Filosofando sobre o tempo na história

AutorArgos Campos Ribeiro Simões
Páginas67-99
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CAPÍTULO 3
FILOSOFANDO SOBRE O TEMPO NA HISTÓRIA
3.1 Objetivo deste capítulo
A noção de tempo é alvo de estudos que remontam aos
clássicos pensadores da antiga Grécia, como Platão, Aristóte-
les, Plotino e outros tantos filósofos de sua época, assim como
pensadores ligados ao pós-positivismo, como François Ost, não
esquecendo, evidentemente, de outros grandes filósofos nes-
te entremeio, como Santo Agostinho, Immanuel Kant, Henri
Bergson, Edmund Husserl, Martin Heidegger, André Comte-S-
ponville ou sociólogos como Niklas Luhmann e outros tantos.
Nosso objetivo neste capítulo é descrever de forma sin-
tética, e direcionada aos objetivos deste trabalho, as diversas
visões sobre a noção de tempo a partir de grandes filósofos e
pensadores ao longo da história, na tentativa de encontrar-
mos um conceito que se encaixe, e até justifique, nossa forma
de “enxergar” e de aplicar o direito em relação às categorias
decadência e prescrição na seara tributária.
Paulo de Barros Carvalho, em exaustiva pesquisa, nos
fornece inúmeras acepções do “tempo”:
1. tempo histórico 2. tempo cronológico 3. tempo biológico 4.
tempo meteorológico 5. tempo psicológico (racional e emocional)
6. tempo jurídico 7. tempo verbal 8. tempo mítico 9. tempo oníri-
co 10. tempo musical 11. tempo lógico 12. tempo lúdico (dos jogos
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ARGOS CAMPOS RIBEIRO SIMÕES
– duração e repartição). 13. tempo das fábulas e das piadas. 14. tem-
po retórico (convencimento). O tempo da fala para gerar a persua-
são. 15. tempo artístico (estético). Quando observamos o movimen-
to no objeto artístico. 16. tempo como movimento físico (o tempo
da bola – coincidir a trajetória com a eficácia da ação, da conduta;
“tempo de luta” (ajuste da distância para a conexão de golpes). 17.
tempo de luta (ajuste da distância para a conexão de golpes). 18.
tempo como espaço, intervalo (unidirecionalidade do tempo, em
face da multidirecionalidade do espaço; lateralidade do tempo,
diante da multilateralidade do espaço; o espaço é, no mínimo, bila-
teral. 19. tempo como frequência, ritmo, cadência. 20. tempo como
limite (termo inicial e termo final). 21. tempo como vez ou oportu-
nidade. 22. tempo vital, no sentido de “tempo vivo”, duração real,
la durée réele. 23. tempo no sentido de ganho ou desperdício, ganho
ou perda de trabalho, de energia, de dinheiro. 24. tempo como or-
dem de indagação, como domínio, como mundo (ordem espiritual e
ordem material ou temporal).25. tempo como fato (experiência).26.
tempo como escola, movimento, época.27. tempo como agenda,
hora (fulano não tem hora, não tem tempo).28. tempo como inter-
rupção (por favor, dê-me um tempo). 29. tempo como “hora-aula”,
“hora de consulta”. 30. tempo como “instante”, “momento”, “triz”
(O mundo foi criado num triz), 31. tempo astronômico, no sentido
das marcações temporais construídas com base no movimento dos
corpos celestes (o dia, associado à rotação da Terra sobre seu pró-
prio eixo; o mês, com a duração aproximada do ciclo das fases da
lua; o ano, com a rotação da Terra em torno do Sol).
Buscamos conceitualmente o tempo jurídico. Comece-
mos com os filósofos.
3.2 O período helenístico
Alerta que nos faz Fernando Rey Puente
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é de que, nessa in-
vestigação, devemos estar conscientes de não transferir às épocas
87. PUENTE, F. R. Ensaios sobre o tempo na Filosofia Antiga. São Paulo: Annablu-
me Editores, 2010, p. 21.
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A FUNÇÃO RELACIONAL DO TEMPO NAS HIPÓTESES
DE DECADÊNCIA E DE PRESCRIÇÃO
anteriores analisadas “[...] valores e conceitos que lhes sejam estra-
nhos e, algumas vezes, até mesmo essencialmente antagônicos.”.
Conceitos que para nós seriam tidos como de caráter universal,
como “[...] espaço, tempo e número [...] devem ser contextualiza-
dos historicamente, evitando, sempre posições extremadas, nos
acautelando das [...] metáforas oriundas do imaginário grego [...]”.
Afirma, ainda, o autor88 que os gregos no período hele-
nístico possuíam diversas concepções sobre o tempo, consi-
derando “parcial e incompleta” a pressuposição de que os
gregos tinham uma visão exclusivamente cíclica do tempo, e
que os hebreus a tinham como absolutamente linear. Todos os
dois povos possuíam ambas as visões.
A referência cíclica teria origem, segundo Fernando Rey
Puente89, na observação na natureza do “[...] ciclo periódico
das estações, bem como a observação dos movimentos coti-
dianos, mensais e anuais de alguns corpos celestes e, no âm-
bito da cultura, o retorno anual das festas religiosas.”.
Por sua vez, ainda segundo Puente90, a consideração tem-
poral linear originou-se da observação sobre a irrevogabili-
dade do caráter “[...] das ações passadas, a transitoriedade da
juventude, a chegada dolorida da senectude e a proximidade
irremediável da morte.”. Tanto que, ainda destaca, o substan-
tivo períodos em grego teria tanto o sentido de “[...] movimen-
to circular realizado no espaço quanto o de um ciclo repetido
no tempo [...], daí os gregos denotarem sua significação tanto
para o movimento cíclico dos astros como para datas festivas
gregas, quer sejam jogos ou festivais.
Os antigos gregos, ainda conforme Fernando Rey Puen-
te91, acreditavam que os componentes dias e horas eram ca-
88. PUENTE, F. R. Ensaios sobre o tempo na Filosofia Antiga. São Paulo: Annablu-
me Editores, 2010, p. 22.
89. Ibidem, p. 23.
90. Ibidem, p. 23.
91. Ibidem, p. 25.

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