Filmes como forças

AutorOs Organizadores
Páginas3-4
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n24p3
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|boletim de pesquisa ne lic, florianópolis, v. 15, n. 24, p. 3-4, 2015|
FILMES COMO FORÇAS
Se a política é uma estética, se a comunidade é o espetáculo de si, não
cabe mais demandar à arte que seja o suporte de um discurso de resistência
ou que seja, ao contrário, autônoma em relação a toda questão sobre o co-
mum, centrada em torno do seu “próprio”. Mata-se a arte em ambos os casos.
Porque ela é autoimune, não há um próprio da arte assim como não há uma
função prévia a ela. A arte é relação, é jogo de forças, choque de tempos, ubi-
quidade. A operação artística, estética, não está na obra, mas nas tensões que
a perpassam. Isso é o que pode a arte, sua vontade de chance ou de possibili-
dade: configurar-se como nova força, exigindo um rearranjo daquilo que se
cristaliza, seus lugares, seus temas, sua temporalidade, seus sujeitos. O que
fica evidente, nas manifestações artísticas há mais de um século, é a capaci-
dade que a mesma obra tem de ser apropriada inclusive por discursos opos-
tos. Cabe ao crítico fazer a obra jogar no campo da política, identificar forças,
estabelecer relações entre o que é visto, o que pode ser dito, quem pode ver
ou dizer, que tempos nela coincidem.
O que os filmes podem, então, é colocar corpos em cena, torná-los vi-
veis, fazê-los agir, tensionar a relação entre imagem e palavra, entrecruzar o
que é visto com o que é dito. Não há, então, filmes de arte, filmes políticos,
filmes de entretenimento. Há sim um campo de forças em cada filme singular
que trabalha suas distâncias e encontros com a literatura, o teatro, a política,
a história, a arte. As leituras, como aquelas escolhidas para este número do
Boletim, é que podem identificar essas forças e fazê-las jogar em campos es-
pecíficos, como os da política. O próprio cinema nos diz, afirma Jacques Ran-
cière, em sua dialética irresolúvel, suspensa, própria das manifestações artísti-
cas: “Eis os limites do que eu posso. O resto é com vocês.”
O presente número dedicado aos filmes vistos como forças de ordem polí-
tica elege, portanto, entre “vocês”, uma série de sete intervenções críticas
que começam pelo México a violência social segundo o olhar excêntrico do

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