Aproximações de acadêmicas do campo da saúde coletiva ao feminismo e às temáticas da saúde sexual e da saúde reprodutiva

AutorSimone Andrade Teixeira - Sílvia Lúcia Ferreira
CargoDoutora/Professora do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Programa de Ensino de Graduação e de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFBA. Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo. NEIM/FFCH/UFBA. Pesquisadora do GEM- Grupo de Estudos sobre ...
Páginas91-112
Aproximações de acadêmicas do campo da saúde coletiva ao feminismo e às
temáticas da saúde sexual e da saúde reprodutiva 91
APROXIMAÇÕES DE ACADÊMICAS DO CAMPO DA
SAÚDE COLETIVA AO FEMINISMO E ÀS TEMÁTICAS DA
SAÚDE SEXUAL E DA SAÚDE REPRODUTIVA
Simone Andrade Teixeira*
Silvia Lúcia Ferreira**
Resumo: Os estudos e discursos das feministas acadêmicas da área da saúde coletiva
contribuíram e vêm contribuindo para a elaboração, planejamento, implementação,
execução e avaliação de políticas públicas para as mulheres, especialmente no campo
da saúde da mulher, em um contexto de cidadania sexual e reprodutiva. Logo, agregar
novas pessoas ao pensamento feminista é estratégico para a promoção da saúde da
mulher e como incentivo ao reconhecimento dos Direitos Sexuais e dos Direitos
Reprodutivos. Esta pesquisa objetivou identificar as formas de aproximação com o
feminismo e com a temática da saúde sexual e da saúde reprodutiva com perspectiva
feminista, por parte de feministas acadêmicas da área da saúde coletiva. Para tal,
foram realizadas entrevistas cujos resultados foram analisados pelo método da análise
de conteúdo baseada em Bardin. Dentre os resultados, destacam-se: o espaço
universitário foi o local por excelência das aproximações das entrevistadas com o
pensamento feminista; a principal forma de aproximação com o feminismo se deu
através de contatos pessoais com feministas; a elaboração e implementação do PAISM
terminou por se constituir em uma estratégia de divulgação do pensamento feminista
por todo o país; o interesse das entrevistadas acerca da temática da sexualidade, da
reprodução e da saúde integral da mulher atuou como elemento catalisador da
aproximação com o ideário feminista; e, ainda que a retroalimentação entre o movimento
feminista e o campo da saúde coletiva se desdobrou em um novo campo de estudos
científicos denominado “gênero, sexualidade e saúde reprodutiva”.
Palavras-chave: Feminismo; Saúde Coletiva; Saúde da Mulher.
* Doutora/Professora do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia - UESB. E-mail: mone.enf@hotmail.com
** Programa de Ensino de Graduação e de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFBA.
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo.
NEIM/FFCH/UFBA. Pesquisadora do GEM- Grupo de Estudos sobre Saúde da Mulher e do NEIM
- Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher. E-mail: silvialf10@hotmail.com
92 Revista Esboços, Florianópolis, v. 17, n. 24, p. 91-112, dez. 2010
Abstract: The studies and feminist discourses of the academic field of public health
have contributed and are contributing to the preparation, planning, implementation,
execution and evaluation of public policies for women, especially in the field of women’s
health, in a context of sexual and reproductive citizenship. Therefore, adding new
people to feminist thinking is strategic in promoting women’s health and encourage the
recognition of Sexual and Reproductive Rights. This research aimed at identifying
ways of approaching feminism and with the theme of sexual and reproductive health
with a feminist perspective by academic feminists in the area of public health. To this
end, interviews were conducted and the results were analyzed using content analysis
based on Bardin. Among the results, include: The university area was the excellence
place of the approximations of the respondents with feminist thought, the main avenue
of approach to feminism was through personal contacts with feminists, the elaboration
and implementation of PAISM turned out constitute a strategy for dissemination of
feminist thought throughout the country, the interest of the interviewees on the subject
of sexuality, reproduction and overall health of the woman acted as a catalyst for
rapprochement with feminist ideas, the feedback between the feminist movement and
public health field produced a new scientific field called “gender, sexuality and
reproductive health”.
Key-words: Feminism; Public Health; Women’s Health.
Foi sob a influência do pensamento feminista acerca do direito das
mulheres à saúde que a sexualidade se constituiu objeto de estudos no campo
das Ciências Sociais e da Saúde.1 A articulação ocorrida entre o movimento
feminista e o movimento da reforma sanitária brasileira2 fez incorporar as idéias
da saúde sexual e da saúde reprodutiva à premissa original da saúde como um
direito dos cidadãos e dever do Estado. Assim, a saúde sexual e a saúde
reprodutiva, inseridas em um ampliado conceito de saúde, passaram a ser
reivindicadas pelos citados movimentos como um dever do Estado e um direito
de cidadania.
Também podemos atribuir aos movimentos, práticas e teorias feministas
das décadas de 1970-80 a conformação de um novo campo científico na área
da saúde, que passou a ser denominado como o campo da saúde da mulher
que, na ocasião, reclamava a integralidade da atenção e a superação da ótica
das políticas verticalizadas voltadas exclusivamente ao binômio mãe-filho(a).
Para Maria Betânia Ávila3, esse campo privilegiou a discussão sobre a
autodeterminação sexual e reprodutiva da mulher, questionou o poder e o saber
médico, incorporou o discurso das mulheres sobre suas experiências corporais
na produção do conhecimento, criticou a precária situação dos serviços de
saúde e reclamou as obrigações do Estado tanto na promoção da saúde quanto
no enfrentamento da violência contra as mulheres.

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