A 'filosofia' da coluna vertebral

AutorLuiz Philippe Westin Cabral de Vasconcellos
Ocupação do AutorMédico formado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) em 1970, com residência médica ortopedia e traumatologia, onde também fez o mestrado e o doutorado, tendo feito especialização em Fisiatria, Medicina do Trabalho e Medicina Esportiva e mais recentemente titulado em Medicina Legal e Perícia Médica
Páginas15-58
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2. A “FILOSOFIA” DA COLUNA VERTEBRAL
2. A “FILOSOFIA” DA COLUNA VERTEBRAL
Porque “fi losofi a” e não semiologia, exames complementares, etiopatogenia e
outros nomes do jargão médico assistencial e pericial nossos conhecidos?
Porque o atual estado dos conhecimentos e desconhecimentos também cha-
mado de “estado da arte”, sobre as queixas músculo-esqueléticas envolvendo a
coluna vertebral, suas estruturas e correlações, mais se assemelha a uma discussão
de esforçadas pessoas cegas, avaliando apenas pelo tato o que seja um elefante.
No caso, o tato é inerente a cada pessoa, com seus conhecimentos, suas ha-
bilidades, seus vieses, seus interesses e defi ciências de interpretação, sejam eles
clínicos, pronto-socorristas, ortopedistas, reumatologistas, fi siatras, médicos do
trabalho ou peritos e mesmo ainda o próprio paciente queixoso.
Ainda bem que a Medicina não é uma ciência exata, pois se assim o fosse, já
teríamos as respostas às nossas dúvidas sobre as lombalgias e pouco trabalho para
aqueles profi ssionais citados.
Essas dúvidas são benéfi cas à curiosidade que levam ao aprimoramento
científi co profi ssional necessário à perícia médica, que não deve deixar cristalizar
conceitos científi cos ou condutas estereotipadas do alegado “já sabido” e do “sem-
pre foi feito assim”.
Não serão os modismos das novas tecnologias que subverterão os sintomas
milenares das dores das pessoas e senso crítico ético e humanístico do médico.
Não serão as leis, os decretos, portarias e ordens de serviço que mudarão a
anatomia e a fi siologia humana e sua psique.
Não serão as estatísticas e os métodos ergonômicos que tirarão a individuali-
dade de cada pessoa como trabalhador, esportista ou sedentário.
Assim, peço que antes de prejulgar mais uma perícia de dores nas costas,
comece a se reavaliar para estar “fi losofi camente” apto a dar seu esclarecimento ao
Juízo. Uma boa forma de fazer isso é não concordar comigo.
Serão abordados os temas principais que mais aparecem como problemáticos
nas perícias, sejam pela frequência, sejam como diagnósticos diferenciais, fatores
complicantes ou meras alegações judiciais.
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Escolhemos:
• A lombalgia e a ciática como sintomas;
• O processo degenerativo da coluna e as alterações dos discos interverte-
brais;
• A espondilolise e a espondilolistese;
• A escoliose;
• A espondilite anquilosante, a aracnoidite lombar, a vértebra de transição, a
síndrome do piriforme, a coccigodinia;
• Os traumas raquimedulares, os defeitos congênitos, tumores e infecções;
• A cervicalgia como sintoma e a síndrome do chicote.
O médico perito, não ortopedista ou neurocirurgião, não precisa se aprofundar
em detalhes anatômicos da coluna vertebral, mas não pode deixar de saber aquele
mínimo de nomes de estruturas ósseas, ligamentares, nervosas e musculares pre-
sentes “no local do crime”, tanto para poder entender as descrições dos exames de
imagem, como para poder correlacioná-las com os eventuais sinais e sintomas alega-
dos ou apresentados pelo examinando.
Onde fi ca mesmo a pars interarticularis, sede das espondilolises?
E a cauda equina, apresenta espaço de acomodação para as raízes ou é apenas
um achado equestre, relacionado à síndrome do chicote?
Para rememorar tais conhecimentos, esquecidos desde os tempos formoli-
zados da Anatomia, nada melhor do que as imagens facilmente encontradas na
internet e propositalmente não colocadas neste livro básico e barato.
Mais que isso, é tentar saber como a coluna vertebral “funciona” e, em espe-
cial, como deveria funcionar para aquele indivíduo, naquele posto de trabalho ou
função, e o que deu errado, pois as queixas de dores na coluna têm uma prevalên-
cia na vida de 85% e uma incidência anual de 15% na população da faixa de até
45 anos.
Assim, como no volume sobre a perícia do ombro, deste Autor, aqui também
podemos fazer uma série de perguntas, aleatórias, sobre o tema da coluna vertebral
que tanto nos afl igem ao elaborar as conclusões, ao responder quesitos específi cos
ou mesmo nos dar a tranquilidade do conhecimento.
Muitas dessas perguntas são óbvias, intuitivas, autorrespondidas, ou subje-
tivas, porém, mesmo respeitando a experiência dos colegas, sugiro que façam um
escore de acertos e erros ou mesmo um banco de dados das suas próprias respostas,
pois estas servirão a muitos esclarecimentos e questionamentos complementares.
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Questionamentos de interesse pericial referentes aos resultados de exa-
mes da coluna vertebral e termos relacionados:
1. Quantas vezes você questionou, de forma ética, explícita e prática o radio-
logista sobre uma dúvida ou desacordo de relatório de exame?
2. Objetivamente, o que você entende e acredita por “hipersolicitação mecâ-
nica” descrita no relatório?
3. Qual a importância biomecânica, funcional e vulnerabilidade de uma vér-
tebra lombar de transição (VT), descrita na imagem?
4. Qual a importância funcional e causa de dores considerando-se a citação
da classifi cação das alterações de Modic?
5. Essas alterações têm relação com esforços ou com a idade?
6. Devem ser citadas no laudo pericial?
7. Você lê o relatório todo de imagem ou apenas as conclusões?
8. Quais as alterações do relatório de imagem que você considera degenera-
tivas?
9. Qual a idade de início das manifestações degenerativas discais mostradas
nas imagens?
10. Quando e porque essas alterações degenerativas começam a dar sintomas
e quais seriam eles?
11. Quais diferenças entre os termos: abaulamento, protrusão, extrusão e
hérnia discal?
12. Existe consenso entre os radiologistas quanto ao uso desses termos?
13. Existe hérnia não extrusa?
14. Existe a possibilidade de regressão de tamanho e de sintomas da hérnia
discal, ou seja, quais as possíveis evoluções clínicas das hérnias discais?
15. Existe uma inexorável sequência temporal de agravamento das hérnias
discais?
16. As protrusões ou mesmo as hérnias lombares medianas, ao nível da cauda
equina dão sintomas de radiculopatias compressivas?
17. Qual a porcentagem de hérnias discais em vários níveis vertebrais ou de
re-herniação pós-cirúrgica?
18. A ruptura do ânulo fi broso é traumática, ou é degenerativa e sempre
causa dor?

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