Familiarity bias in asset allocation of Brazilian investors/Vies de familiaridade na alocacao de ativos de investidores brasileiros.

AutorFerman, Bruno
CargoEnsayo
  1. Introducao

    Muitos investidores tem o seu nivel de diversificacao subotimo, conforme sugerido por Markowitz (1952), principalmente em decorrencia de vieses comportamentais, como o excesso de confianca ou pela tendencia de concentrar seu portfolio em investimentos que lhes sao familiares (Hwang and Satchell, 2013). Para este comportamento, dase o nome de home bias, ou vies de familiaridade. O termo home bias foi documentado pela primeira vez por French and Poterba (1991), que comprovaram a preferencia dos investidores por acoes domesticas que de outros paises. Usando dados dos EUA, Japao, Reino Unido, Franca e Alemanha, mostraram que os investidores detem uma parcela desproporcional de ativos domesticos em suas carteiras de acoes quando comparados a ativos estrangeiros.

    Coval and Moskowitz (1999) mostram que o home bias nao se limita apenas a questao de nacionalidade, mas que ha ainda uma preferencia por investir em ativos domesticos mais proximos tambem. Especificamente, eles mostraram que os gestores de investimento norteamericanos apresentam uma forte preferencia por empresas locais em seus portfolios. Ja Benartzi (2001) e Liang and Weisbenner (2002) analisaram o home bias dentro das empresas, com a concentracao de investimentos dos funcionarios em acoes da propria empresa onde trabalham.

    Esta evidencia de home bias em que funcionarios investem em acoes da propria empresa em que trabalham e particularmente relevante, dado que implica em uma dupla exposicao de sua riqueza (salario e investimentos) em uma unica fonte, agindo de maneira oposta a teoria de gestao de riscos. Uma serie de eventos recentes mostram uma alta correlacao entre a queda de valor de mercado de empresas e demissoes. Por exemplo, no caso da Enron, em que a acao valia $90,75 no pico de cotacao em agosto de 2000, seu valor caiu para $0,67 em janeiro de 2002, representando uma queda de 94% no preco da acao. O fundo de pensao dos funcionarios da empresa, com total de ativos de $2,1 bilhoes antes do declinio, possuia mais de 50% alocados em acaes da propria empresa (1). Outro caso semelhante ocorreu com a Kodak, em que a acao partiu de aproximadamente $25 em fevereiro de 2007 chegando a $0,38 em fevereiro de 2012. Neste caso, tambem havia muita participacao de empregados como acionistas da empresa. Tanto Enron como Kodak, com a falencia das empresas, provocaram nao apenas a perda dos empregos de seus funcionarios como tambem a perda do patrimonio investido em acaes das companhias. Mais recentemente, no Brasil, as acoes do Banco BTG Pactual sofreram uma queda acima de 33% apos a prisao do seu maior socio, ao mesmo tempo que 305 funcionarios (18% do total de empregados) foram demitidos (2).

    O presente artigo se destina a verificar a existencia do vies de familiaridade no portfolio de acoes de investidores brasileiros. Essa analise baseou-se nas acoes que estes investidores possuiam em custadia em junho de 2015 junto a uma corretora de valores mobiliarios brasileira, com o intuito de observar se estes investem ou naao nas empresas em que trabalham, e em que proporcaes em relacao aos demais investidores. Nosso estudo foi realizado com uma amostra extraida desta corretora, representando uma fotografia momentanea da custadia dos investidores analisados, sendo estes dados reais da carteira de investimento. Resultados apontam para a existencia de vies de familiaridade na tomada de decisao de alocacao de recursos, sendo que os funcionarios investem, em termos absolutos e relativos, mais nas acaes das empresas para as quais trabalham. E importante destacar que este resultado nao e decorrente da possibilidade de os investidores receberem acaes de seus empregadores como remuneracao.

    O restante deste artigo esta organizado da seguinte maneira: a Secao 2 apresenta uma panorama de financas comportamentais e o vies de familiaridade, a Secao 3 descreve a metodologia empregada nesta pesquisa, a Secao 4 apresenta e discute os resultados encontrados e a Secao 5 conclui o artigo.

  2. Revisao de Literatura

    A versao classica internacional do modelo de precificacao de ativos de capital com base na teoria de carteiras, desenvolvido por Sharpe (1964) e Lintner (1965), preve que para maximizar retornos ajustados ao risco, os investidores devem manter a carteira de ativos do mercado mundial. Existem evidencias, no entanto, de que os portfolios domesticos sao fortemente preferidos nas decisoes de alocacao dos investidores (Cooper and Kaplanis, 1994, Kang and Stulz, 1997, French and Poterba, 1991), e o termo usado para descrever este fenomeno e home bias. Por um lado, argumenta-se que tal decisao seja racional por parte dos investidores, uma vez que consigam maximizar seus retornos por conta de uma melhor capacidade de analise das empresas de seu pais ou por conta de informacaes privilegiadas destas. Mas, por outro lado, tambaem sugere que os investidores podem ser irracionais quando estes evitam os beneficios potenciais da diversificacao.

    Goetzmann and Kumar (2008) concluiram que a grande maioria dos investidores possui portfolios subdiversificados e que os investidores adotam uma estrategia "ingenua" de diversificacao, mesmo estando cientes dos beneficios desta. Alem disso, os investidores mantem portfalios subdiversificados, tambem devido a uma sensacao ilusoria de controle que os torna excessivamente confiantes. Esta ilusao de controle tambem foi descrita por Merton (1987) que sugere que, devido ao custo de pesquisa e monitoramento, os investidores podem limitar o namero de acoes em seus portfalios.

    Ja o excesso de confianca afeta a decisao de investimento com a tendencia de se investir em um pequeno grupo de acoes, que o investidor considera familiar ou confiavel, embora nao esteja necessariamente informado sobre elas (Ivkovic et al., 2008). Este comportamento, segundo Hwang and Satchell (2013), teria um enorme impacto sobre a alocacao de ativos ideal. Manter poucas acaes em um portfolio pode expor o investidor a um risco idiossincratico desnecessario. Por outro lado, para manter muitos papeis, incorrem-se em custos de transacao e de oportunidade para acompanhar uma quantidade significativa de empresas. Consequentemente, isto aumentaria as chances de a carteira apresentar um desempenho inferior. Assim, investidores preocupados com um risco extremo podem conseguir os beneficios da diversificacao com um numero relativamente pequeno de acoes (Alexeev and Tapon, 2012).

    Alem disso, em contraponto a irracionalidade do home bias, o vies da familiaridade faz com que os individuos prefiram apostar num contexto em que se sentem mais bem informados, ou competentes, ajudando assim a explicar o porque dos investidores estarem dispostos a renunciar a vantagem de diversificacao e se concentrar em um numero pequeno de empresas com as quais estariam presumivelmente familiarizados (Morse and Shive, 2011, Heath and Tversky, 1991). Retornos positivos desta estratuegia de familiaridade foram encontrados por Coval and...

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