O fórum central: catalizador da participação do aluno em turmas virtuais no ensino a distancia online

AutorJosé Coelho - Adérito Fernandes Marcos
CargoDoutor em Engenharia de Sistemas Professor do Departamento de Ciências e Tecnologia Universidade Aberta, Portugal - Doutor em Engenharia Informática Agregado em Tecnologias e Sistemas de Informação
Páginas85-99

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José Coelho

Doutor em Engenharia de Sistemas Professor do Departamento de Ciências e Tecnologia

Universidade Aberta, Portugal

jcoelho@univab.pt

Adérito Fernandes Marcos

Doutor em Engenharia Informática Agregado em Tecnologias e Sistemas de Informação Professor do Departamento de Ciências e Tecnologia

Universidade Aberta, Portugal

marcos@univab.pt

1 Introdução

O ensino a distancia (EaD) online tem vindo a adquirir importância em todo o mundo muito como consequência directa do acelerado desenvolvimento que se verifica das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Este desenvolvimento tem impelido os agentes do EaD a encontrar novas metodologias de ensino e de aprendizagem que explorem a mediação tecnológica até aos limites do que as TICs podem efectivamente oferecer. Desta forma novos modelos pedagógicos virtuais têm vindo a ser desenvolvidos e aplicados pelas instituições de EaD na sua oferta de formação superior graduada e pósgraduada. Em geral os modelos

*Ver http://moodle.org/.

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pedagógicos virtuais exploram as possibilidades oferecidas pelas novas formas de interacção online professoraluno(s) e alunos entre si assim como mecanismos especializados de acesso e partilha de informação em formato digital. Esta forma de ensinar e apreender comummente denominada de elearning baseiase em quatro grandes vectores definidores: a aprendizagem é centrada no aluno; o primado da flexibilidade (espacial, temporal); o primado da interacção; e o princípio da inclusão digital. Ou seja, um dos pilares ou primados do EaD é a interacção especialmente a de tipo assíncrono que esbate as barreiras temporais impostas pelo sincronismo comunicacional. A interacção é, assim, absolutamente fundamental para que o processo de ensinoapreendizagem efectivamente resulte em aquisição de conhecimento e competências por parte do estudante. Esta interacção acontece quando o estudante participa activamente nas actividades de aprendizagem que envolvem a comunicação com os pares e o professor, seja contribuindo para uma discussão, para a resolução de um exercício, na análise de um resultado, ou simplesmente trocando impressões com os colegas ou esclarecendo dúvidas com o professor (TINOCA et al, 2010, PEREIRA et al., 2007, GRAHAM, 2005).

No entanto diversos factores contribuem para a redução efectiva da participação do estudante no EaD. Um dos factores principais prendese com a inibição natural de exposição pública de dúvidas ou considerandos que o estudante considere serem de valor menor. Aliada à inibição juntase o factor de dispersão perante um elevado número de intervenções: a experiência tem demonstrado que a participação do aluno se torna inviável em espaços virtuais com um grande número de participantes, pois a intervenção individual tende rapidamente a diluirse no elevado volume de interacções geradas. Estas, não raras vezes, convertemse com o tempo num enleado de comunicações difícil de seguir. Este é o motivo principal subjacente à criação de classes virtuais com um máximo de 60 alunos, especialmente se se considerar os cursos de primeiro ciclo do ensino superior em regime EaD. Aguardase, assim, que ao reduzir a dimensão da turma virtual, se promova uma maior proximidade online e a participação individual do estudante venha a acontecer com níveis adequados intervenções que permitam que este contribua efectivamente para o processo de aprendizagem colaborativa, tornandose um actor próactivo no seio da turma virtual.

A estratégia de redução das turmas virtuais não tem resultado em áreas como as ciências da computação onde na prática ocorrem níveis de participação bastante reduzidos. Este facto pode ser resultante do elevado grau de especialização da área, o que inibe o estudante com menor domínio das matérias de intervir ou de colocar dúvidas. A intervenção fica geralmente monopolizada por um reduzido núcleo de alunos com melhor domínio da área ou mais desinibidos. Desta forma a dimensão da turma não tem por si só resultado continuando a verificarse um reduzido nível de participação dos alunos nas actividades formativas online.

