Navegação fluvial a vapor em Santa Catarina e o desempenho da Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau

AutorAlcides Goularti Filho
CargoDoutor em Economia pela Unicamp. Professor do Curso de Economia da Unesc.
Páginas159-180
NAVEGAÇÃO FLUVIAL A VAPOR EM SANTA CATARINA E O
DESEMPENHO DA COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO FLUVIAL A
VAPOR ITAJAHY-BLUMENAU
Prof. Dr. Alcides Goularti Filho1
Resumo: O objetivo deste texto é descrever e analisar o desempenho da nave-
gação fluvial em Santa Catarina do último quartel do século XIX até meados do
XX. Além de um breve panorama sobre a navegação fluvial brasileira, o texto
destaca a navegação no Rio Itajaí-Açu, por meio da Companhia de Navegação
Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau (1878-1954). No período analisado, Santa
Catarina apresentava uma especialização regional e uma fragmentação econô-
mica, que refletia nas vias de comunicação e nos meios de transporte, gerando
um sistema desarticulado, que, de certa forma, atrasou a integração regional
catarinense. A Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau foi
fundada em 1878 e fazia o trajeto entre a colônia de Blumenau e o porto de Itajaí.
Em 1909, a Companhia foi incorporada pela Estrada de Ferro Santa Catarina,
que realizava o transporte conjugado das colônias do interior (via férrea) ao lito-
ral (via fluvial). Em 1919, a Companhia de Navegação e a Estrada de Ferro
foram encampadas pela União e repassadas ao governo estadual. Nos anos de
1930, ambas passaram a apresentar resultados deficitários, e a navegação foi
sendo aos poucos menos utilizada e com a extensão da linha ferroviária de
Blumenau a Itajaí, inaugurada em 1954, a navegação foi desativada por comple-
to. Mesmo sendo deficitária, a navegação pelo Rio Itajaí-Açú foi fundamental
para integrar Blumenau a outras praças comerciais mais importantes.
Palavras-chave: Transporte Fluvial; Navegação; Comunicações; Integração
Econômica; Santa Catarina
Abstract: The objective of this text is to analyze the performance of the fluvial
navigation in the state of Santa Catarina in the last quarter of the XIXth century
until half of the XXth. After a brief panorama on the Brazilian fluvial navigation,
the text pay special attention to the navigation in the Itajaí-Açu River by the
“Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau” (1878-1954). In
the analyzed period, Santa Catarina presented a regional specialization and an
1 Doutor em Economia pela Unicamp. Professor do Curso de Economia da Unesc. E-mail para
contato: alcides@unesc.net.
160 REVISTA ESBOÇOS Volume 16, Nº 21, pp. 159-180 — UFSC
economic spalling that reflected in the communication and transportation routes,
generating a disarticulated system that, in a certain form, delayed the state’s
regional integration. The “Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-
Blumenau” was established in 1878 and navigated between the colony of Blumenau
and the port of Itajaí. In 1909, the Company was incorporated by the “Estrada de
Ferro Santa Catarina” who did the conjugated transportation from the colonies in
the hinterland (by railway) to the coast (by river). In 1919, the navigation company
and the railroad had been expropriated by the Federal Government and passed to
the state government. In the 1930’s both had started to present a business loss
and the navigation started to loose its significance. After the railway line extension
from Itajaí to Blumenau, inaugurated in 1954, the navigation was completely
deactivated. Even with its budget deficits, the navigation throughout the Itajaí-
Açú River was fundamental to the Blumenau integration into a larger and more
important commercial net.
Key-Words: Fluvial Transportation; Navigation; Communication; Economy
Integration; Santa Catarina
1. INTRODUÇÃO
A formação econômica de Santa Catarina é marcada por algumas caracterís-
ticas singulares na sua história e na sua geografia. Do ponto de vista do relevo, o
território catarinense está dividido entre planícies, patamares, serras e planaltos, ou
seja, com apenas 95 mil km², Santa Catarina tem um relevo bem irregular. Talvez
pudéssemos dividir em duas grandes áreas: a) o planalto (serrano, norte, meio oeste
e oeste); b) a planície e as serras ao leste catarinense (sul, litoral, vale do Itajaí e
norte). Estas duas áreas são separadas pela Serra Geral (do extremo sul ao baixo
vale do Itajaí) e pelos patamares do Alto Rio Itajaí, além da Serra do Mar no norte do
estado. Podemos afirmar que até o início do século XX, estas serras eram as barrei-
ras naturais que dificultavam a integração econômica e demográfica em Santa Cata-
rina. O litoral já era ocupado desde o século XVII, onde foram fundadas as freguesi-
as de São Francisco (norte), Desterro, atual Florianópolis, (leste) e Laguna (sul). A
ocupação rarefeita do planalto serrano se deu em função dos caminhos das tropas
que ligavam as fazendas gaúchas com a feira de Sorocaba. A região estava mais em
contato com São Paulo e Rio Grande do Sul, do que com o litoral catarinense. As
colônias de imigrantes formadas no final do século XIX, estavam todas localizadas no
sul, vale do Itajaí e norte. No final do século XIX e início do XX, o contato comercial
entre o planalto, as colônias e o litoral era muito esporádico, feito por tropeiros que
desciam a serra em direção a Laguna ou Desterro. E a ocupação mais efetiva do

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