Falácias da democracia

AutorWladimir Novaes Martinez
Ocupação do AutorAdvogado especialista em Direito Previdenciário
Páginas98-104

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"Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém; e ninguém for tão pobre que tenha que se vender a alguém", airmou Jean Jacques Rosseau.

Diante do Estado totalitário, monárquico e aristocrático, por uma simples comparação com esses três regimes de governo, parta-se de um pressuposto de que não existe ainda nada melhor que a demo-cracia. Principalmente quando for potente, efetiva e não for disfarçada com Estado organizado, uma economia equilibrada, justiça social e certo povo politizado e uma população pequena.

Não se julgue que a democracia inspira cenários perfeitos, e que ela propicia o poder lorescer de modo adequado.

Não se pode imaginá-la plenamente no conceito de uma propriedade privada com uma ilimitada competitividade.

Ela não é para ser elogiada o tempo todo, mas observada todo o tempo, porque se altera como as nuvens.

A democracia é superior à monarquia em razão da rotatividade do poder e de representar o povo (quando existente e eicaz). Se a nação tem um rei bom, que se perpetue no poder, mas isso não é tão frequente e, geralmente, o contrário é que sucede.

No comum dos casos há nítida preferência pela sucessividade dos governantes, imaginando-se que o sucessor não cometa os erros do anterior.

Ela supera a aristocracia; o poder proviria mais intensamente do povo e não seria dominado, disputado e adotado por uma minoria. Diz-se que proviria, porque essa delegação é tão luída e tão distanciada que não se pode airmar que seja uma verdade.

Usualmente, com exceções, os eleitores não têm como cassar a procuração que passaram aos eleitos. O impeachment é longo processo político, jurídico e ritualístico, elaborado por interessados em complexa operação que os presidencialistas pensam distanciar-se do parlamentarismo. Mas, só pensam...

Não há, agora, como comparar a democracia com o totalitarismo.

Há quem julgue que a democracia é a defesa do governo do Estado. Cabe ao governo exercitar certos princípios democráticos e defendê-los dos ataques antidemocráticos. Ela representa ordem e isso não interessa a toda gente.

Na desordem são praticados os ilícitos que passam despercebidos. Pior que uma desordem militante são os arautos da anarquia alegarem estarem defendendo a democracia. Carece tomar cuidado com aqueles que a ela se refere todo o tempo. Não é para ser elogiada, mas praticada por todos, sem quaisquer que sejam as exceções.

Dos três regimes possíveis, o cidadão tudo deve fazer de tudo para aperfeiçoar a democracia, mas não pressupor que ela seja perfeita. Até porque quando nasceu referia-se a um Estado mais organizado, uma população pequena e sem conhecer os imensos problemas da atualidade.

Um dos graves equívocos usuais é afirmar que derivando o poder do povo alguém desse mesmo povo necessariamente deva empreendê-lo. Se pretender sucesso numa aventura tão grande, o esforço deve ser exercitado por titular adequado e só por coincidência ele emergirá das camadas que são mais populares.

Não se trata de discriminação, mas o ajuste técnico do homem apropriado à função.

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Ninguém consulta um engenheiro quando está com dor de dentes. Nesse caso, dirige-se a um dentista.

Não se julgue, ipso facto, que o líder tenha de provir dos meios políticos, corporativos ou religiosos. O ideal é gestor com experiência no serviço público.

Ser comandante obviamente implica em não pretender o enriquecimento pessoal, nem desfrutar do poder ao seu alvedrio, ajudar parentes e amigos; esse não é o seu papel.

Um formidável equívoco, proclamado como dogma: a cada homem compete um voto, nivela as pessoas (exceto se elas forem iguais, o que é difícil de acontecer). Essa concepção é defendida por quem pretende aproveitar-se da inexperiência das massas populares despreparadas para votar.

A democracia é adotada por falta de opções à mão; nem por isso interessa ser substituída. Os ideólogos, pensadores e ilósofos úteis inocentes, porque enxergam os seus valores e a defendem ardorosamente; assim, acompanham aqueles que a usam como uma bandeira para a prática dos seus impensados desatinos.

Repita-se esta ladainha algumas vezes: os delitos cometidos em nome da democracia são menores do que o número de ocasiões em que é indevidamente invocada.

Um povo que seja despolitizado colabora intensamente para que o cenário consumador do engano se realize e se perpetue, especialmente durante as eleições.

Pessoas criticam os candidatos em todas as conversas privadas e, ao votar, brigam pelos seus candidatos, sem ter uma consciência nítida de que caíram num logro lúdico e institucional.

Existem momentos históricos ou nações que não poderiam adotar a democracia. Os Estados Unidos defendem ou impõem geopoliticamente (sic) esse regime para melhorar as suas relações comerciais, obter um mercado substancioso. Na competição econômica mundial, não interessa às grandes democracias o aparecimento de outra.

Como candidato, hoje em dia é escolhido um homem apresentável, cantor de sucesso, artista de cinema ou da televisão, atleta conhecido ou ídolo popular, não indicado para a superior função de magistrado, que per se, reclama um técnico em administração pública.

Domínio dos espertos

Repete-se. Segundo uma voz corrente entre cínicos, o mundo se dividiria entre os espertos e os otários, convindo a todos icar no primeiro grupo e aproveitar-se dos beócios. Moral de ladravazes consentida como própria conclusão do sistema, tem servido a muitos vitoriosos que julgam que a ladinice deva ser a suprema...

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