Propõese aqui uma nova abordagem baseada na exploração de um espaço comum e fórum central partilhado por diversas turmas de uma mesma unidade curricular que permita catalisar toda a interacção, mesmo que residual, de cada turma, maximizando o seu impacto junto dos estudantes. Mesmo que a interacção seja muito elevada no fórum central tornandoo potencialmente difícil de ler e de seguir, a mesma pode ser complementada com um wiki onde se podem colocar explicações de maior dimensão e se pode permitir a edição e reorganização dos temas. Neste artigo apresentamse resultados experimentais que permitem validar o efeito catalisador de um espaço comum e fórum central partilhado por todos os estudantes de uma unidade curricular divididos em diversas turmas virtuais. Para tal comparamse os métodos e resultados obtidos em dois anos consecutivos, no contexto da unidade curricular Arquitectura de Computadores, com e sem este espaço comum e fórum central.

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Este artigo encontrase dividido nas secções que a seguir se enunciam. Na secção 2 fazse uma apresentação geral do modelo pedagógico virtual em uso na Universidade Aberta no que se refere especificamente aos cursos do primeiro ciclo do ensino superior. Na secção 3 apresentase o caso de estudo de aplicação do fórum central incluindo a análise de resultados. Finalmente, na secção 4, são tecidas as conclusões e enunciado o trabalho futuro.

2 Modelo pedagógico virtual
2. 1 Princípios gerais

O Modelo Pedagógico Virtual (MPV) da Universidade Aberta define em grande detalhe a forma de desenhar e implementar contextos de ensinoapreendizagem em regime de EaD para cursos do ensino superior universitário dos três ciclos (PEREIRA, 2007).

O MPV assenta nos quatro grandes vectores denominados de linhas de força comummente encontrados no EaD, nomeadamente:

A aprendizagem centrada no estudante: onde este se assume como indivíduo activo, construtor do seu próprio conhecimento, conduzindo com grande empenho e comprometimento o seu processo de aprendizagem enquanto integrado numa comunidade de aprendizagem. A aprendizagem acontece quer com recurso à aprendizagem independente (seguindo aquilo que é o cariz mais intrínseco do EaD); quer em interacção e diálogo com os pares adoptando estratégias de aprendizagem colaborativa, partilhando experiências, conjugando esforços na resolução de problemas e realização de tarefas;

O primado da flexibilidade: onde devem ser disponibilizadas condições para que estudante possa apreender onde e quando desejar, independentemente das restrições espaçotemporais que um ensino presencial, por oposição, impõe. Um modelo comunicacional essencialmente assíncrono permite a nãocoincidência de espaço e de tempo, onde a comunicação e interacção, em geral, têm lugar conforme e à medida que é conveniente para o estudante. Este deverá ter o tempo necessário para ler, processar a informação, reflectir e, então, dialogar ou interagir com a adequada qualidade;

O primado da interacção: subjacente a todo o EaD alargandose para a nova tipologia de interacção estudanteestudante que acontece ao nível da criação de grupos de discussão no interior de cada turma virtual e constituindose como a base para a aprendizagem colaborativa. A comunicação aqui é essencialmente assíncrona o que permite os tempos de reflexão e preparação de cada intervenção com claro benefício para o estudante no desenvolvimento de competências de reflexão crítica e de síntese. A interacção é a base da partilha de experiências, de recursos, conhecimentos e a colaboração na realização de actividades, sendo portanto, absolutamente fundamental, no EaD;

O princípio da inclusão digital: onde a instituição de ensino, neste caso a Universidade Aberta, se assume como agente de formação e transmissão de competências basilares em TIC para todos aqueles que de alguma forma se encontrem excluídos deste tipo de saberes, e por arrasto, se vêem impossibilitados de frequentar formação superior em EaD. Tal implica que todo o estudante que pretenda frequentar um curso na Universidade Aberta poderá frequentar formação online para aquisição de competências em TIC e se possa familiarizar com as ferramentas tecnológicas antes de se envolver concretamente em algum curso.

O MPV em voga na Universidade Aberta (ver figura 1) proporciona, portanto o modelo de referência que permite planear, organizar e implementar a oferta formativa de nível universitário em regime de EaD explorando intensivamente as facilidades oferecidas pelas

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TIC. De seguida apresentase a instanciação específica do MPV para o caso dos cursos de primeiro ciclo.

[FIGURA EM PDF ANEXO]

Figura 1 – Arquitectura conceptual geral do Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta.

Fonte: Modelo Pedagógico Virtual (MPV), Universidade Aberta.

2. 2 Aplicação do modelo pedagógico ao primeiro ciclo

A aplicação do MPV ao processo de ensinoaprendizagem fazse em geral recorrendo à plataforma elearning da Universidade Aberta. Esta é uma plataforma que explora a tecnologia Moodle1 e que integra especializações para...

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