrição cinesiológica dos movimentos do Flexiteste para membros inferiores:

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Apesar de a análise do flexiteste ser feita para cada movimento isoladamente, é possível somar os resultados e obter...

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